É ASSIM QUE A COISA FUNCIONA
João Eichbaum
Deu começo de rebu, quarta-feira última, na sessão do Supremo Tribunal Federal.
O Marco Aurélio cobrou do Ricardo Lewandowski uma substituição feita na lista tríplice de advogados, que será remetida à Presidência da República, para a escolha do próximo ministro do Superior Tribunal Eleitoral.
A lista original era composta pelos advogados Alberto Pavie, Joelson Dias e Evandro Pertence. Mas o nome do advogado Alberto Pavie foi riscado e incluido, no lugar dele, o da advogada Luciana Lossio.
Mas, olhem só o que a advogada Luciana Lossio tem no currículo: foi a advogada constituída por Dilma Roussef, para defendê-la nos processos eleitorais a que teve de responder durante a campanha. Isso, naturalmente, transforma a advogada numa das atrizes mais importantes do BBB do judiciário, onde, mesmo sem a votação dos telespectadores, o candidato (no caso o advogado Alberto Pavie) vai para o paredão.
Não sei se, além disso, ela é loira, bundunda, boa de ubres e cintura fina, se tem uma voz grave e sensual, quando pronuncia o latim que ela não conhece, sem contar outros atributos pegajosos, de fazer qualquer ministro babar, menos o Marco Aurélio. O certo é que o Lewandowski saiu em defesa dela - como não poderia deixar de ser - dizendo que tudo foi feito com transparência. E para reforço de sua argumentação invocou o currículo, já referido, da advogada.
Não é segredo para ninguém que a composição dos tribunais é ditada, substancialmente, por interesses pessoais e apadrinhamentos, simpatias e outras coisas do gênero. A única coisa que não conta é a capacidade do candidato no que concerne à sua vocação para a magistratura. O cara se torna juiz , não por luz própria, mas porque assim o querem seus amigos e admiradores. Só se torna ministro de um tribunal superior, quando funciona o poderoso tônico do apadrinhamento. Esse é o sacrossanto critério utilizado na escolha de um candidato. Não existe outra equação, a não ser aquela armada e alimentada pelos padrinhos, para que alguém vista, com muito orgulho, a toga de ministro.
Nunca ouvi falar do advogado cuja candidatura foi sacrificada em prol da protegida do Lewandowski. Também não conheço o bacharel Joelson Dias. Agora, pelo sobrenome, sei quem é Evandro Pertence: só pode ser filho do Sepúlveda Pertence, que foi incluído na lista, certamente, “em nome do pai”. Ou seja, um cara que “pertence” a um reduzido número de privilegiados.
Se vocês pensam que, para ter um dilema, a Dilma só precisaria acrescentar um “e” ao próprio nome, não é bem assim. O dilema está á vista, nos seguintes termos: conferir a toga de ministra para sua advogada, ou para o filho de seu irmão de ideologia, amigo e conselheiro, Sepúlveda Pertence?
Viram onde é que o Lewandowski foi se meter? Não teve coragem para riscar da lista o filho do Sepúlveda Pertence e botou a Dilma numa saia muito mais justa do que a daquele terninho, onde ela fica mais esprimida que recheio de salsicha.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
TEÓLOGO BOM É O TEÓLOGO ATEU
Karen Armstrong, ex-freira inglesa, especializou-se no estudo de religiões. Escreveu mais de quinze livros, nos quais se sente em casa discorrendo sobre cristianismo, judaísmo, islamismo ou budismo. Ex-freira, Karin abandonou o convento, aos 25 anos, e passou por uma crise de fé. Seus ensaios são de uma erudição tal que não há memória que os guarde.
Há uns dois anos, comprei na Espanha Los Orígenes del Fundamentalismo, que li com muita atenção. Comentei, na época, como era bom estar em país onde se publicavam livros que não eram publicados no Brasil. Um leitor alertou-me que este livro havia sido publicado aqui no ano 2000, pela Companhia das Letras, com o título de Em Nome de Deus. Fui pesquisar em minha biblioteca. O livro estava lá, e todo sublinhado por mim mesmo. Eu já nem lembrava dele.
O problema destas obras de extrema erudição é que o autor joga tantos dados em uma só página que, mal acabamos de lê-la, não conseguimos memorizá-la. O remédio é sublinhar. Mas sublinhar tem seus limites. Quando o livro está quase todo sublinhado, é como se não estivesse. Se houve época em que tínhamos escassez de dados, hoje vivemos época inversa: os dados são tantos que nao conseguimos mais lembrá-los.
Está sendo publicado no Brasil o último livro da teóloga, Em Defesa de Deus, que ainda não li mas vou ler. Em rápida resenha que encontrei no Estadão, sou informado de que a moça se concentra no cristianismo "porque é a tradição mais diretamente afetada pelo advento da modernidade científica e a mais castigada pelo novo ataque ateísta". E só pode ser assim mesmo, afinal o Ocidente não é islâmico ou hinduísta.
Armstrong desfere ataques aos neo-ateus Christopher Hitchens e Richard Dawkins que seguiriam, segundo a autora, "um naturalismo científico linha-dura, que reflete o fundamentalismo no qual baseiam sua crítica". O ateísmo, define a acadêmica, "sempre é a rejeição de uma forma específica de teísmo e depende dela como um parasita".
Bom, sem deus não existiriam ateus. Não somos parasitas, mas uma decorrência lógica da crença em algum deus. É muito difícil falar numa doutrina do ateísmo, já que o ateu nada afirma, apenas nega. Sem falar que mesmo os crentes são ateus. Se eu sou ateu em relação a Jeová ou ao Cristo, os cristãos são ateus em relação a Jupiter, Héstia, Demeter, Hera, Hades ou Poseidon. Ou Krishna, Shiva, Vishnu ou Brahma. Somos todos ateus, cara Karen.
Hitchens, o ateu, está com câncer. A religião, defende Karen, é uma "disciplina prática" que depende de exercícios espirituais e uma vida de dedicação. A racionalidade científica pode até explicar o câncer de Hitchens, mas não pode aplacar seu pavor, observa. Mas tampouco aplaca o pavor de um crente. Na hora do câncer, os cristãos oram ao seu deus. Mas vão buscar cura na medicina de ponta. Quando a medicina os cura, eles agradecem não aos médicos, mas a deus. O que me parece ser uma ofensa à medicina.
Minha primeira suspeita sobre a existência de deus, lá em meus verdes anos, decorreu da constatação de que existia um deus para cada geografia. Ora, eram tantos que não podiam ser tantos, como diria Pessoa. Para mim ficou claro que deuses eram criações dos homens.
