DA FAMÍLIA SIMIESCA E SEUS
DERIVADOS
João Eichbaum
Ao invés dos benefícios
imediatos que umas boas coçadas no saco proporcionam, os filósofos, donos de
tempo bastante para jogar fora, se debruçam sobre coisas que não enchem a
barriga de ninguém. E lá ficam eles a perguntar: quem somos, donde viemos, para
onde vamos?
Ora, ora! Será que eles não
sabem que somos um saco de esterco; que viemos duma trepada, e que a única
coisa que não sabemos é se vamos para uma cova rasa, para debaixo de um túmulo
com anjinho em cima, ou se viramos carne torrada, antes de nos tornarmos cinza?
Não sabem eles que, primeiro,
fruto de um pega-pega de óvulos e espermatozoides, somos uma coisa chamada
feto, um troço espremido entre fezes e urina, que depois desabrocha para o
mundo, amarrado num cordão gelatinoso?
Sim, não passamos disso: um
invólucro de esterco e de outras matérias perecíveis, representante duma
espécie do gênero animal, que perdeu o rabo pelo caminho e adquiriu a
capacidade de pensar e falar. Nossa primordial necessidade é a sobrevivência e,
em função desse objetivo, colocamos o nosso ego em primeiro lugar.
Está aí a explicação para todas
as coisas ridículas a que se entregam os humanos. Sendo escravos do próprio
ego, para satisfazer-lhe os apetites esses animais não titubeiam em retornar à
origem de seu nada.
Que o diga o deputado Wladimir
Costa, escolhido pelo glorioso Estado do Pará, para ter assento na Câmara dos
Deputados. O referido semovente, que tem um currículo recheado com aptidões de
cantor, compositor, locutor de rádio, apresentador de TV e político, prova que,
no acima referido saco de esterco e matéria perecível, só a imaginação pode
encontrar dignidade.
Wladimir posou diante do país
inteiro com camiseta sem mangas, para exibir seu bom estado de conservação e
uma vistosa tatuagem com o nome do Temer. E, não contente com tamanho
despaupério, arrotou detalhes: a tatuagem custou doze mil reais, doeu, mas ele
suportou a dor, para honra e glória do presidente.
O desprezo para com o dinheiro
do contribuinte, que lhe garante a boa vida de deputado, e o acinte para com os
pobres que o elegeram, nada representam diante da enormidade de seu ego.
Tudo isso é abjeto,
nauseabundo. Mas, com qualquer dimensão, se encaixa dentro do vazio do ser
humano, onde há lugar para tudo, da patifaria à ingenuidade, da caretice à
imbecilidade. A votação da Câmara dos Deputados, livrando o Temer, mostrou
todos os modelos que viajam entre esses extremos. Que o desmintam, se puderem,
os filósofos.
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