O SUPREMO “EGO” SE CHAMA “DEUS”
João Eichbaum
Assaltos são, hoje em dia, coisas quase corriqueiras. Ler notícias sobre assaltos já não causa muita emoção. Salvo quando se trata de pessoas conhecidas ou de amigos. E foi o que me aconteceu. Ao ler a notícia, levei um choque: o delegado de ensino, ao qual minha mulher tinha sido subordinada, e a esposa dele tinham sido assaltados, num fim de semana, na praia. O casal fora descansar, relaxar, aproveitar a paz que transmite o mar, quando beija a areia, sob o testemunho de um céu azul, ou de uma lua que guarda os segredos do amor, para sempre, mas foi surpreendido por malfeitores.
A mulher do chefe da minha esposa foi morta da maneira mais cruel possível: amordaçaram-na, espancaram-na, pisotearam-na. O chefe da minha mulher levou um tiro e se fingiu de morto, não para ganhar sapato novo, mas para continuar a viver. Os bandidos foram embora e levaram o que quiseram.
Entrevistado pelo reportagem do jornal que noticiou o fato, no dia seguinte, o senhor delegado de ensino se saiu com a seguinte frase:
“Deus foi bom pra mim “
É indispensável acrescentar que o senhor delegado de ensino tinha sido seminarista, ou melhor, juvenista, candidato a irmão marista, uma congregação católica que dominava o ensino no Brasil. Sua formação, portanto, era profundamente católica, apostólica, romana. E, não seria necessário acrescentar, acreditava no “Deus” judaico-cristão.
“Deus foi bom pra mim”. Pensem bem no sentido dessa frase, saída dos lábios de um cidadão de formação profundamente cristã.
Por que “Deus” teria sido bom pra ele e não pra sua mulher?
Alguém aí da platéia pode me responder, concretamente, objetivamente, sem rodeios filosóficos?
“Deus” foi bom pra ele. Ele era mais importante do que sua mulher. “Deus” o salvou das mãos dos malfeitores, lhe deu a chance de continuar vivendo (tanto que ele casou de novo, só não sei se com uma baranga ou com uma linda mulher).
Assim como ele, todo o mundo age: “se “Deus” quiser, graças a “Deus”. Tudo o que de bom acontece para as pessoas, elas o devem a “Deus”. O “Deus” judaico-cristão se preocupa com elas e manda o resto pra puta que o pariu.
O bem-estar, as conquistas de felicidade, a superação dos males das pessoas é atribuído a “Deus”. Elas se sentem felizes porque “Deus” o permitiu. Mas a felicidade é delas, e não do vizinho, do irmão, da sogra, da mãe do Badanha.
A felicidade das pessoas, portanto, está em “Deus”, o “Sumo Bem”. Em outras palavras, esse “Deus” representa tudo o que as pessoas querem, o que as pessoas, que nele acreditam, almejam. Graças a esse “Deus” elas são melhores do que os outros, têm uma vida mais feliz.
“Deus” pensa em mim. “Deus” me ama. “Deus” faz tudo por mim. EU vou gozar das delícias da vida eterna, graças a “Deus”. Ele, portanto, realiza o meu EGO. O máximo a que EU possa aspirar está em “Deus”. “Deus”, portanto, é o meu ego Supremo.
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