Assim sendo, me espanta que teóloga tão erudita, que passeou por tantas crenças, ainda consiga crer em algumas delas. Pior ainda, depois de velha e detentora da sabedoria que só a velhice confere, Armstrong elogia as religiões primitivas, caracterizadas por rituais, danças, sacrifícios e cantos. Ou seja, fascinou-se pelas mais toscas formas de crença.
Ao visitar as cavernas de Lascaux, a teóloga verificou que religião e arte já surgem inseparáveis. A experiência da iniciação do homem ancestral prova, segundo ela, que não existe no pensamento arcaico o conceito do sobrenatural, ou seja, "nenhum abismo entre o humano e o divino". Não existia o ser supremo, mas apenas um ser.
Ora, que religião e arte são inseparáveis, disto sabemos. Tanto religião como arte são ficções. Daí a deduzir a existência de um ser supremo – ou de apenas um ser, como prefere a autora – vai uma longa distância.
Para a ex-freira, religião virou auto-ajuda: “religião é como música. Não se pode explicar, mas se ouve com prazer e, de quebra, ela ainda opera milagres como acalmar bebês, fazer crescer as flores e curar algumas doenças”. Como quiser. Mas desconheço músicas que ordenem a lapidação de mulheres, a morte de homossexuais ou o extermínio dos não-crentes. Não consigo entender como as fogueiras da Inquisição possam tem acalmado bebês ou feito crescer flores. Certamente curaram algumas doenças. A morte cura tudo.
Teologia? Vá lá. É como a matemática, um sistema axiomático. Decido que deus existe e daí parto a tirar conclusões. Se um mais um é dois, e se dois mais dois é quatro, então quatro mais quatro é oito. Se deus existe, vem toda uma tralha atrás: demônio, anjos, deuses, santos.
Nada a ver com a realidade. Ou, como disse Borges, teologia é a primeira manifestação da literatura fantástica.
Teólogo bom é o teólogo ateu. Que conhece a ficção, mas sabe que é ficção.
Karen Armstrong, ex-freira inglesa, especializou-se no estudo de religiões. Escreveu mais de quinze livros, nos quais se sente em casa discorrendo sobre cristianismo, judaísmo, islamismo ou budismo. Ex-freira, Karin abandonou o convento, aos 25 anos, e passou por uma crise de fé. Seus ensaios são de uma erudição tal que não há memória que os guarde.
Há uns dois anos, comprei na Espanha Los Orígenes del Fundamentalismo, que li com muita atenção. Comentei, na época, como era bom estar em país onde se publicavam livros que não eram publicados no Brasil. Um leitor alertou-me que este livro havia sido publicado aqui no ano 2000, pela Companhia das Letras, com o título de Em Nome de Deus. Fui pesquisar em minha biblioteca. O livro estava lá, e todo sublinhado por mim mesmo. Eu já nem lembrava dele.
O problema destas obras de extrema erudição é que o autor joga tantos dados em uma só página que, mal acabamos de lê-la, não conseguimos memorizá-la. O remédio é sublinhar. Mas sublinhar tem seus limites. Quando o livro está quase todo sublinhado, é como se não estivesse. Se houve época em que tínhamos escassez de dados, hoje vivemos época inversa: os dados são tantos que nao conseguimos mais lembrá-los.
Está sendo publicado no Brasil o último livro da teóloga, Em Defesa de Deus, que ainda não li mas vou ler. Em rápida resenha que encontrei no Estadão, sou informado de que a moça se concentra no cristianismo "porque é a tradição mais diretamente afetada pelo advento da modernidade científica e a mais castigada pelo novo ataque ateísta". E só pode ser assim mesmo, afinal o Ocidente não é islâmico ou hinduísta.
Armstrong desfere ataques aos neo-ateus Christopher Hitchens e Richard Dawkins que seguiriam, segundo a autora, "um naturalismo científico linha-dura, que reflete o fundamentalismo no qual baseiam sua crítica". O ateísmo, define a acadêmica, "sempre é a rejeição de uma forma específica de teísmo e depende dela como um parasita".
Bom, sem deus não existiriam ateus. Não somos parasitas, mas uma decorrência lógica da crença em algum deus. É muito difícil falar numa doutrina do ateísmo, já que o ateu nada afirma, apenas nega. Sem falar que mesmo os crentes são ateus. Se eu sou ateu em relação a Jeová ou ao Cristo, os cristãos são ateus em relação a Jupiter, Héstia, Demeter, Hera, Hades ou Poseidon. Ou Krishna, Shiva, Vishnu ou Brahma. Somos todos ateus, cara Karen.
Hitchens, o ateu, está com câncer. A religião, defende Karen, é uma "disciplina prática" que depende de exercícios espirituais e uma vida de dedicação. A racionalidade científica pode até explicar o câncer de Hitchens, mas não pode aplacar seu pavor, observa. Mas tampouco aplaca o pavor de um crente. Na hora do câncer, os cristãos oram ao seu deus. Mas vão buscar cura na medicina de ponta. Quando a medicina os cura, eles agradecem não aos médicos, mas a deus. O que me parece ser uma ofensa à medicina.
Minha primeira suspeita sobre a existência de deus, lá em meus verdes anos, decorreu da constatação de que existia um deus para cada geografia. Ora, eram tantos que não podiam ser tantos, como diria Pessoa. Para mim ficou claro que deuses eram criações dos homens.
Assim sendo, me espanta que teóloga tão erudita, que passeou por tantas crenças, ainda consiga crer em algumas delas. Pior ainda, depois de velha e detentora da sabedoria que só a velhice confere, Armstrong elogia as religiões primitivas, caracterizadas por rituais, danças, sacrifícios e cantos. Ou seja, fascinou-se pelas mais toscas formas de crença.
Ao visitar as cavernas de Lascaux, a teóloga verificou que religião e arte já surgem inseparáveis. A experiência da iniciação do homem ancestral prova, segundo ela, que não existe no pensamento arcaico o conceito do sobrenatural, ou seja, "nenhum abismo entre o humano e o divino". Não existia o ser supremo, mas apenas um ser.
Ora, que religião e arte são inseparáveis, disto sabemos. Tanto religião como arte são ficções. Daí a deduzir a existência de um ser supremo – ou de apenas um ser, como prefere a autora – vai uma longa distância.
