O JAPONÊS DA FEDERAL
João Eichbaum
A ninguém ela
encara com um pudor de noiva. É fraca diante de poucos e tirânica para muitos;
é lenta e pastosa como a lesma para alguns, e cheia de empáfia como o pavão,
para outros. Assim é vista a Justiça, essa engrenagem de rosto multifário, que
provocou o desapontamento de milhões de brasileiros, ao condenar Newton
Ishi, o japonês da Federal.
Tido como
projeção do ego de quem tem fome e sede de justiça, ao conduzir poderosos para
a cadeia, Newton se tornou foco de admiração em todo o país. Motivo de
inspiração para artistas, o japonês da Federal foi um ídolo criado pelo povo.
Um ídolo
muito maior do que a própria Justiça – diga-se de passagem. Para o povo ele só
tem uma face, uma só postura. Não se dobra, mas também não se empina, não se
agacha diante dos poderosos, nem se infla de arrogância, ao levar alguém para o
cárcere: é como o povo gostaria que fosse a Justiça.
Acusados
de estrangular o veio através qual jorra o dinheiro para o caramanchão do
poder, num eufemismo chamado “impostos”, Newton e dezenas de outros funcionários
foram investigados na Operação Sucuri. O processo se transformou num desses
emaranhados, onde o sentido de justiça se perde. Entre carimbos, vistas,
prazos, diligências, precatórias, testemunhas, peritos, audiências, férias,
licenças para casar, maternidade e paternidade de juízas e juízes, o tempo se
torna senhor de tudo e apaga a direção única do caminho da verdade.
A tudo
isso juntando-se despachos, pareceres e decisões de assessores, auxiliares,
secretários e estagiários, tem-se o quadro sintetizado pela Federação Nacional
dos Policiais Federais (Fenapef): “o primeiro processo
contra ele (Newton Ishi) fora anulado integralmente para posteriormente ser
refeito. Há ainda recursos pedindo anulação de todo o feito. Outros agentes
federais envolvidos na Operação Sucuri já tiveram seus processos anulados e
outros foram absolvidos por falta de provas".
Isso
quer dizer: quando enredada nos tentáculos da lei e da jurisprudência, a
Justiça se torna também aleatória, entregando à própria sorte quem dela depende.
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