CHEGA DE
FALAR EM ESTUPRO
João
Eichbaum
Engrossando
as diatribes jornalísticas contra o estupro de que teria sido vítima uma jovem
no Rio de Janeiro, a revista Veja desta semana estampa foto da manifestação realizada
na Avenida Paulista, mostrando o cartaz erguido por uma mulher: “Ensine seu
filho a respeitar”.
“Na
vertigem de uma cultura a um só tempo sexualizada e machista, é imprescindível
que se difunda a noção exata do que significa a inviolabilidade do corpo
feminino. Sem isso, nenhum progresso será sólido, nenhum avanço será perene” –
comenta a revista.
A impressão
que se tem, a partir desse texto, é de que vivemos num país onde tudo está em
ordem, perfeito e acabado, com um povo feliz, onde não há violência e onde a
educação só claudica nesse item: não respeita o corpo feminino.
Parece que
os editores não mediram o tamanho do mico que pagaram, ao entrar nessa lambança
de comadres. Num país com escolas caindo aos pedaços, professores tratados como
esmoleres, a mendigar salários dignos, gente passando fome, sem trabalho,
corredores de hospitais servindo de depósito para doentes, enquanto ladrões, assaltantes
e pivetes agem escancaradamente – para dizer o mínimo – há quem venha reclamar
da falta de respeito para com o “corpo feminino”?
Para que
haja um corpo é necessário que haja vida. Antes de mais nada, os brasileiros
necessitam de segurança para suas vidas. Todo mundo sabe que o estupro é
produto de um clima de violência generalizada. O caso do Rio de Janeiro está
sendo tratado como um caso particular quando, na verdade, é o retrato da miséria
social duma nação sem paradigmas morais, desgovernada, onde há muito mais
ladrões do que estupradores.
Não é no
varejo que se combate o crime, a violência, a imoralidade. Quando uma sociedade
inteira está submetida a toda a espécie de desmandos, que vão da violência à
roubalheira institucionalizada, só os medíocres encontrarão solução para
problemas tão gigantescos, num instrumento de que não dispomos: a educação.
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