Para a ex-freira, religião virou auto-ajuda: “religião é como música. Não se pode explicar, mas se ouve com prazer e, de quebra, ela ainda opera milagres como acalmar bebês, fazer crescer as flores e curar algumas doenças”. Como quiser. Mas desconheço músicas que ordenem a lapidação de mulheres, a morte de homossexuais ou o extermínio dos não-crentes. Não consigo entender como as fogueiras da Inquisição possam tem acalmado bebês ou feito crescer flores. Certamente curaram algumas doenças. A morte cura tudo.
Teologia? Vá lá. É como a matemática, um sistema axiomático. Decido que deus existe e daí parto a tirar conclusões. Se um mais um é dois, e se dois mais dois é quatro, então quatro mais quatro é oito. Se deus existe, vem toda uma tralha atrás: demônio, anjos, deuses, santos.
Nada a ver com a realidade. Ou, como disse Borges, teologia é a primeira manifestação da literatura fantástica.
Teólogo bom é o teólogo ateu. Que conhece a ficção, mas sabe que é ficção.
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
O “DOUTOR” AGOSTINHO
João Eichbaum
“Santo” Agostinho é tratado, tanto em manuais como em grandes obras religiosas, como “doutor” da Igreja.
A palavra “doutor” deve ser entendida aqui “lato sensu”, quer dizer, em sentido amplo, com significação atrelada diretamente à sua etimologia. “Doutor” provém do vocábulo latino “doctor” que, por sua vez, brota, no mesmo idioma, do verbo “doceo, docui, doctum, docere”, que significa ensinar.
Assim, os chamados “doutores” da Igreja devem tal tratamento à sua docência, ou seja, à arte de ensinar, e não à conquista de um diploma que lhes tenha conferido tal qualificação.
De fato, Agostinho, Tomaz de Aquino e outros, mas principalmente eles, são os verdadeiros artífices da doutrina cristã, transformada numa “ciência”, conhecida como teologia.
Confesso que nunca li, quer as obras do Agostinho, quer as do Tomaz de Aquino, mas bastam duas asneiras “ensinadas” pelo primeiro, para que eu o descarte como mestre ou “doutor”.
Agostinho – já o disse em outra crônica – foi quem inventou o “limbo”.
Limbo, para quem não sabe, seria o lugar para onde iriam as “almas” das crianças mortas sem terem recebido o batismo cristão. Um lugar neutro, que não era nem o céu, nem o inferno, mas uma espécie de depósito de “pagãos inocentes”.
Tal ensinamento foi adotado pela Igreja até o ano passado, ou retrasado, quando o papa resolveu abolir essa criação do famoso “doutor” Agostinho.
É inconcebível que tamanha asneira tenha durado tantos séculos. Nem vou discuti-la, porque é de uma imbecilidade que dispensa comentários.
Outra grande asneira do “santo” Agostinho foi ensinar que a “cópula conjugal é um ato impuro por si mesmo”.
Eu disse “cópula conjugal”, ou seja, o relacionamento sexual entre casais oficialmente casados.
A burrice desse “doutor” me atordoa. Não haveria, entre coevos seus, alguém mais inteligente para lhe ensinar que todo o animal tem por finalidade última a procriação? E que o ato sexual nada mais é do que uma função fisiológica, imposta pela natureza, tendo por destino aquela finalidade?
Muitas funções fisiológicas do animal são “impuras” e, em razão disso, o animal homem inventou WCs, toilletes, etc. Não seria necessário que um Agostinho da vida escolhesse apenas uma dessa funções, para acoimá-la de “impura”.
Imagine-se que, atendo-se aos seus “ensinamentos”, o povo se abstivesse completamente do sexo: a humanidade teria desaparecido.
Ah, antes que me esqueça: antes de se tornar cristão, Agostinho aproveitou a vida, teve mulheres e até um filho. Isso quer dizer que, enquanto usou o corpo, como o faz qualquer ser vivente, agiu de acordo com a natureza. Mas, quando usou a cabeça, fez o que poucos gostariam de fazer: dizer asneiras.
João Eichbaum
“Santo” Agostinho é tratado, tanto em manuais como em grandes obras religiosas, como “doutor” da Igreja.
A palavra “doutor” deve ser entendida aqui “lato sensu”, quer dizer, em sentido amplo, com significação atrelada diretamente à sua etimologia. “Doutor” provém do vocábulo latino “doctor” que, por sua vez, brota, no mesmo idioma, do verbo “doceo, docui, doctum, docere”, que significa ensinar.
Assim, os chamados “doutores” da Igreja devem tal tratamento à sua docência, ou seja, à arte de ensinar, e não à conquista de um diploma que lhes tenha conferido tal qualificação.
De fato, Agostinho, Tomaz de Aquino e outros, mas principalmente eles, são os verdadeiros artífices da doutrina cristã, transformada numa “ciência”, conhecida como teologia.
Confesso que nunca li, quer as obras do Agostinho, quer as do Tomaz de Aquino, mas bastam duas asneiras “ensinadas” pelo primeiro, para que eu o descarte como mestre ou “doutor”.
Agostinho – já o disse em outra crônica – foi quem inventou o “limbo”.
Limbo, para quem não sabe, seria o lugar para onde iriam as “almas” das crianças mortas sem terem recebido o batismo cristão. Um lugar neutro, que não era nem o céu, nem o inferno, mas uma espécie de depósito de “pagãos inocentes”.
Tal ensinamento foi adotado pela Igreja até o ano passado, ou retrasado, quando o papa resolveu abolir essa criação do famoso “doutor” Agostinho.
É inconcebível que tamanha asneira tenha durado tantos séculos. Nem vou discuti-la, porque é de uma imbecilidade que dispensa comentários.
Outra grande asneira do “santo” Agostinho foi ensinar que a “cópula conjugal é um ato impuro por si mesmo”.
Eu disse “cópula conjugal”, ou seja, o relacionamento sexual entre casais oficialmente casados.
A burrice desse “doutor” me atordoa. Não haveria, entre coevos seus, alguém mais inteligente para lhe ensinar que todo o animal tem por finalidade última a procriação? E que o ato sexual nada mais é do que uma função fisiológica, imposta pela natureza, tendo por destino aquela finalidade?
Muitas funções fisiológicas do animal são “impuras” e, em razão disso, o animal homem inventou WCs, toilletes, etc. Não seria necessário que um Agostinho da vida escolhesse apenas uma dessa funções, para acoimá-la de “impura”.
Imagine-se que, atendo-se aos seus “ensinamentos”, o povo se abstivesse completamente do sexo: a humanidade teria desaparecido.
Ah, antes que me esqueça: antes de se tornar cristão, Agostinho aproveitou a vida, teve mulheres e até um filho. Isso quer dizer que, enquanto usou o corpo, como o faz qualquer ser vivente, agiu de acordo com a natureza. Mas, quando usou a cabeça, fez o que poucos gostariam de fazer: dizer asneiras.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
SABE COM QUEM TÁ FALANDO?
