MAMANDO
NO FORO
João
Eichbaum
A
torturante espera pelas audiências a que são submetidas as pessoas na Justiça
do Trabalho depois de passarem pela humilhação de provar que não são bandidos,
passa a léguas de distância duma coisa chamada respeito ao ser humano.
Plantados numa sala irrespirável, apinhada de gente, maltratando o traseiro em
bancos duros, lá ficam, durante horas, às vezes uma manhã ou uma tarde inteira,
reclamantes e testemunhas.
Para
distraí-los da mesmice, a Justiça do Trabalho lhes oferece a paisagem, nada
edificante, do vaivém incessante no corredor que leva para o WC e do
inquietante entra-e-sai dos advogados engravatados, com suas pastas de couro, se
abrigando no purgatório para eles reservado, chamado sala da OAB.
Assim
como reclamantes e testemunhas, também os advogados não habitam o andar de cima,
onde o êxtase do poder faz confundir dignidade com arrogância, achincalhe, com
função jurisdicional, e mau humor, com circunspecção. Meros figurantes da
pantomima jurídica, partes, advogados e testemunhas pertencem àquele estrato
social conhecido como o resto da humanidade.
Agora,
segundo noticia o jornalista Túlio Milman, que tudo sabe sobre o Poder
Judiciário, está sendo implantada no foro trabalhista de Porto Alegre, a “sala
de amamentação”. Não. Não é na maternidade. É no foro trabalhista, sim,
senhores, esse mesmo foro, onde as pessoas, vítimas da insensatez, ficam mofando
por horas infindas.
Ao
que se saiba, não é a Justiça do Trabalho que as mulheres procuram para, através
de pensões alimentícias e investigações de paternidade, transformar em cifrões seus
deslizes sexuais e amores perdidos. E pelo que transpira por aí, as
auxiliares e assessoras de juízes do trabalho, não necessitam abandonar seus rebentos
para prolatar sentenças. Elas têm o privilégio de remeter os julgados on line,
sem sair de casa.
Então,
fica assim: na falta de criatividade para acelerar o processo trabalhista e
tratar com respeito a todos os cidadãos, usa-se o dinheiro do contribuinte
para implantar o “mamódromo”. Desse
modo, as mulheres não mostram os peitos e os excelentíssimos ouvidos dos magistrados não
são maltratados pelo choro de crianças
famintas.
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