quarta-feira, 27 de agosto de 2008

OS OSSINHOS DO VAALENTÃO

João Eichbaum

Li ontem no jornal Zero Hora que o “Grupo Santanense de Cavalgada”, de Santana de Livramento, vai fazer nada menos do que 590,7 quilômetros, em cima de lombo de cavalo, para transportar a “urna com os restos mortais de David Canabarro”, de Porto Alegre para a dita cidade de Santana do Livramento. Antes de seguir a cavalgada para o referido município, o grupo vai dar uma chegadinha em São Leopoldo para acender uma centelha da “chama crioula”, afim de levá-la junto. Ah, antes que me esqueça, com esse grupo cavalga também o prefeito do município de Livramento.
Então, eu pergunto para o povo em geral: não há nada mais a fazer pela cidade e pelo município de Livramento? Não haverá problemas sociais, questões de moradia, saúde, segurança, educação, a serem resolvidos por lá?
Se o prefeito se dá ao desfrute de colar o traseiro, durante dias e dias, no lombo de um cavalo pelo simples e inexplicável motivo de acompanhar “os restos mortais” de David Canabarro, deixando o município navegar em suas próprias águas sem precisar de timoneiro, é porque a coisa lá anda muito boa e nem o prefeito, nem o grupo de cavalarianos tem mais o quê fazer na vida.
O que significa levar numa caixinha um montinho de ossos, a única coisa que sobrou de um primata, de quem só se sabe que gostava de fazer revolução, isto é, de matar, de exterminar, de remover, a qualquer preço, tudo o que lhe contrariasse os objetivos?
Eu não sei. Não sei em que esse montinho de ossos poderá ajudar para o progresso, para a saúde, para a ciência, para a cultura de Santana do Livramento.
David Canabarro, pelo que me lembro do meu tempo de escola, é um dos valentões, chamados “heróis” farroupilhas, uma turma que andou fazendo revolução, uma revolução que chamam de “guerra dos farrapos”, feita em nome de uma pretendida independência do Rio Grande do Sul, que estaria sendo maltratado pelo governo central. Ao que me lembre, um dos motivos era o excesso de impostos, sem o correspondente retorno em obras e investimentos aqui nesta terrinha cheia de gaúchos valentes. E naquele tempo não havia mensalão, nem cartões corporativos.
Pelo que sei e todos nós sabemos, não adiantou de nada a tal de “guerra dos farrapos”, nada mudou, foi em vão todo e qualquer esforço dos gaúchos, no sentido de fazer a sua república, a sua independência, ou pelo menos no sentido de melhorar um pouco a vida desta gente dos pampas.
A coisa continua a mesma. Nem mesmo Getúlio Vargas, gaúcho metido a facão sem cabo como o Canabarro, que também fez revolução, conseguiu alguma coisa. Conseguiu, sim, mas para a gente dele, o Brizola, o Jango e todo esse pessoalzinho do PTB de antigamente. Nem com a ditadura Getúlio conseguiu melhorar o Rio Grande do Sul.
Se é por ser maltratado, hoje, mais do que nunca, o Rio Grande do Sul continua na mesma. Pagamos impostos escorchantes e não temos saúde, segurança, educação, estradas, transporte, nada disso.
De que adiantou fazer revolução? Para que serviram, mesmo, os “heróis farroupilhas”? Esses “heróis” que saquearam, degolaram, pintaram e bordaram pra nada?
Herói, para mim, é o cara que se arrisca para conseguir – e consegue – algo positivo, algo aproveitável, algo de que se possa dizer muito e por muito tempo. Para mim, não é herói quem, ao fim e ao cabo, acaba se entregando, em troca de anistia ou de benesses, como os atuais “heróis” da esquerda que se abeberam de felpudas indenizações, às nossas custas, sem que ninguém venha fazer revolução por nós, por causa do mensalão e dos cartões corporativos, por exemplo.
Assar a bunda em lombo de cavalo, de Porto Alegre a Santana do Livramento, carregando o resto dos ossinhos de um marmanjo que nem conheci? Me poupem! Prefiro calabreza, com borda de catupiry e um chope bem gelado. Em companhia de mulher, é claro, não de bombachudo.

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