João Eichbaum
Pleno verão, céu azul, ornamentado com núvens brancas, e o povo desfilando de carrinhos e carrões pela Estrada do Mar – aquela que o Pedro Simon construiu, para poder ir à sua praia, a Rainha do Mar, só no asfalto, a fim de descansar do nada que sempre fez. Ele lucrou, mas o povo também.
E é por isso que o povo gosta de desfilar pela Estrada do Mar, porque tem asfalto e o asfalto deixa uma praia pertinho da outra.
Só que têm os pardais e também os brigadianos. Não fosse isso, tudo seria maravilha.
Aí, enquanto o povo desfilava, em pleno domingo de verão, com aquele sol aquecedor e bronzeador, se divertindo à beça, a Polícia Militar, que a gente chama de Brigada, tava dando duro por lá: queria pegar bêbados, doidinhos do volante e inadimplentes do IPVA.
Eis senão quando, pintaram duas gatas no posto de gasolina, onde um dos brigadianos estava abastacendo a viatura. Gatíssimas. Dessas que a natureza trata bem, sobretudo quando o verão é dadivoso, com céu azul e sol pra ninguém botar defeito. Duas gatas sozinhas, sem macho, num belo Fox. Coisa de chamar a atenção: gatas bonitas, sem homem, um belo arsenal de sedução.
Nesse momento baixou no espírito do brigadiano a força da autoridade, já que ele não tinha outra chance para chegar nas moças.
-Boa tarde – fez continência e se apresentou para elas.
-Boa tarde – responderam em coro as duas.
- Os documentos do carro e a carteira de motorista, por favor – prosseguiu ele, com sua voz de autoridade, recheada de educação.
Aí, uma das moças, não a motorista, mas a que estava de carona, resolveu encarar:
- O que que é isso? Pedir documentos e carteira, aqui no posto de gasolina?
- Estou cumprindo meu dever, senhorita – respondeu o brigadiano, já engrossando a voz, com aquele tom inconfundível de autoridade.
- Mas não pra cima de nós – tornou a fofa da carona. E abrindo a bolsa, exibiu, na cara do brigadiano sua identidade: era delegada de polícia em Canoas.
Não é preciso dizer que o bate-boca funcionou a mil:
- Eu sou a autoridade
- A autoridade sou eu.
E por aí foi.
Resultado: um deu queixa do outro, produzindo cada um a sua ocorrência policial.
Isso aconteceu em Osório, domingo último. Nenhuma das “autoridades” quis se humilhar, nenhuma quis ser menor do que a outra.
E podem ter certeza: se não fossem mulheres, a coisa iria pretear, o brigadiano ia chamar reforço, o rebu ia ser bem maior.
E nós, pagando e sendo assaltados. E os assaltantes arrombando até Delegacia de Polícia, enquanto as “autoridades” ficam armando barracos, na disputa pelo poder.
João Eichbaum
Pleno verão, céu azul, ornamentado com núvens brancas, e o povo desfilando de carrinhos e carrões pela Estrada do Mar – aquela que o Pedro Simon construiu, para poder ir à sua praia, a Rainha do Mar, só no asfalto, a fim de descansar do nada que sempre fez. Ele lucrou, mas o povo também.
E é por isso que o povo gosta de desfilar pela Estrada do Mar, porque tem asfalto e o asfalto deixa uma praia pertinho da outra.
Só que têm os pardais e também os brigadianos. Não fosse isso, tudo seria maravilha.
Aí, enquanto o povo desfilava, em pleno domingo de verão, com aquele sol aquecedor e bronzeador, se divertindo à beça, a Polícia Militar, que a gente chama de Brigada, tava dando duro por lá: queria pegar bêbados, doidinhos do volante e inadimplentes do IPVA.
Eis senão quando, pintaram duas gatas no posto de gasolina, onde um dos brigadianos estava abastacendo a viatura. Gatíssimas. Dessas que a natureza trata bem, sobretudo quando o verão é dadivoso, com céu azul e sol pra ninguém botar defeito. Duas gatas sozinhas, sem macho, num belo Fox. Coisa de chamar a atenção: gatas bonitas, sem homem, um belo arsenal de sedução.
Nesse momento baixou no espírito do brigadiano a força da autoridade, já que ele não tinha outra chance para chegar nas moças.
-Boa tarde – fez continência e se apresentou para elas.
-Boa tarde – responderam em coro as duas.
- Os documentos do carro e a carteira de motorista, por favor – prosseguiu ele, com sua voz de autoridade, recheada de educação.
Aí, uma das moças, não a motorista, mas a que estava de carona, resolveu encarar:
- O que que é isso? Pedir documentos e carteira, aqui no posto de gasolina?
- Estou cumprindo meu dever, senhorita – respondeu o brigadiano, já engrossando a voz, com aquele tom inconfundível de autoridade.
- Mas não pra cima de nós – tornou a fofa da carona. E abrindo a bolsa, exibiu, na cara do brigadiano sua identidade: era delegada de polícia em Canoas.
Não é preciso dizer que o bate-boca funcionou a mil:
- Eu sou a autoridade
- A autoridade sou eu.
E por aí foi.
Resultado: um deu queixa do outro, produzindo cada um a sua ocorrência policial.
Isso aconteceu em Osório, domingo último. Nenhuma das “autoridades” quis se humilhar, nenhuma quis ser menor do que a outra.
E podem ter certeza: se não fossem mulheres, a coisa iria pretear, o brigadiano ia chamar reforço, o rebu ia ser bem maior.
E nós, pagando e sendo assaltados. E os assaltantes arrombando até Delegacia de Polícia, enquanto as “autoridades” ficam armando barracos, na disputa pelo poder.
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
UMA MODESTA PROPOSTA PARA LEVAR A CLASSE PROLETÁRIA AO PARAÍSO
A Câmara precisou de mais de doze horas para aumentar em 35 reais o salário mínimo. De 510 reais, foi para 545. O aumento foi de 6,86%. Para aumentar em 10.211 reais os salários de senadores e deputados, em dezembro passado, foram necessários apenas cinco minutos. Não houve dissidência alguma, nem foi preciso comprar partidos com sinecuras. De 16.512 reais, nossos impolutos parlamentares passaram a ganhar 26.723 reais. O aumento foi de 61,8%. Mais de dez vezes o aumento do mínimo. É bom lembrar que estes senhores não recebem doze ou treze salários por ano, como o comum dos mortais. Mas quinze.
