quinta-feira, 20 de novembro de 2008

COLUNA DO PAULO WAINBERG

A BELEZA QUE PÕE MESA
Paulo Wainberg





Conheço centenas de pessoas, isto é fato. E é fato também que nenhuma delas, homens e mulheres, é vaidosa. Ao contrário, dizem que não se importam com aparência, que o que interessa é o conjunto da pessoa, que beleza não põe mesa e que a questão estética é secundária.
Por que, hein?
O que faz as pessoas se envergonharem da própria vaidade?
Parece que desejar ser bonito é vergonhoso, que a beleza pessoal tem de ser de somenos e que agradar pela aparência não vale.
Por que?
Por acaso alguém nunca se olhou no espelho e gostou do que viu? Não é que você mudou o penteado, treinou olhares e perfis, ajustou o timbre da voz, vestiu-se de forma provocante ou viril, pensou que uma pequena correção no nariz cairia bem, olhou o tamanho do muque no braço e outros tamanhos, disfarçou os lábios finos com um bigode e saiu por aí captando olhares apreciativos na sua direção?
Não é?
Hein?
Cabelos ou falta de cabelos não são um elevado momento, no seu dia a dia? Ah se você tivesse um topete, ah se você tivesse cabelo liso, ah se seu cabelo tivesse cachos! Carecas disfarçam-se raspando os cabelos das têmporas, crespos raspam-se porque carecas agradam, mulheres gastam o salário delas nos cabeleireiros, costureiros, em lojas e com berloques.
Entretanto, ao vivo, ninguém reconhece que se importa com isso, ser feio ou bonito não faz diferença, o ser humano é muito mais do que um rosto bonito.
Até parece.
Eu confesso minha vaidade. Quando eu era bonito adorava um espelho e passava um bom tempo arrumando o penteado, ensaiando poses. E vibrava com os olhares femininos admirando minha beleza.
“Que homem lindo” era coisa que eu adorava ouvir, quando passava, quando entrava e quando saia.
Quer coisa melhor do que ouvir um elogio estético?
As mulheres não adoram quando as chamam de lindas, gostosas, a nora que minha mãe sempre sonhou e outros elogios, desde que ditos com delicadeza e na hora apropriada?
Hoje não sou mais bonito, apenas elegante, charmoso e sensual, mas palavra de honra que sinto falta daqueles “que homem lindo!” que estava acostumado a ouvir.
Viste? Falei com toda a sinceridade e não doeu. Você pode fazer a mesmíssima coisa e acabar com esse teu tabu social.
A beleza física existe, é importante e merece ser mostrada e admirada. Tecnicamente falando, pouquíssimas pessoas são fisicamente feias, tomando-se a feiúra no sentido mais dramático da palavra. Eu, pessoalmente, não conheço ninguém feio, homem ou mulher. Há as mais bonitas, as deslumbrantes e tal, porque as pessoas que já vi tem sempre uma beleza a ser apreciada.
O que você não pode fazer é afrontar os outros com a sua beleza. O rosto bonito é aquele que se mostra de forma implícita, não é arrogantemente exibido como a grande verdade da vida que tudo sabe e a todos conquista. Você não pode ser um “convencido”, o chato que se acha o maioral por causa dos traços fisionômicos, do corpo musculoso ou das curavas esculturais. Se você tiver esses atributos, use-os a seu favor e não como um desafio, um repto ao restante da humanidade menos favorecida.
Mostre-se de forma adequada e aproveite a admiração alheia ou, como dizia minha avó, não se mostre, deixe que mostrem você.
Largue de mão idéias anacrônicas como: “homem não acha homem bonito” ou “mulher se enfeita para mulher” porque são frases mentirosas embutidas em preconceitos impregnadas de falsas modéstias.
Aqui entre nós dois – e que ninguém nos ouça – existe coisa mais brega do que a falsa modéstia? Além de desonesta, a falsa modéstia afronta a realidade, você nega o que a realidade mostra em nome de um... de uma... sei lá, em nome de alguma coisa qualquer que já se perdeu na famosa e sempre renovada poeira dos tempos.
Não se exiba, não ostente, não se vanglorie e você estará sendo modesto na medida certa.
Neste momento da minha vida em que o grande Poetinha está exercendo grande influência, ouso parafraseá-lo para afirmar que feias não existem e, por isso, a beleza é fundamental.
A propósito de uma brincadeira, um amigo mandou um e-mail dizendo que “doideira tem hora, tempo e espaço” para ser cometida.
Tenho que discordar porque aquilo que tem hora, tempo e espaço pode ser qualquer coisa, menos doideira. Doideira – ou a loucura saudável – é fazer algo inusitado, fora de prumo, criativa e além de hora, tempo e espaço, meu caro.
Não seja um falso modesto, você não precisa disto, admita suas loucuras, deixe de lado as condições, os imperativos e as normas. Ouse transgredir em benefício próprio sem prejudicar outrem, entendendo-se por “outrem” qualquer um que não seja você. É isso.
O que uma coisa tem a ver com a outra? Sinceramente? Não sei.
Modestamente.

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