segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

NÓS, PRIMATAS

VIRADA DE ANO

João Eichbaum

JOVENS INCENDEIAM 1.137 CARROS NA FRANÇA

CINCO PESSOAS MORREM EM CONSEQUÊNCIA DE EXPLOSÃO EM MINA NO AFEGANISTÃO

AVALANCHE MATA MAIS DE TRINTA PESSOAS EM ANGRA DOS REIS

BANDIDOS DERRUBAM HELICÓTERO DA POLÍCIA MILITAR NO RIO DE JANEIRO

AVALANCHE CAUSA MORTES EM JUIZ DE FORA

CHOQUE DE TRENS CAUSA MORTES, NA ÍNDIA

São manchetes das desgraças que aconteceram na virada do ano.
E enquanto alguns morriam, outros se divertiam com a apoteose ígnea que riscava a noite da civilização cristã, em todo o mundo.
Em meio ao frio de enregelar, nos Estados Unidos e na Europa, milhares de pessoas se aglomeravam em locais públicos, simplesmente para contemplar os fogos de artifício, como um modo de comemorar com alegria a virada do ano.
No Rio de Janeiro, segundo notícias, foram queimadas, nada menos do que dezesseis toneladas de fogos de artifício.
Queima de dinheiro, dinheiro do povo que estava feliz e se divertia, como se admirar a arte ígnea fosse a única maneira de ser feliz, à meia noite de 31 de dezembro.
Ao contemplar os pólos opostos da vida e da morte, da alegria e da dor, não se pode chegar à outra conclusão senão a de que o mundo e, portanto, e todos os animais que o habitam estão entregues à própria sorte, aos próprios desígnios e à força indômita da natureza.
É impossível, diante desses contrastes, acreditar que o universo seja regido, sabiamente, por algum “ente superior”. Nenhum “ente superior” iria se divertir com a desgraça, mesclada com a alegria boba de contemplar a arte feita com fogo, à custa de apertos, frio, submissão a normas de segurança e possíveis desconforto mercê de exigências fisiológicas do próprio corpo.
Só um primata mesmo, para se contentar com tão pouco. Claro que, como primata, não fugi do lugar comum: assisti à queima de fogos, mas do pátio da minha casa, com muito conforto, devidamente acompanhado por excelente espumante.

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