terça-feira, 8 de agosto de 2017

MITOS E DEUSES
João Eichbaum

Por que será que o populacho se alimenta com o endeusamento de  seres humanos? Por quais razões esses deuses conseguem satisfazer aos mais infelizes com alguma emoção que possa parecer ou substituir a felicidade? E será esse arremedo de felicidade o máximo a que aspiram os infelizes, que nada melhor esperam da vida?

Jornais de todo mundo anunciaram a transferência do jogador de futebol Neymar, do Barcelona, para o Paris Saint-Germain (PSG), e do referido atleta fazem notícia, como se esse fato corriqueiro, sem a menor importância no dia a dia dos cidadãos, tivesse o condão de fazer alguma diferença no mundo ou na vida das pessoas.

É verdade que Neymar sabe se livrar dos adversários com a bola grudada nos pés, como sabe despachá-la com chutes certeiros, melhor do que muitos dos companheiros seus. Mas, ele não é o exemplar único, aquele de cujo modelo se desfez a natureza, depois de lançá-lo no labirinto da vida.

Claro que não. Há pelo mundo afora milhares de criaturas tão ou mais talentosas do que ele. A diferença está em que não tiveram a sorte de encontrar a pessoa certa, na hora certa, que as lançasse no mercado. Principalmente na periferia, nas zonas de pobreza, onde a vida social esconde os talentos.

Os espertalhões se destacam no meio dos ingênuos. E, em toda a história da humanidade, houve espertalhões que se aproveitaram dos talentosos. A Igreja Católica é um exemplo disso: Michelangelo, Da Vinci, Bernini e tantos outros, foram usados a serviço do domínio religioso.

Os espertalhões sabem que a maior fraqueza a que se entrega o povo é a transformação de reles mortais em mitos. Porque as grandes massas, ignorantes e pobres, necessitam de algo maior do que elas, para que tenham um pouco de felicidade, ou melhor, uma ilusão de felicidade.

E dessa fraqueza se aproveitam os espertalhões, como o dono do PSG, um riquíssimo empresário do Catar. Neymar servir-lhe-á muito bem. O brasileiro endeusado, transformado em mito, vai multiplicar a fortuna do muçulmano. Vai atrair multidões ao estádio, vai levar o nome do PSG para as manchetes, vai transformar o clube em atração turística.

Não é o talento que gera a fama, mas, sim, o proveito financeiro que se tira desse talento. O talento transformado em dinheiro é tudo o querem os espertalhões. E o povo, que adora mitos e deuses, é o instrumento ideal para gerar essa riqueza.


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