MITOS
E DEUSES
João
Eichbaum
Por
que será que o populacho se alimenta com o endeusamento de seres humanos? Por quais razões esses deuses
conseguem satisfazer aos mais infelizes com alguma emoção que possa parecer ou
substituir a felicidade? E será esse arremedo de felicidade o máximo a que
aspiram os infelizes, que nada melhor esperam da vida?
Jornais
de todo mundo anunciaram a transferência do jogador de futebol Neymar, do
Barcelona, para o Paris Saint-Germain (PSG), e do referido atleta fazem
notícia, como se esse fato corriqueiro, sem a menor importância no dia a dia
dos cidadãos, tivesse o condão de fazer alguma diferença no mundo ou na vida
das pessoas.
É
verdade que Neymar sabe se livrar dos adversários com a bola grudada nos pés,
como sabe despachá-la com chutes certeiros, melhor do que muitos dos
companheiros seus. Mas, ele não é o exemplar único, aquele de cujo modelo se
desfez a natureza, depois de lançá-lo no labirinto da vida.
Claro
que não. Há pelo mundo afora milhares de criaturas tão ou mais talentosas do que
ele. A diferença está em que não tiveram a sorte de encontrar a pessoa certa,
na hora certa, que as lançasse no mercado. Principalmente na periferia, nas
zonas de pobreza, onde a vida social esconde os talentos.
Os
espertalhões se destacam no meio dos ingênuos. E, em toda a história da
humanidade, houve espertalhões que se aproveitaram dos talentosos. A Igreja
Católica é um exemplo disso: Michelangelo, Da Vinci, Bernini e tantos outros,
foram usados a serviço do domínio religioso.
Os
espertalhões sabem que a maior fraqueza a que se entrega o povo é a
transformação de reles mortais em mitos. Porque as grandes massas, ignorantes e
pobres, necessitam de algo maior do que elas, para que tenham um pouco de
felicidade, ou melhor, uma ilusão de felicidade.
E
dessa fraqueza se aproveitam os espertalhões, como o dono do PSG, um riquíssimo
empresário do Catar. Neymar servir-lhe-á muito bem. O brasileiro endeusado,
transformado em mito, vai multiplicar a fortuna do muçulmano. Vai atrair
multidões ao estádio, vai levar o nome do PSG para as manchetes, vai
transformar o clube em atração turística.
Não
é o talento que gera a fama, mas, sim, o proveito financeiro que se tira desse
talento. O talento transformado em dinheiro é tudo o querem os espertalhões. E
o povo, que adora mitos e deuses, é o instrumento ideal para gerar essa
riqueza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário