O
CRUCIFIXO
João
Eichbaum
A
mitologia cristã incorporou no seu elenco fictício o deus Javé, da mitologia
judaica, e passou a chamá-lo simplesmente Deus. Aceitou-o com todos seus
atributos originais, apresentando-o, sobretudo, como um deus justo. Em contraposição,
destronou Themis que, para os gregos, tinha nas mãos a Justiça.
Themis
atravessou o mundo e os séculos como a deusa da Justiça, e o Poder Judiciário
brasileiro, não tendo cacife para rejeitá-la, a mantém ainda como figura
decorativa.
Mas, só em
segundo plano Themis é lembrada. No topo das reverências, dos incensos e das
adorações está Jesus Cristo, seu concorrente cristão. Esse, pela mitologia
cristã, é filho de Javé, o Deus justo dos judeus, e foi, segundo afirmam os
crentes, o cara mais injustiçado do mundo: não fez nada e foi condenado a
morrer pendurado numa cruz.
A
mitologia cristã considerada como religião não resiste ao mais primário
raciocínio. A partir disso, lógica nenhuma pode explicar a razão pela qual o
crucifixo, símbolo dos cristãos, se encontra pendurado nas salas de juízos e
tribunais de todo o Brasil.
A decisão
do CNJ, Conselho Nacional de Justiça, (onde tem assento aquele ministro
recentemente defenestrado por falta de ética, um tal de Luciano Silveira, ou coisa assim) que
garantiu a permanência do Cristo pendurado nos tribunais brasileiros, mostra
realmente o que é a Justiça neste país: o exercício do Poder, comandado pelos
sentimentos.
Se o cara foi injustiçado, não pode servir
como paradigma de justiça. Nenhum injustiçado ama o Poder Judiciário. A menos
que o CNJ queira exibir a face de uma justiça fictícia, que tem como mãe a
mitologia: a Justiça de Javé, o deus que sacrificou seu filho, para aplacar as
próprias rabugices.
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