Isso sem falar nos subsídios para contratação de assessores (60 mil por mês) mais auxílios de moradia, telefonia, passagens aéreas e escritórios nos Estados, que elevam os custos de um parlamentar para mais de cem mil reais. Por mês.
Alguém ainda lembra do mensalão, aquela compra descarada de deputados pelo PT, que agora o PT nega que tenha existido? Pois bem: para evitar que fossem concedidas mais quinze merrecas (560 reais) aos que ganham salário mínimo, o governo comprou partidos inteiros com promessas de prebendas nos ministérios, Banco do Brasil, Funasa, Furnas e Eletronorte. Em que difere esta compra de parlamentares venais da compra dos parlamentares venais do mensalão? Deveria talvez chamar-se anualão, com perdão pelo neologismo? Ou quem sabe quinqüenão?
Como se quinze reais por mês – 50 centavos por dia – fizessem diferença para quem ganha uma miséria. Em Cuba, onde o salário de um médico é de 30 reais, obviamente faria. Mas, apesar dos pesares, não estamos em Cuba.
Estranho povinho este nosso. É capaz de comover-se até as lágrimas quando um jogador balofo abandona o futebol. Não experimenta indignação alguma quando um governador por dez dias recebe uma gorda pensão perpétua. Quando deputados que ganham cem mil reais por mês discutem se darão mais 50 centavos por dia a um operário. Mais ainda: em troca de sinecuras, negam até mesmo esta mísera esmola, que não paga sequer um cafezinho.
Em um gesto de subserviência, para evitar desgastes sazonais do governo, a Câmara aprovou projeto que transfere para a Presidência da República até 2015 a prerrogativa de definir, por decreto, o salário mínimo. A meu ver, para evitar esses dissabores de cada ano, os senhores deputados poderiam muito bem aprovar projeto que vinculasse o percentual de aumento do salário mínimo ao percentual de aumento de seus próprios proventos.
A classe proletária finalmente iria ao paraíso.
A Câmara precisou de mais de doze horas para aumentar em 35 reais o salário mínimo. De 510 reais, foi para 545. O aumento foi de 6,86%. Para aumentar em 10.211 reais os salários de senadores e deputados, em dezembro passado, foram necessários apenas cinco minutos. Não houve dissidência alguma, nem foi preciso comprar partidos com sinecuras. De 16.512 reais, nossos impolutos parlamentares passaram a ganhar 26.723 reais. O aumento foi de 61,8%. Mais de dez vezes o aumento do mínimo. É bom lembrar que estes senhores não recebem doze ou treze salários por ano, como o comum dos mortais. Mas quinze.
Isso sem falar nos subsídios para contratação de assessores (60 mil por mês) mais auxílios de moradia, telefonia, passagens aéreas e escritórios nos Estados, que elevam os custos de um parlamentar para mais de cem mil reais. Por mês.
Alguém ainda lembra do mensalão, aquela compra descarada de deputados pelo PT, que agora o PT nega que tenha existido? Pois bem: para evitar que fossem concedidas mais quinze merrecas (560 reais) aos que ganham salário mínimo, o governo comprou partidos inteiros com promessas de prebendas nos ministérios, Banco do Brasil, Funasa, Furnas e Eletronorte. Em que difere esta compra de parlamentares venais da compra dos parlamentares venais do mensalão? Deveria talvez chamar-se anualão, com perdão pelo neologismo? Ou quem sabe quinqüenão?
Como se quinze reais por mês – 50 centavos por dia – fizessem diferença para quem ganha uma miséria. Em Cuba, onde o salário de um médico é de 30 reais, obviamente faria. Mas, apesar dos pesares, não estamos em Cuba.
Estranho povinho este nosso. É capaz de comover-se até as lágrimas quando um jogador balofo abandona o futebol. Não experimenta indignação alguma quando um governador por dez dias recebe uma gorda pensão perpétua. Quando deputados que ganham cem mil reais por mês discutem se darão mais 50 centavos por dia a um operário. Mais ainda: em troca de sinecuras, negam até mesmo esta mísera esmola, que não paga sequer um cafezinho.
Em um gesto de subserviência, para evitar desgastes sazonais do governo, a Câmara aprovou projeto que transfere para a Presidência da República até 2015 a prerrogativa de definir, por decreto, o salário mínimo. A meu ver, para evitar esses dissabores de cada ano, os senhores deputados poderiam muito bem aprovar projeto que vinculasse o percentual de aumento do salário mínimo ao percentual de aumento de seus próprios proventos.
A classe proletária finalmente iria ao paraíso.
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
CRÔNICAS FEBRIS
ENQUETE DO DIA
PAULO WAINBERG
http://paulowainberg.wordpress.com
Twitter.com/paulowainberg
A enquete de hoje é para saber se você prefere isto ou aquilo.
Não gosto muito de explicar minhas pesquisas científicas, mas neste caso julgo importante traçar um perfil adjetivo do significado daquilo que pretendo descobrir.
Quando falo em perfil adjetivo, quero falar em qualidades, isto é, o que desejo decifrar com a enquete possui quais qualificativos que fazem a enquete possuir relevância, no mundo das enquetes.
Porque, não sei se você sabe, mas com certeza deve saber, as enquetes possuem seu universo próprio, regido por leis próprias, tão imutáveis quanto as leis da inquietação.
A inquietação é um fenômeno localizado no, como definem as palavras cruzadas, substrato instintivo da psiquê, isto é, o id, nada mais nada menos do que duas letras que se unem para todo o sempre para definir exatamente o que é o substrato instintivo da psiquê, que me corretor ortográfico insiste em sublinhar de vermelho, indicando que não tem acento circunflexo no e, mas eu insisto em colocar porque psiquê sem acento circunflexo fica sendo psique, palavra cujo significado desconheço.
Voltando à questão, você sabia que a inquietação se manifesta apenas em personalidade inquietas? É lógico, é mais do que lógico, é supinamente lógico, porque personalidades quietas não se inquietam e, quando se inquietam deixam de ser quietas, o que é uma verdade tão fulgurante quanto um dia de chuva.
Como poderia dizer Confúcio, se vivo estivesse, não procure a verdade num copo de uísque. A verdade está numa garrafa de uísque, sugerindo, indiretamente, que um copo de uísque é pouco para descobrir a verdade.
Conheço casos em que nem com duas garrafas de uísque o favorecido descobre a verdade.
O que é a verdade? Você sabe? Não? É claro que não. Eu sei, mas prometi não contar a ninguém e não sou homem de quebrar minhas promessas. Que tipo de homem eu sou, então, você ousaria perguntar?
