terça-feira, 18 de novembro de 2008

COLUNA DO RUY BURIN

O OZIEL E O TRIBUNAL ECLESIÁSTICO DE GOIÂNIA

Ruy Luiz Burin

O Oziel é padre. Ou foi Padre. Padre Oziel. Preto, bem apesssoado, lá pelas tantas achou que tinha encontrado a sua outra metade, uma senhora branca, e com ela juntou os travesseiros. E tem, desde já vinte e poucos anos de convivência, cinco belos filhos. Nesse tempo, desde que se “casou”, continuou a merecer a confiança de seu rebanho e, convidado para ministrar batismos, núpcias e outros sacramentos, o fez com carinho e classe. Vestido a rigor em seu “clergy man” apresenta-se perante as câmaras assegurando: “cada vez que eu era convidado para ministrar os sacramentos, e os sacramentos não são meus, são da Igreja, eu sempre deixei bem claro que a minha condição era e é de padre casado, com cinco filhos”. E, mesmo assim, as ovelhas de seu rebanho nele confiaram e dele receberam os ministérios da vida. Pois, para espanto de brasileiros e brasileiras de todos os matizes, e de todas as cores, Oziel se viu metido, nessa semana, no centro de um tornado teológico, já que o Egrégio Tribunal Eclesiástico de Goiânia, arquidiocese da residência de Oziel, Pe. Oziel, comunicou ao respeitável público que o Pe. Oziel estava “demitido”. E que, além de não poder mais ministrar o que ministrava, ainda determinava que estavam cassadas todas as validades de casamentos, batizados, bênçãos e outras quinquilharias de seu já agora fajuto ministério. E o Povo de Deus, ou ao menos eu, um dos que se acreditam entre esse Povo, ouviu atônito que o Tribunal já decidira tal situação em maio desse ano, e agora, passados mais de seis meses, comunicava a demissão do Oziel. Do Pe. Oziel. E com isso o ex-celibatário sacerdote estava a perder uma de suas parcas provisões, já que os ministérios eram ou cobrados ou objeto de regalos variados, de parte dos contratantes: de casamentos, batizados, bodas de ouro, de prata, de bronze, de lata. E outras bênçãos mais baratas.
O que é fantástico, nisso tudo, é o conjunto guitarreiro dessas estrepolias de religiosos envolvidos com fiéis de todos os matizes, e não somente dos matizes mais escuros, como Oziel. Primeiro, Oziel, aliás Pe. Oziel, não é “sacerdos in aeternum secundum ordinem Melchisedec?” Só depois de vinte, vinte e cinco anos de casado, vida concubinária pública e notória, com cinco filhos bem orientados, e uma jovem senhora firme e forte, só depois disso a Santa Igreja Católica Apostólica Romana se dá ao luxo de um julgamento? E, o que é pior, só depois de seis meses da sentença pronunciada intima Oziel para dizer-lhe que está demitido. Demitido do que? Das santas ordens? Do seu ministério? Mas que ministério? Nada sabia até aí a organizada Arquidiocese de Goiânia ?
Por essas e outras estamos necessitando de um teólogo para nos dizer a definição desse imbroglio. Nenhum de nós desconhece que, através de certos trâmites, o sacerdos pode pedir a sua retirada e, apeado da vida religiosa, bandear-se para a vida leiga, formar família, seguir o seu caminho. Mas, no caso do Oziel, o que aconteceu? Por que foi ele soberbamente, olimpicamente ignorado? Por causa da cor de sua pele? Pela simpatia que transparecia e pelo carisma que ainda guardava no trato com seus fiéis? Que diabos de Tribunal Eclesiástico é esse que agora vem com essas falácias, com essas enganações? Onde fica Oziel com seu ministério? Demitido? Leva direito de aposentadoria? E os sacramentos que ministrou, e que fez questão de dizer, alto e bom som, a quem o contratava, que não eram dele mas sim da Igreja a que servia? Como ficam os corações dos que receberam tais sacramentos? Todos imprestáveis ou inválidos, mesmo? E aquelas pessoas que confessaram que entendem foram válidos e válidos estão os cristãos batizados, casados e abençoados por Oziel? Não cabe uma palavra aos devotos da Arquidiocese, aos fiéis já agora, parece, um pouco desconfiados de tudo o que faz a Igreja Católica Apostólica Romana? E ainda querem que o Judiciário seja expedito e rápido. Mas o Sacro Tribunal levou seis meses para intimar Oziel. Oziel teve a oportunidade para se defender? E o Direito Constitucional de Oziel de ampla defesa? Valham-me os teólogos, os eruditos, os fiéis de todos os credos. Só peço uma coisa: salvem o Oziel.

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