INVENTÁRIO FESTIVO
João Eichbaum
Inspirado no axioma popular, segundo o qual o orifício traseiro do bêbado não passa de “res derelicta”, escrevi, outro dia, que “dinheiro de bêbado também não tem dono. E não é que tinha razão?
Vejam o que a Zero Hora, ingenuamente publica, na edição de 9 de julho, se referindo à multa aplicada aos bebuns na direção de veículos automotores. Digo ingenuamente porque o dito jornal, de algum tempo a esta parte, fazendo coro à demagogia dos governos que lhe enchem as páginas de publicidade, encampou o slogan “isso tem que ter fim”, se referindo aos acidentes de trânsito. Isso é o que noticia a matéria sobre o destino do dinheiro arrecadado:”essa verba não tem direcionamento único: pode ser utilizada de forma diferenciada conforme o órgão responsável pela autuação... Conforme a divisão de Planejamento e Controle orçamentário, a maior parte do dinheiro acaba no caixa único da União. O recurso poderá voltar para a PRF por meio de orçamento anual. Na Brigada Militar praticamente a metade da multa é revertida para a corporação. Na capital a EPTC recebe também quase a metade dos recursos. O Detran tem a responsabilidade de operar a emissão das notificações e recebe, por meio de convênios, recursos dos outros órgãos para executar este serviço. Por se tratar de uma legislação nacional, o departamento também recebe suas parcela das multas...”
Esse é o festim que fazem com o dinheiro dos bêbados: um pouco pra mim, um pouco ti, a metade para Brigada Militar, outra metade para a EPTC...Ah, e não podemos esquecer o Detran, para quem não existe homem, nem mulher pobre.
Essa é regra: multa, que o dinheiro é nosso.
Então, meu amigo, prepare-se. Daqui para diante não tem mais luta contra outro crime que não seja estar na direção de um veículo depois de ter comemorado o aniversário do filho ou o enterro da sogra. Assaltante pode dar ou não dar dinheiro. Traficante, idem. Pé-de-chinelo, nem se fala. Então vamos atrás dos bêbados que a grana é certa. Prepare-se, meu amigo, para ser atacado pela Brigada, pela Polícia Rodoviária, pelos azuizinhos, a toda hora. Não vai mais haver trégua para ninguém. O que importa é o dinheiro. Até porque não é só a multa, tem a fiança também. É muita grana. Não dá pra abrir mão dela.
Sim, mas – você perguntará - não tem ninguém pra controlar essa farra toda? Claro que tem, meu amigo: no papel, na Constituição, na lei, o Tribunal de Contas. Mas você sabe quem é que compõe o Tribunal de Contas? Os políticos, que se arreglam uns com os outros, os afilhados dos políticos e os demais, que não entendem bosta nenhuma de contas públicas. Mas se, por exceção, der zebra, certamente vai haver nova rubrica: a “sobra” das multas, na esteira da “sobra” de campanha.
E enquanto o pessoal de baixo faz a farra com a grana dos bêbados, sobra mais dinheiro para o pessoal de cima, os do governo propriamente dito, que poderá encher a Zero Hora de publicidade, afim de que ela elogie a Lei Seca e arranque aplausos de toda a companheirada, a começar pelo Tarso Genro, que trocou a caneta da poesia pela espada do poder. E viva Che Guevara!
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Um comentário:
Isso é mais um assunto para virar polêmica do que qualquer outra coisa. Enquanto falam disso, que por lógica deveria ser um hábito de todo cidadão o de não colocar em risco a si e outrem, as coisas mais importantes ficam esquecidas (educação, saúde, segurança). Mas esse é o nosso país, o país da gandaia, da impunidade e do oba oba.
Janaína Moraes da Rocha
jana_itacare@yahoo.com.br
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