terça-feira, 7 de junho de 2016

CHEGA DE FALAR EM ESTUPRO

João Eichbaum

Engrossando as diatribes jornalísticas contra o estupro de que teria sido vítima uma jovem no Rio de Janeiro, a revista Veja desta semana estampa foto da manifestação realizada na Avenida Paulista, mostrando o cartaz erguido por uma mulher: “Ensine seu filho a respeitar”.

“Na vertigem de uma cultura a um só tempo sexualizada e machista, é imprescindível que se difunda a noção exata do que significa a inviolabilidade do corpo feminino. Sem isso, nenhum progresso será sólido, nenhum avanço será perene” – comenta a revista.

A impressão que se tem, a partir desse texto, é de que vivemos num país onde tudo está em ordem, perfeito e acabado, com um povo feliz, onde não há violência e onde a educação só claudica nesse item: não respeita o corpo feminino.

Parece que os editores não mediram o tamanho do mico que pagaram, ao entrar nessa lambança de comadres. Num país com escolas caindo aos pedaços, professores tratados como esmoleres, a mendigar salários dignos, gente passando fome, sem trabalho, corredores de hospitais servindo de depósito para doentes, enquanto ladrões, assaltantes e pivetes agem escancaradamente – para dizer o mínimo – há quem venha reclamar da falta de respeito para com o “corpo feminino”?

Para que haja um corpo é necessário que haja vida. Antes de mais nada, os brasileiros necessitam de segurança para suas vidas. Todo mundo sabe que o estupro é produto de um clima de violência generalizada. O caso do Rio de Janeiro está sendo tratado como um caso particular quando, na verdade, é o retrato da miséria social duma nação sem paradigmas morais, desgovernada, onde há muito mais ladrões do que estupradores.

Não é no varejo que se combate o crime, a violência, a imoralidade. Quando uma sociedade inteira está submetida a toda a espécie de desmandos, que vão da violência à roubalheira institucionalizada, só os medíocres encontrarão solução para problemas tão gigantescos, num instrumento de que não dispomos: a educação.





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