Pode perguntar. Vamos, pergunte.
Eu sabia. Você não tem coragem.
O que me leva a refletir sobre a coragem. Na sua opinião, o corajoso é aquele que tem medo, enfrenta o medo e briga com o bandido? Ou então o corajoso é tão valente que não tem medo, nem sabe o que o medo significa?
Seja um, seja outro, não faz diferença. O corajoso tem, em geral, mania de ser herói. É ele quem entra no mar para ajudar o salva-vidas, acaba se afogando e estraga teu fim de semana.
Fuja dos heróis, eles são chatos, metidos e se dão mal.
Voltando ao tema, o universo das enquetes é rico em espirais e desvios, realidades paralelas, virtuais, parabólicas e analógicas.
Por ele transitam todas as formas de emulação duvidosa que a pesquisa transversal acalma, como no presente caso.
Sou atento ao mercado, minhas ações se situam no plano das bancas de peixe, frutas e hortaliças.
Graças a isto não movo um dedo, não assopro uma palha sem antes fazer uma enquete que vai me indicar quais as tendências, para onde o mercado vai, se ele está calmo, nervoso ou indiferente.
Devo minha ruína a isto. E não me arrependo.
Para responder à enquete de hoje, proceda da seguinte forma: se você prefere isto, diga sim. Se você prefere aquilo, diga Yes. Se você não prefere nem isto nem aquilo, diga oui.
E se você chegou até aqui diga Ai Meu Deus!
PAULO WAINBERG
http://paulowainberg.wordpress.com
Twitter.com/paulowainberg
A enquete de hoje é para saber se você prefere isto ou aquilo.
Não gosto muito de explicar minhas pesquisas científicas, mas neste caso julgo importante traçar um perfil adjetivo do significado daquilo que pretendo descobrir.
Quando falo em perfil adjetivo, quero falar em qualidades, isto é, o que desejo decifrar com a enquete possui quais qualificativos que fazem a enquete possuir relevância, no mundo das enquetes.
Porque, não sei se você sabe, mas com certeza deve saber, as enquetes possuem seu universo próprio, regido por leis próprias, tão imutáveis quanto as leis da inquietação.
A inquietação é um fenômeno localizado no, como definem as palavras cruzadas, substrato instintivo da psiquê, isto é, o id, nada mais nada menos do que duas letras que se unem para todo o sempre para definir exatamente o que é o substrato instintivo da psiquê, que me corretor ortográfico insiste em sublinhar de vermelho, indicando que não tem acento circunflexo no e, mas eu insisto em colocar porque psiquê sem acento circunflexo fica sendo psique, palavra cujo significado desconheço.
Voltando à questão, você sabia que a inquietação se manifesta apenas em personalidade inquietas? É lógico, é mais do que lógico, é supinamente lógico, porque personalidades quietas não se inquietam e, quando se inquietam deixam de ser quietas, o que é uma verdade tão fulgurante quanto um dia de chuva.
Como poderia dizer Confúcio, se vivo estivesse, não procure a verdade num copo de uísque. A verdade está numa garrafa de uísque, sugerindo, indiretamente, que um copo de uísque é pouco para descobrir a verdade.
Conheço casos em que nem com duas garrafas de uísque o favorecido descobre a verdade.
O que é a verdade? Você sabe? Não? É claro que não. Eu sei, mas prometi não contar a ninguém e não sou homem de quebrar minhas promessas. Que tipo de homem eu sou, então, você ousaria perguntar?
Pode perguntar. Vamos, pergunte.
Eu sabia. Você não tem coragem.
O que me leva a refletir sobre a coragem. Na sua opinião, o corajoso é aquele que tem medo, enfrenta o medo e briga com o bandido? Ou então o corajoso é tão valente que não tem medo, nem sabe o que o medo significa?
Seja um, seja outro, não faz diferença. O corajoso tem, em geral, mania de ser herói. É ele quem entra no mar para ajudar o salva-vidas, acaba se afogando e estraga teu fim de semana.
Fuja dos heróis, eles são chatos, metidos e se dão mal.
Voltando ao tema, o universo das enquetes é rico em espirais e desvios, realidades paralelas, virtuais, parabólicas e analógicas.
Por ele transitam todas as formas de emulação duvidosa que a pesquisa transversal acalma, como no presente caso.
Sou atento ao mercado, minhas ações se situam no plano das bancas de peixe, frutas e hortaliças.
Graças a isto não movo um dedo, não assopro uma palha sem antes fazer uma enquete que vai me indicar quais as tendências, para onde o mercado vai, se ele está calmo, nervoso ou indiferente.
Devo minha ruína a isto. E não me arrependo.
Para responder à enquete de hoje, proceda da seguinte forma: se você prefere isto, diga sim. Se você prefere aquilo, diga Yes. Se você não prefere nem isto nem aquilo, diga oui.
E se você chegou até aqui diga Ai Meu Deus!
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
COM A PALAVRA, HUGO CASSEL
TURISMO E FUTEBOL
Hugo Cassel – Abrajet – SC
Ao sabor dos últimos acontecimentos que culminaram com a decisão do jogador Ronaldo “Fenômeno” de encerrar a carreira, alguém me questionou o destaque dado pela imprensa não só do Brasil mas do mundo todo, entendendo que coisas mais importantes foram colocadas em segundo plano, com o gasto de dezenas de horas de TV, Radio, jornais e revistas. Para mim nada é mais importante que o drama de alguém.
Muita gente entende dessa maneira o assunto, portanto é oportuno que se esclareça a intima relação que existe entre o Futebol e o Turismo, justamente as duas atividades que movimentam o maior número de pessoas, e dinheiro que se escreve até com doze dígitos, em pelo menos 99% dos países do planeta. Nenhuma das peças que se movimentam nesse fantástico tabuleiro, é auto suficiente. Dependem de dezenas de outras figuras como empresários, parceiros, patrocinadores, diretores de clubes e muitas vezes se transformam em verdadeiros escravos de contratos com dezenas de cláusulas onde os “donos” estabelecem e direcionam, não só a carreira do atleta, como sua vida profissional e intima.
