quarta-feira, 13 de agosto de 2008

VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS

A CLASSE MÉDIA DO LULA

João Eichbaum

Se você ganha R$1.065,00 por mês, você é um cara feliz, e não sabe. Não sei porque é que você, ganhando tão bem, pode se queixar do Lula, do PT, do MST, do Tarso Genro, dessa gente toda que compõe hoje a classe dominante do país.
É que você, com essa grana toda, subiu muitos pontos na vida, você teve uma ascensão social, você pertence à classe media, cara. E quem diz isso não sou eu. Quem o diz é a Fundação Getúlio Vargas. De acordo com essa instituição, que eu não sei nem para que é que serve, não sei de dá lucro pra alguém, ou se só dá bons empregos, a custa de quem também não sei, de acordo com essa instituição, dizia eu, cerca de 20 milhões de brasileiros deixaram a base da pirâmide social e se deslocaram mais para o meio.
Como é que a Fundação Getúlio Vargas chegou a essa conclusão? Ora, muito simples: porque quem tem geladeira, televisão e máquina de lavar roupa pertence à classe média.
A revista Época mostra o perfil de uma dessas pessoas de classe média: Josineide Mendes Tavares, tem 34 anos, é manicure, mora na favela da rocinha, com dois filhos pequenos, numa casinha de 35 metros quadrados. Sete por cinco. Não, isso não é a área de uma peça. É a área de toda a casa. Mas, olha só, dentro desse cubículo a dona Josineide tem uma televisão de tela plana de vinte e nove polegadas, com DVD, naturalmente. Ah, e ainda paga canal fechado porque os filhos gostam do Cartoon, e do Discovery Kids. Freezer, geladeira e máquina de lavar roupa a dona Josineide, evidentemente, não poderia dispensar. Tudo isso, ganhando de R$ 1.500,00 a R$ 2.000,00 por mês. Um detalhe: com tudo isso dentro daquela casinha, não sobra lugar para um sofá, circunstância que leva a família a assistir televisão em cadeiras comuns, junto à mesa das refeições.
Então, pelo conjunto da obra, isto é, por ter a sua casinha de trinta e cinco metros quadrados equipada com tantos aparelhos, a dona Josineide saiu da parte de baixo da pirâmide social, deu um passo importante e foi contemplada com o rótulo da classe média.
É claro que ela, dona Josineide, não se sente à altura desse rótulo. Embora não diga claramente que quer esculhambar o time da Fundação Getúlio Vargas, para ela, segundo declarações prestadas à revista, pertence à classe média a família que “tem filhos estudando em boas escolas particulares, carro e dinheiro para uma pequena viagem de fim de semana, uma vez por mês”.
Mas a opinião dela não conta. O que conta é a opinião do Lula, pois, segundo ele, a pobreza está diminuindo, todo o povo brasileiro está muito feliz e nada disso aconteceria se ele não tivesse nascido. E a Fundação Getúlio Vargas, a serviço das opiniões do Lula, justamente às vésperas das eleições, impõe goela abaixo da dona Josineide a certeza estatística de que ela teve uma efetiva ascensão social e, portanto, está de pele nova, vestida de classe média, bem engomadinha.

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