sexta-feira, 29 de agosto de 2008

COLUNA DO PAULO WAINBERG

Crônicas Silentes
SILENCIOSAMENTE
Paulo Wainberg




O som mais horripilante é o ... silêncio. Quando não te respondem, não te enfrentam, não te retornam
O silêncio é o grito estridente da indiferença, o agudo interminável do escárnio.
O silêncio é a pavorosa constatação da tua insignificância, de não estares na ordem das coisas, de teres ido além de ti mesmo e, compreendido ou não, não seres, simplesmente, assunto que valha à pena.
Odeio o som do silêncio aos meus clamores, vindos de meus clãs, de meus amores, dos meus élans, dos meus temores.
Lamartine, poeta do romantismo francês, escreveu o poema O Lago, “Le Lac” onde, qual iluminado fabulista, atribui à portentosa massa de água isolada entre montanhas, atributos, defeitos e sentimentos humanos, mais do que uma metáfora, quase uma parábola.
E concluiu o poema com uma frase transcendental e enigmática, coisa rara no romantismo francês: “Só o silêncio é grande, todo o resto é fraqueza”.
Talvez. O adjetivo “grande” é utilizado pelo poeta como uma qualidade superior do silêncio. Acho que, assim dito, o silêncio pode ser grande para quem cala e justamente porque produz efeito devastador em quem escuta. Ou quer escutar.
Não trato, aqui, do sentido da audição, longe disto. Estou falando mesmo é do miserável espólio, dos restos, dos trapos, dos frangalhos de alma de quem quer respostas e recebe, tonitroantemente afrontoso, o silêncio.
Nos infinitos universos onde oscilam as auto-estimas, acostumadas a ir de cem a zero em um segundo, o silêncio é rei, soberano absoluto, ditador impiedoso a divertir-se, como se tivesse vontade própria, com a crueldade e, no nível rés-do-chão, com a cara de bobo transfigurada de angústia de quem o recebe, qual dez mil bofetadas, oito chicotadas e um beliscão.
Diante do grandioso silêncio o que resta mesmo é fraqueza, nisso o poeta tinha razão.
Dependendo do lado que estiver, você será grande ou fraco.
Eu decidi, depois de tantos silêncios, mudar de lado e não fazer mais perguntas. Abandonei as esperas e dedico meus dias a me atrasar. E não respondo, também. Elevo-me na grandiosidade de meu silêncio que é para você saber com quem está lidando, até mesmo se você não tiver o menor interesse em saber.
Porque, como li num livro ou vi num filme, tem a hora na vida em que você decide se é um rato ou outra coisa qualquer.
É a famosa hora agá, que irá determinar se você passa o resto de seus dias atrás de queijo ou vai comer outra coisa qualquer, mesmo que sejam nabos ou rabanetes.
O bom de ser outra coisa qualquer e não apenas um rato é que você não fica proibido de comer queijo também, ou seja, você entra numa dimensão superior da existência em que deixa de procurar coisas e transforma-se na coisa a ser procurada. É o plano em que você se desinteressa pelas respostas e passa você mesmo a fornecê-las, ao seu bel-prazer, independentemente de terem ou não lhe perguntado alguma coisa.
Se você errar o pênalti jogando em casa, prepare-se para o silêncio ensurdecedor. Mas se errar o mesmo pênalti na casa do adversário, a gritaria ensandecida não perfurará a invencível barreira de silêncio interior que se erro produzirá.
Portanto aceite meu conselho: não cobre pênaltis, deixe a tarefa para outro, escape, sempre que puder, do silêncio que de um jeito ou de outro reduzirá você a uma minhoca rastejante, implorando para não servir de isca nem ser cortado ao meio por um guri de maus bofes.
Quantos já sucumbiram ao silêncio desdenhoso da mulher amada?
Hein?
Quantos esgotam suas vidas catando sinais que substituam o arrogante silêncio divino?
Quantos já se enfureceram ou se envergonharam diante do silêncio altaneiro de um desafeto?
Pessoalmente prefiro uma única resposta, quando peço alguma coisa: sim.
É uma coisa minha, sei lá, questão de gosto talvez, coisa genética, de personalidade ou de caráter.
Mas este sou eu e quem sou eu para ser mais do que apenas isso, eu?
Como alternativa, aceito um “talvez” e só em último caso, mas ultissimo caso mesmo, um “não”. E olhe lá, diante de um não, costumo espernear, puxar os cabelos e bater com as mãos na parede. Abertas, que não sou burro de me machucar dando socos em coisa dura.
Mas o silêncio, faça-me o favor, o silêncio me devora. – Me dá isso aí – peço eu. Então me diga sim, talvez ou não, nunca fique em silêncio. O seu silêncio me deixa à espera, me dá esperança, me faz sonhar com a possibilidade de ser um sim e o que vou fazer daí em diante.
O seu silêncio nunca me leva ao não e, mesmo que você o mantenha até o fim dos tempos, estarei esperando o sim.

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