Milhões de pessoas, percorrem o mundo em todas as direções, para assistir jogos de futebol. Copa do Mundo, Libertadores, Copa dos campeões da UEFA, campeonatos nacionais. Movimentam transporte, alimentação, hospedagem e ajudam a sustentar outros milhões. Recentemente na estréia do jogador Ronaldinho no Flamengo, acorreram turistas de vários países além de jornalistas para assisti-lo pela primeira vez no Brasil, depois de dez anos na Europa. No caso específico de Ronaldo “fenômeno” a sua vontade em encerrar a carreira, precisou ser discutida com pelo menos uma dezena de pessoas, donas de algum interesse nele. O que ele representava para o clube, em atração, mesmo com as intercaladas aparições no campo de jogo, vertia muito dinheiro para o cofre, eis que a maior parte do salário de quase 2 milhões, era aportado pelos patrocinadores e parceiros. A concordância deve ter custado a Ronaldo algo mais do que a perda de um salário do qual ele não depende mais.
Quem o viu jogar viu .Quem não viu não verá mais. Resta assim repetir para ele a música que Moacir Franco fez para Garrincha, quando este encerrou a carreira, de maneira também muito triste: Balada R9: “ Sua ilusão entra em campo no estádio vazio- Uma torcida de sonhos aplaude talvez- O velho atleta recorda as jogadas felizes- Mata a saudade no peito, driblando a emoção.- Hoje outros craques repetem as suas jogadas- Ainda na rede balança, seu último gol.- Mas pela vida impedido parou.- E para sempre o jogo acabou.- Suas pernas cansadas correram pro nada. – E o time do tempo ganhou.- Cadê você, você passou. –O que era doce e o que não era acabou.- Cadê você.- No vídeo tape do sonho a história gravou.- Ergue seus braços e corre outra vez no gramado.- Vai tabelando seu sonho e lembrando o passado.- No campeonato da recordação faz distintivo de seu coração.- Que as jornadas da vida, são bolas de sonho, que o craque do tempo chutou”. – Por isso digo eu: “Dependurar chuteiras” é momento difícil para qualquer um que ame sua profissão. As lágrimas de Ronaldo também são nossas.
Hugo Cassel – Abrajet – SC
Ao sabor dos últimos acontecimentos que culminaram com a decisão do jogador Ronaldo “Fenômeno” de encerrar a carreira, alguém me questionou o destaque dado pela imprensa não só do Brasil mas do mundo todo, entendendo que coisas mais importantes foram colocadas em segundo plano, com o gasto de dezenas de horas de TV, Radio, jornais e revistas. Para mim nada é mais importante que o drama de alguém.
Muita gente entende dessa maneira o assunto, portanto é oportuno que se esclareça a intima relação que existe entre o Futebol e o Turismo, justamente as duas atividades que movimentam o maior número de pessoas, e dinheiro que se escreve até com doze dígitos, em pelo menos 99% dos países do planeta. Nenhuma das peças que se movimentam nesse fantástico tabuleiro, é auto suficiente. Dependem de dezenas de outras figuras como empresários, parceiros, patrocinadores, diretores de clubes e muitas vezes se transformam em verdadeiros escravos de contratos com dezenas de cláusulas onde os “donos” estabelecem e direcionam, não só a carreira do atleta, como sua vida profissional e intima.
Milhões de pessoas, percorrem o mundo em todas as direções, para assistir jogos de futebol. Copa do Mundo, Libertadores, Copa dos campeões da UEFA, campeonatos nacionais. Movimentam transporte, alimentação, hospedagem e ajudam a sustentar outros milhões. Recentemente na estréia do jogador Ronaldinho no Flamengo, acorreram turistas de vários países além de jornalistas para assisti-lo pela primeira vez no Brasil, depois de dez anos na Europa. No caso específico de Ronaldo “fenômeno” a sua vontade em encerrar a carreira, precisou ser discutida com pelo menos uma dezena de pessoas, donas de algum interesse nele. O que ele representava para o clube, em atração, mesmo com as intercaladas aparições no campo de jogo, vertia muito dinheiro para o cofre, eis que a maior parte do salário de quase 2 milhões, era aportado pelos patrocinadores e parceiros. A concordância deve ter custado a Ronaldo algo mais do que a perda de um salário do qual ele não depende mais.
Quem o viu jogar viu .Quem não viu não verá mais. Resta assim repetir para ele a música que Moacir Franco fez para Garrincha, quando este encerrou a carreira, de maneira também muito triste: Balada R9: “ Sua ilusão entra em campo no estádio vazio- Uma torcida de sonhos aplaude talvez- O velho atleta recorda as jogadas felizes- Mata a saudade no peito, driblando a emoção.- Hoje outros craques repetem as suas jogadas- Ainda na rede balança, seu último gol.- Mas pela vida impedido parou.- E para sempre o jogo acabou.- Suas pernas cansadas correram pro nada. – E o time do tempo ganhou.- Cadê você, você passou. –O que era doce e o que não era acabou.- Cadê você.- No vídeo tape do sonho a história gravou.- Ergue seus braços e corre outra vez no gramado.- Vai tabelando seu sonho e lembrando o passado.- No campeonato da recordação faz distintivo de seu coração.- Que as jornadas da vida, são bolas de sonho, que o craque do tempo chutou”. – Por isso digo eu: “Dependurar chuteiras” é momento difícil para qualquer um que ame sua profissão. As lágrimas de Ronaldo também são nossas.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
FELLINI & BERLUSCONI
Nas postrimerias do século passado, comentei este estranho poder da arte, que absolve todas as transgressões. Falava de Lolita. Meio século depois de publicado, o romance conserva seu potencial subversivo. Este vigor não decorre da obra em si. Mas da oposição a uma época que, de repente, parece ter optado pela hipocrisia e conservadorismo. Com seu romance, Nabokov imortalizou a personagem da adolescente sensual, que desde há muito tem perturbado homens maduros.
Para começar, foram as prediletas de Lewis Carrol, não por acaso um escritor que cultivou o gênero infanto-juvenil. Thomas Mann, por sua vez, criou uma versão masculina da adolescência erótica, com Tadzio, em Morte em Veneza, novela levada ao cinema por Visconti. Tadzio tem quatorze anos e espicaça o desejo do senil Aschenbach. Lolita tem doze. Wilhelm von Gloenden, em Taormina, fotografa adolescentes nus com um realismo que Visconti jamais ousaria. Segundo as más línguas, a fama dos meninos de Von Gloenden teriam feito até mesmo Nietzsche tomar o rumo da Sicília.
Tanto os livros de Mann e Nabokov, como os filmes a partir deles gerados, marcaram a sensibilidade de gerações. Mas vá um comum mortal assumir as preferências de Aschenbach ou Humbert Humbert. Será execrado como monstro pela mesma sociedade que aplaudiu os livros e os filmes. Com restrições, é verdade. Se Mann não teve maiores problemas com a censura, Nabokov teve não poucas dificuldades para editar seu livro. Mas, apesar do moralismo contemporâneo, a obra aí está. Em 2003, com uma tiragem de um milhão e cem mil exemplares, Lolita foi distribuída pela Folha de São Paulo aos compradores e assinantes do jornal. De graça.
