sexta-feira, 3 de junho de 2016

O CRUCIFIXO

João Eichbaum

A mitologia cristã incorporou no seu elenco fictício o deus Javé, da mitologia judaica, e passou a chamá-lo simplesmente Deus. Aceitou-o com todos seus atributos originais, apresentando-o, sobretudo, como um deus justo. Em contraposição, destronou Themis que, para os gregos, tinha nas mãos a Justiça.

Themis atravessou o mundo e os séculos como a deusa da Justiça, e o Poder Judiciário brasileiro, não tendo cacife para rejeitá-la, a mantém ainda como figura decorativa.

Mas, só em segundo plano Themis é lembrada. No topo das reverências, dos incensos e das adorações está Jesus Cristo, seu concorrente cristão. Esse, pela mitologia cristã, é filho de Javé, o Deus justo dos judeus, e foi, segundo afirmam os crentes, o cara mais injustiçado do mundo: não fez nada e foi condenado a morrer pendurado numa cruz.

A mitologia cristã considerada como religião não resiste ao mais primário raciocínio. A partir disso, lógica nenhuma pode explicar a razão pela qual o crucifixo, símbolo dos cristãos, se encontra pendurado nas salas de juízos e tribunais de todo o Brasil.

A decisão do CNJ, Conselho Nacional de Justiça, (onde tem assento aquele ministro recentemente defenestrado por falta de ética, um tal de Luciano Silveira, ou coisa assim) que garantiu a permanência do Cristo pendurado nos tribunais brasileiros, mostra realmente o que é a Justiça neste país: o exercício do Poder, comandado pelos sentimentos.

 Se o cara foi injustiçado, não pode servir como paradigma de justiça. Nenhum injustiçado ama o Poder Judiciário. A menos que o CNJ queira exibir a face de uma justiça fictícia, que tem como mãe a mitologia: a Justiça de Javé, o deus que sacrificou seu filho, para aplacar as próprias rabugices.


Nenhum comentário: