Observação do João Eichbaum: mesmo que não estejam cronologicamente exatas, as crônicas do Paulo Wainberg são publicadas como se tivessem sido escritas no dia de hoje. É que, pelo modo de abordar as coisas da vida, o Paulo é sempre atual.
CRÔNICAS INDISCRETAS
REVELAÇÕES ÍNTIMAS
Paulo Wainberg
As probabilidades são infinitas e só uma lei as rege, a conhecida, famosa e sempre invocada “lei das probabilidades”.
Como isso é possível? E que lei é essa?
Posso garantir que não foi o Congresso brasileiro quem a editou. Deve ser coisa de algum físico maluco ou de algum metido a entender dessas coisas referentes à estatísticas, física quântica, relatividade e origem divina do Universo como por exemplo meu querido amigo e compadre Aloísio (Svaiter) – o sobrenome entre parênteses é para preservar o sigilo – que mora no Rio, trabalha em São Paulo e tem a mente espargida como saborosos perfumes de lavanda.
Ouso dizer que sou o único que o compreende, além de todos os outros. O Aloísio e eu inventamos uma brincadeira internética que consiste em demolir conceitos. Até hoje não entendi o objetivo do brinquedo, é um tipo de jogo cujas regras são inventadas na hora e nunca se sabe quem sai vencedor.
Bem ao contrário, por exemplo, dos meus amigos Mauro Keiserman e Vilmar Elman. Com eles EU sempre saio vencedor. Nem tem mais graça jogar. O Mauro ainda me surpreende, volta e meia, mas o Vilmar, francamente, basta iniciar uma discussão e ele é derrotado na primeira frase. O pior é que ele não aprende, provoca, provoca e...leva um talagaço.
Já o Moyses Abensur é mais sábio, adquiriu sabedoria com a experiência e simplesmente não discute: concorda com tudo o que eu digo. Quando estou com astral meio down ligo para ele, lanço uma teoria como se lançam metais ao éter e ele me dá razão na hora.
Poderia falar no Paulo Tiaraju mas é covardia, pior que bater em bêbado, roubar balão de criança ou dormir só de sunga...
Você tem todo o direito de me perguntar o motivo destas mal traçadas linhas, falando em pessoas que você não conhece, conhece, ouviu falar, nunca ouviu falar e coisa e tal.
Pode perguntar, não me ofendo.
Pior do que isso, você pode inclusive se chatear porque não falei em você que, da mesma forma, não me ofendo.
Quais são as probabilidades disso acontecer? Sei lá, vá consultar a lei delas, as probabilidades, que existe justamente para responder perguntas como estas, mais imbecis do que qualquer programa das tvs do bispo Macedo.
Será que os acima citados vão ficar brabos comigo? E se ficarem, vão fazer o que?
Entretanto e para que não reste qualquer sombra de dúvida, não paire nenhuma controvérsia nem me venham dizer que tal e qual não é qual e tal, informo que o supra-citado Vilmar Elman criou, com invejável humor e inteligência, uma comemoração sui-generis, quando sua primeira filha, a Rose, casou: a despedida do pai da noiva.
O que vinha a ser isso? Um ato de revolta? Claro que não. Uma expressão de rebeldia? Nada disso. Ao perceber que para sua filha era organizado um chá de panela, para sua esposa era organizado um chá das amigas e tias (vão gostar de chá assim em Singapura) e para seu futuro genro uma despedida de solteiro, viu-se subitamente à margem, como se ele, o progenitor, o gerador primeiro de toda efeméride, estava à margem, nada era organizado para ele que, por bem ou por mal, tinha que pagar a conta.
Convocou os amigos (eu era um deles) e realizou uma cerimônia ecumênica celebrada por professantes de várias fés, baseada no maior respeito e amparada nos sagrados princípios da família e dos bons costumes, encomendou quatorze panelas de chá, colocou oito discos na eletrola, começando com Mozart e terminando com Gounaud, serviu salgadinhos e doces e, na hora dos discursos, declarou que, como pai da noiva, estava se despedindo.
Todos nós, com nossas roupas formais para a ocasião, aplaudimos e depois disso, não lembro de mais nada... há um imenso vácuo na minha memória que, por absoluta conveniência, faço questão de manter, vá que eu recorde alguma coisa e...
Então.
Semana que vem casa a minha filha, já contei a vocês. E onde está a minha despedida? Onde se meteram os organizadores (porque depois da primeira vez os demais pais de noiva se despediram à custa dos amigos...), por que razão ninguém fala comigo sobre o assunto, não me dão nenhum indício sobre preparativos, convocações, locais e tal?
Já teve o chá de panela da noiva (nem conto pra vocês...), o noivo há um mês que não para de se despedir, a mãe da noiva teve que desmarcar todos seus pacientes de tanto chá que foi obrigada a tomar e eu, pai da noiva e origem de tudo, estou aqui, a ver navios, veleiros, lanchas, botes a remo e caixas de sabonete jogadas no riacho. Nada para mim???
Nem um waflles, uma bolachinha dágua para molhar no café?
Vamos lá, rapaziada, esqueçam minha rigidez moral, meus princípios pétreos e movam-se, ofereçam-me uma despedida digna de um pai de noiva, regada a chá de boldo com pipoca e doce de leite condensado na sobremesa. E não esqueçam de por meu cd preferido, suíte número dois de Bach, para alegrar o evento.
O tempo passa rápido e, pela lei, as probabilidades disso acontecer estão cada vez menores.
Será que vou ter que me despedir sozinho, de mim mesmo?
O Vilmar instituiu uma tradição como tantas outras que nosso grupo mais íntimo instituiu ao longo dos anos. Embora no batizado do filho dele, o Marcio, tenha faltado vinho, ele já foi perdoado porque na ocasião, quase trinta anos atrás, ninguém notou e, a bem da verdade, ninguém precisava tomar mais vinho, as tradições são imutáveis e devem ser preservadas “ad eternum”.
Eu, por exemplo, sou o organizador do churrasco na casa dos outros. Distribuo as funções e compareço para comer. Em geral na casa do Mauro que tem um telão e fica melhor para assistir o jogo.
Pelo que me informaram, mês passado, coube ao Moysés organizar minha despedida de pai da noiva. E aí? Até agora nada, repito.
Se eu tiver que me despedir sozinho, juro que não me responsabilizo. Depois não venham me acusar disto ou daquilo, se me deixarem por conta própria sei lá... como decidirei entre ficar assistindo um filme na TV ou ir para a cama dormir?
Portanto rapazes, é agora ou nunca. E podem convidar quem quiser.
E você, Aloísio, pega um avião e vem porque, como me disse certa vez um conhecido que queria me levar para um motel, de conversa estou até aqui. Eu quero é ação!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário