sexta-feira, 24 de junho de 2016

QUEM MENTE MAIS?

João Eichbaum

Esses seres fascinantes e esquisitos, que são as criaturas humanas, se deixam seduzir facilmente pelas mentiras: as das religiões, as do futebol, as da política. Só uma grande mentira poderia explicar, por exemplo, essa evolução que vai de um estábulo fedendo a pum de burro, em Belém, ao luxo do Vaticano, em Roma.

Em quem você acredita mais: naquele jogador que ontem beijava a camiseta do Inter, era o seu herói, e hoje beija a camiseta do Grêmio e é o maior vilão do planeta? Naquele político que, nos tempos de antigamente, era da Arena e hoje apóia o PT? Ou naquele que ontem pegava em armas, para lutar pela democracia e hoje, na democracia, exalta a ditadura de Cuba, da Venezuela, e chama de golpe o instrumento adotado por uma Constituição democrática para expulsar maus governantes?

Como mãe da política, a mentira não permite que candidato algum revele suas verdadeiras intenções. Nem as sujas, nem as limpas. Se o sujeito, num comício, abrir a boca para dizer que, a fim de sanar as dívidas do Estado, terá que diminuir o número de funcionários, terá que não só atrasar o pagamento como congelar o valor dos salários, deu pra ele, tchau, pode se despedir. A mãe da política não permitirá que sua filha o receba em seu seio, porque o candidato está comprometido demais com a verdade.

Só se elege o candidato que promete mundos e fundos: que vai aumentar salários, que vai dar emprego para todo mundo, que todo mundo vai ter saúde, segurança e educação, e quem não quiser trabalhar não se preocupe, ninguém passará fome. Se Deus não providenciar, o Estado providenciará, casa, cama, comida, mulher ou marido, conforme o gosto e o jeito de dar, porque, como disse São Francisco, é dando que se recebe.

Sendo assim, dominada pela mentira, quem merece menos crédito na política: o delator ou o delatado? Estará o delator dizendo a verdade, se ele entrega o parceiro de sacanagem só porque quer alguma coisa em troca? Como poderá o delatado dizer a verdade, se ele foi criado na escola da mentira?

Para quem sabe que a cúpula do Judiciário é gerada no útero da política, fica difícil fugir dessa indagação: haverá, neste país, algum togado com inteligência, argúcia e isenção suficientes para separar o joio do trigo, ou seja, o mentiroso maior do mentiroso menor, para que a mentira da justiça seja a menor possível?



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