sexta-feira, 10 de junho de 2016

O JAPONÊS DA FEDERAL

João Eichbaum

A ninguém ela encara com um pudor de noiva. É fraca diante de poucos e tirânica para muitos; é lenta e pastosa como a lesma para alguns, e cheia de empáfia como o pavão, para outros. Assim é vista a Justiça, essa engrenagem de rosto multifário, que provocou o desapontamento de milhões de brasileiros, ao condenar Newton Ishi, o japonês da Federal.

Tido como projeção do ego de quem tem fome e sede de justiça, ao conduzir poderosos para a cadeia, Newton se tornou foco de admiração em todo o país. Motivo de inspiração para artistas, o japonês da Federal foi um ídolo criado pelo povo.

Um ídolo muito maior do que a própria Justiça – diga-se de passagem. Para o povo ele só tem uma face, uma só postura. Não se dobra, mas também não se empina, não se agacha diante dos poderosos, nem se infla de arrogância, ao levar alguém para o cárcere: é como o povo gostaria que fosse a Justiça.

Acusados de estrangular o veio através qual jorra o dinheiro para o caramanchão do poder, num eufemismo chamado “impostos”, Newton e dezenas de outros funcionários foram investigados na Operação Sucuri. O processo se transformou num desses emaranhados, onde o sentido de justiça se perde. Entre carimbos, vistas, prazos, diligências, precatórias, testemunhas, peritos, audiências, férias, licenças para casar, maternidade e paternidade de juízas e juízes, o tempo se torna senhor de tudo e apaga a direção única do caminho da verdade.

A tudo isso juntando-se despachos, pareceres e decisões de assessores, auxiliares, secretários e estagiários, tem-se o quadro sintetizado pela Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef): “o primeiro processo contra ele (Newton Ishi) fora anulado integralmente para posteriormente ser refeito. Há ainda recursos pedindo anulação de todo o feito. Outros agentes federais envolvidos na Operação Sucuri já tiveram seus processos anulados e outros foram absolvidos por falta de provas".


Isso quer dizer: quando enredada nos tentáculos da lei e da jurisprudência, a Justiça se torna também aleatória, entregando à própria sorte quem dela depende. 

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