terça-feira, 21 de junho de 2016

E NO SUBJUNTIVO NÃO VAI NADA, DOUTOR?

João Eichbaum

Michel Temer, o homem que, no momento, está a presidir a “pátria educadora”, ostenta no currículo o grau de “doutor” em Direito Público, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Seu primeiro discurso, pontilhado de mesóclises, arrancou embasbacadas interjeições de jornalistas desavisados.

“Finalmente - festejaram os analfabetos funcionais, intoxicados pelo linguajar rasteiro do Lula e pelos hieróglifos orais da Dilma – temos um presidente que fala corretamente”.

Se tivessem lido este blog e a coluna do professor  Pasquale Cipro Neto, os entusiastas da cultura do Temer não seriam tantos. Em sua primeira manifestação, o presidente interino já havia se enroscado na construção de uma frase, ao empregar, sem sentido algum, o pronome “outrem”.

Semana passada, jornais estamparam como chamada de capa a seguinte frase de Sua Excelência: “alguém que teria cometido aquele delito irresponsável não teria condições de presidir o país”. Teria...não teria.

Rui Barbosa não era doutor. Getúlio Vargas não era doutor. Mas nenhum deles, como tribunos, abusaria dos ouvidos alheios, abdicando do subjuntivo, como paradigma, para a expressão do eventual e do imaginário. Nas orações condicionais de conteúdo hipotético, o emprego do subjuntivo, mais do que simples regra gramatical, é uma imposição da harmonia, da musicalidade, do vocábulo escorreito: “alguém que tivesse cometido aquele delito... não teria condições de presidir o país”.

Mas, não é apenas a gramática que dificulta as orações do doutor Temer. Ele também se atrapalha no arranjo do discurso, empregando adjetivo inadequado e mostrando pobreza de vocabulário com a repetição de palavras que acabam ressaltando a dissonância no texto.

Delito irresponsável? Mas alguém conhece algum delito responsável? Ora, ora... Não é qualquer substantivo que requer adjetivo. Há substantivos que, dizendo tudo, dispensam o penduricalho da qualificação. Seja qual for o delito, seu autor (e não o delito) será tido como irresponsável.

Para que os alunos desta “pátria educadora” não sejam levados a praticar asneiras na arte de escrever, vamos então corrigir a frase do doutor Temer, usando regras gramaticais e normas de estilo que lhe emprestem harmonia: “não teria condições de presidir o país quem houvesse cometido tal delito”.




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