CRÔNICA FOFOQUEIRA
João Eichbaum
Ele chegou com uma cara de
cachorro escorraçado, sem graça, o rabo entre as pernas. Gordinho, de cabelos
ralos, cortados à escovinha, dava a impressão de um jovem que envelhecera antes
do tempo.
Não parecia ter vindo à caça, no
bar, onde moças desembarcavam dos carros aos magotes. Duas a duas, três a três,
quatro a quatro, algumas com frondosos mega hairs loiros, elas iam ocupando os
mais variados lugares.
Aquela era a hora da chegada dos
executivos, senhores com boa apresentação pessoal, engravatados que, entre
bolachas de chope, vinham discutir negócios ou relaxar das tensões provocadas
pela bolsa de valores. E as moças sabiam disso. Um olhar cruzado e um casamento
balançando poderiam resolveu seus futuros.
Mas, ele, o ar de cachorro
escorraçado, não tinha nada a ver com isso. Não era executivo, não tinha ido ao
bar para caçar solteironas desesperadas, nem tinha grana para desperdiçar com
drogas ou bebedeiras. Pediu uma coca-cola em lata, o olhar preso na confluência
das ruas.
Então ela chegou. Chegou com um
menino aparentando de três a quatro anos, que olhou para ele, como quem espera
um abraço. E recebeu o abraço, um abraço de pai, de homem para homem. Ela os
observou com indiferença e estendeu a mão, com tímida formalidade, ao homem da
cara de cachorro escorraçado.
Sentaram-se os três. Veio o
garçom e ouviu o pedido do menino: batata frita com ketchup. Ela nada pediu.
Ficou ali, com jeito de quem está num lugar que não é o seu. Só olhava para o
menino, objeto também dos olhares do gordinho.
Quando chegou a encomenda do
garoto, ela se levantou, sorriu para ele, beijou-o, e ignorou solenemente o
gordinho, com jeito de cachorro sem graça. Deu-lhe as costas, com um murmúrio
que parecia tchau e se foi.
Então o gordinho se dirigiu para
o menino, lhe pôs um braço em volta do ombro e disse: agora só ficamos nós
dois. Depois, chamou o garçom e lhe pediu qualquer coisa. Em seguida, a um
aceno do garçom, levantaram-se ele e o menino, se dirigindo para o interior do
bar.
Perdi-os de vista por alguns
instantes. Mas, seguindo com os olhos uma morena de cabelos extraordinariamente
negros, bunda saliente e pernas grossas, ela me levou até os dois. Tive tempo
de ver o menino lançando para ela um olhar de decepção, tipo “estraga
prazeres”, ao mesmo tempo em que pulava para o colo do pai. Aí tive certeza:
era a outra, que chegava.
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