DIA
DE ADVOGADO
João Eichbaum
I
De
tanto transitar sua silhueta de formiga - cintura fina e um bom sortimento de
popa - por corredores de foros, juízos e tribunais, a doutora Pergamicina de
Almeida teve sua natureza invadida por espermatozoides, que pegaram carona em
óvulos de ocasião.
E aí
angariou padecimentos que lhe devastavam as partes internas, tendo que devolver
no vaso sanitário o que tinha adquirido na cozinha. Por conta desses desaforos
da natureza, teve que fazer uma tal de ecografia transvaginal.
O caráter
daninho do procedimento expandiu estragos em vários pontos cardeais de suas
partes mais debaixo. E logo no 11 de
agosto, dia de audiência, em que tinha como prova uma testemunha bem falante e
benefício de Assistência Judiciária em ação de dano moral. Por conta dos
padecimentos, se passou da hora da audiência e, quando chegou no foro, sua
causa já havia dado baixa. A testemunha tinha mentido tanto, que foi parar no
xilindró.
II
E o
doutor Peralgino da Rosa diluiu meio frasco de perfume no sovaco e partes
adjacentes, meteu o corpanzil dentro da melhor fatiota, botou a gravata mais
chamativa, aquela vermelha com bolinhas, combinando com a cor do lenço do
paletó, e saiu assobiando.
Ficou
assim apurado para remeter sua pessoa à presença da juíza. Decorou todas as
razões que despejaria nas belas orelhas da meritíssima, uma loira química, com
cara de boneca inflável, de busto esculturado em hospital, mas com argolas de
ouro legítimo na ponta dos referidos aparelhos auriculares. E então?
Quem
o recebeu, na porta dos fundos do cartório, não foi a juíza de cabelos loiros e
peito siliconado. Foi um estagiário loiro e grandalhão, com cara de guri mijado,
informando que sua excelência não o poderia receber, mas ele seria todo ouvidos
para o doutor.
Aí o
doutor Peralgino aninhou nos ouvidos do marmanjo o seu discurso pobre e sem
graça, dizendo que tinha necessidade
urgente de um despacho favorável, porque sua legítima esposa havia levado para
debaixo dos lençóis os serviços do limpador de piscina.
Desde
o último carnaval, até o dia 11 de agosto, quando os advogados festejavam o seu
dia, o doutor, que não queria dividir roupa de cama com a sirigaita, acomodava
os chifres no sofá da sala, esperando despacho favorável à sua honra avariada.
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