quinta-feira, 13 de novembro de 2008

COLUNA DO RUY BURIN

É com invulgar satisfação que anunciamos um novo colunista neste blog: Ruy Luiz Burin, Procurador de Justiça aposentado, músico, de excelente formação humanística, como se poderá constatar.

PENA NÃO SEJA O ARQUEIRO, ESSE GILMAR
ou
O MINISTRO QUE QUER APARECER

RUY BURIN

A bandidagem só faz festa! É um regozijo só. Pudera. Está a seu lado, com toda a sua espalancada autoridade de Chefe do Poder Judiciário da Nação, nada menos que o Ministro Gilmar. Pois Sua Excelência que também atende por Mendes, e vamos esclarecer que esse Gilmar é o Mendes e não o nosso glorioso guarda-valas campeão do Mundo que é muito melhor e muito mais confiável, deu de se meter em desaguisados vários, com o Ministro da Justiça, com a Polícia Federal, com o raio que o parta. Começou por reclamar que estava com seus telefones grampeados, e que isso era um abuso, um atentado ao estado democrático de direito, um acinte a um Chefe de Poder. Grampear os meus telefones, diz Gilmar, furioso perante as Câmaras? Mas onde estamos? Que país é esse?
Primeiro, e antes de mais nada, convém responder a Sua Excelência que o bons cidadãos desse país estranharam muito a sua colocação exageradamente legalista. Até a bandidagem mais explícita estranhou, ou melhor, ficou estupefata. Diga-se, a propósito, bandidagem de todos os naipes. Colarinho branco, políticos ladrões, mensaleiros espertos, políticos imbecis e não tão espertos assim, todos estranharam. Mas, a seguir, num coro só, exultaram. Finalmente alguém de gran coturno apoiando a turba. Finalmente.
E a nação assiste, então, perplexa, a mais uma encenação. A imprensa vendida e sem culhões, cambada de aproveitadores, todos aplaudem Sua Excelência. Ninguém lhe diz, alto e bom som, que a grampeação dos telefones do Ministro não é lá grande coisa, se o Ministro é limpo, incorruptível, não tem o rabo preso. Mas por que Sua Excelência berra? Tem o rabo preso Sua Excelência?
Dizem-me amigos que nas conversas gravadas pode ocorrer algum deslize, digamos, de falta de fidelidade explícita. Vá lá, de foro íntimo, como se diz por aí. Ou ainda, de futricas várias, coisas do Poder, fabriqueta bem fornida de invejas e malquerenças.
Mas isso justificaria o trovejar do Ministro? Parece normal a sua desbragada reação? Não foi demais? E, se foi, não teria outra forma mais elegante de estancar a ilegalidade?
Por essas e por outras Sua Excelência está, entre os cidadãos de bem, onde me incluo, graças a Deus, seriamente comprometido. E, o que é pior, comprometendo toda uma plêiade de advogados, Juízes, Promotores e Procuradores de Justiça e da República, Desembargadores, Ministros, e todos quantos fazem de nossa já desacreditada Justiça, ou melhor, Poder Judiciário Brasileiro, a obsessão de sua vida, nela servindo com pureza, dedicação ímpar, exação ao dever, seriedade completa. Salvo as desonrosas exceções, que as há sempre em qualquer covil humano.
Pois, com tudo isso a bandidagem, já até aqui assoalhada por legislação penal frouxa, leniente, vergonhosamente branda, se regozija. E esse conjunto de normas é sempre produzido com a única finalidade de facilitar os criminalistas de defesa, que tem uma força macabra no enredo dessa tessitura.
Sua Excelência o Ministro alguma vez se insurgiu contra isso? Não há registro. O que há, sim, é, novamente, ver-se Sua Excelência desancando a voz efeminada contra a Polícia Federal, acabando a Nação por assistir dobrar-se o Ministro da Justiça à voz do Chefe de Poder, que não é o dele, e transmudar o presidente do inquérito, o Delegado Protógenes, de chefe de inquérito acusador em réu. Novas boas risadas dos bandidos de todos os quadrantes. E nós, aqui, impotentes, vendo tudo isso, e rogando aos céus que nossos filhos e netos tenham um país diferente, longe das cuecas com dinheiro e desvios de todo o tipo. Valha-me Deus, Nossa Senhora! Pobre país.

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