E
NO SUBJUNTIVO NÃO VAI NADA, DOUTOR?
João
Eichbaum
Michel
Temer, o homem que, no momento, está a presidir a “pátria educadora”, ostenta
no currículo o grau de “doutor” em Direito Público, pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo. Seu primeiro discurso, pontilhado de mesóclises, arrancou
embasbacadas interjeições de jornalistas desavisados.
“Finalmente
- festejaram os analfabetos funcionais, intoxicados pelo linguajar rasteiro do
Lula e pelos hieróglifos orais da Dilma – temos um presidente que fala
corretamente”.
Se
tivessem lido este blog e a coluna do professor
Pasquale Cipro Neto, os entusiastas da cultura do Temer não seriam
tantos. Em sua primeira manifestação, o presidente interino já havia se
enroscado na construção de uma frase, ao empregar, sem sentido algum, o pronome
“outrem”.
Semana
passada, jornais estamparam como chamada de capa a seguinte frase de Sua Excelência:
“alguém que teria cometido aquele delito irresponsável não teria condições de
presidir o país”. Teria...não teria.
Rui
Barbosa não era doutor. Getúlio Vargas não era doutor. Mas nenhum deles, como
tribunos, abusaria dos ouvidos alheios, abdicando do subjuntivo, como paradigma,
para a expressão do eventual e do imaginário. Nas orações condicionais de
conteúdo hipotético, o emprego do subjuntivo, mais do que simples regra
gramatical, é uma imposição da harmonia, da musicalidade, do vocábulo
escorreito: “alguém que tivesse cometido aquele delito... não teria condições
de presidir o país”.
Mas,
não é apenas a gramática que dificulta as orações do doutor Temer. Ele também
se atrapalha no arranjo do discurso, empregando adjetivo inadequado e mostrando
pobreza de vocabulário com a repetição de palavras que acabam ressaltando a
dissonância no texto.
Delito
irresponsável? Mas alguém conhece algum delito responsável? Ora, ora... Não é
qualquer substantivo que requer adjetivo. Há substantivos que, dizendo tudo,
dispensam o penduricalho da qualificação. Seja qual for o delito, seu autor (e
não o delito) será tido como irresponsável.
Para
que os alunos desta “pátria educadora” não sejam levados a praticar asneiras na
arte de escrever, vamos então corrigir a frase do doutor Temer, usando regras
gramaticais e normas de estilo que lhe emprestem harmonia: “não teria condições
de presidir o país quem houvesse cometido tal delito”.
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