As prostitutas sempre foram cantadas, tanto na literatura como na pintura ou na música. Boule de Suif, de Maupassant, até hoje nos encanta, foi inclusive glosada por Chico Buarque em Geni e o zepelim. Quem não se fascina pelas prostitutas de Iama, de Kuprin? Ou pela Sonia Siemionova, de Crime e Castigo? Ou pela Alejandra Vidal Olmos, de Ernesto Sábato? Quem não se enternece com a personagem interpretada por Shirley MacLaine, em Irma, la douce, de Billy Wilder? Quem não lembra de Adriana, em La Romana, de Alberto Moravia, novela levada ao cinema por Luigi Zampa? Só quem não leu o livro ou não viu o filme.
Sem ir mais longe, uma das glórias literárias da Itália, Pietro Aretino, "figlio di cortigiana con anima di re", autor de O Diálogo das Prostitutas, era admirado por personalidades como o papa Leão X, que lhe garantia uma vida de rei, como ele mesmo gostava de dizer.
Falar em cinema italiano, Federico Fellini foi um dos grandes cantores das prostitutas. Temos a Saraghina de 8 1/2, a Volpina e a Gradisca de Amarcord, a Maddalena de La Dolce Vita. Isso sem falar na personagem de As Noites de Cabíria, na interpretação comovente de Giulleta Masina. Para Fellini, “a prostituta é o contraponto essencial da mãe italiana. Não se pode conceber uma sem a outra. Da mesma forma que nossa mãe nos alimentou e vestiu, a puta nos iniciou na vida sexual”.
Em Casanova, Fellini canta o reverso da medalha. Muito já escrevi sobre Giacomo Casanova di Seingalt (1725 - 1798), que passou sua vida correndo atrás de saias, de Veneza a Paris, de Lisboa a Moscou, naqueles dias em que o meio de transporte mais confortável era uma carruagem puxada a cavalos. O outro era apenas o cavalo. Ao longo de sua vida, teria recebido as homenagens de cerca de duas mil mulheres. Quem for procurar o verbete na Internet, vai encontrar referência a 122 ou 123 mulheres. Isso é bobagem, cifra de qualquer moleque contemporâneo.
Aos sessenta anos, Casanova começa a escritura de suas memórias. “Agora que não posso mais viver, sento e escrevo sobre o que vivi”. Sem jamais ter pretendido fazer literatura, Casanova entra na História da Literatura, em função de sua vida aventureira. Freqüentou cortes e bordéis, prisão e caserna, clero e políticos, conventos e salões literários. Quem quiser se debruçar sobre o século XVIII - seja historiador, seja sociólogo, seja mero curioso - terá em Casanova um excelente guia. Em momento algum faz penitência de seu passado. “Cultivar o prazer dos sentidos foi sempre minha principal preocupação; nunca encontrei outra coisa mais importante. Sentindo-me nascido para o belo sexo, sempre o amei e por ele me fiz amar quanto pude. Apreciei também os bons manjares com transporte, e sempre me apaixonaram todos os objetos capazes de me excitar a curiosidade”.
O conquistador da Sereníssima República de Veneza não fica exatamente bem retratado no filme de Fellini, é visto como uma espécie de autômato na hora da cama, o que nada tem a ver com o homem que foi em vida. Don Giovanni, ente de imaginação, suscitava o ódio de suas conquistas, pois lhes oferecia amor e as humilhava. Casanova oferecia apenas prazer e não machucava ninguém. Seja como for, Fellini não ignorou estes dois personagens que ocorrem em todas as sociedades, as mulheres que vendem seu corpo e os homens que os compram. Não que Casanova fosse especializado em profissionais do sexo. Mas se fosse preciso pagar, pagava.
Tudo isto para comentar o insólito protesto das feministas que – logo na Itália de Aretino, Casanova, Moravia, Visconti e Fellini – pedem a demissão de Silvio Berlusconi, acusado de denegrir a imagem feminina ao se envolver em escândalo sexual com adolescentes.
Leio na Folha de São Paulo:
Centenas de milhares de mulheres italianas e apoiadores saíram às ruas em várias cidades do país e do mundo ontem para protestar contra o premiê Silvio Berlusconi, demonstrando indignação pelo escândalo sexual protagonizado pelo premiê com uma adolescente.
Segundo os organizadores da mobilização, os protestos tinham a intenção de falar contra a imagem "lesiva" que Berlusconi produz para a população feminina. O movimento foi chamado de "Se não agora, quando?" e surgiu espontaneamente na internet com o apoio de grupos feministas.
Paralelamente à concentração em Roma, foram realizadas outras com o mesmo tema, em Milão, Turim, Palermo, Nápoles, Trieste, Bolonha, entre outras 250 cidades italianas, que deram destaque para a mulher, que falaram alto e claro contra o primeiro-ministro. Anteontem, manifestações em 30 cidades italianas já tinham pedido a renúncia do premiê.
Cá entre nós, quem não gosta de adolescentes? Tanto Aschenbach como Humbert Humbert os adoravam, e não os condenamos por isso. Quando acontece na vida real, anátema seja! José também gostava. Maria tinha treze anos quando concebeu o Cristo. Imagino que as feministas nada tenham contra José. Nem contra o Paráclito, suponho.
Que se queira afastar o premiê do poder por suas falcatruas políticas, financeiras ou fiscais, entendo. Só o que faltava pedir sua demissão por suas festas, no país cujos vates cantaram em prosa e verso as profissionais do sexo.
Nas postrimerias do século passado, comentei este estranho poder da arte, que absolve todas as transgressões. Falava de Lolita. Meio século depois de publicado, o romance conserva seu potencial subversivo. Este vigor não decorre da obra em si. Mas da oposição a uma época que, de repente, parece ter optado pela hipocrisia e conservadorismo. Com seu romance, Nabokov imortalizou a personagem da adolescente sensual, que desde há muito tem perturbado homens maduros.
Para começar, foram as prediletas de Lewis Carrol, não por acaso um escritor que cultivou o gênero infanto-juvenil. Thomas Mann, por sua vez, criou uma versão masculina da adolescência erótica, com Tadzio, em Morte em Veneza, novela levada ao cinema por Visconti. Tadzio tem quatorze anos e espicaça o desejo do senil Aschenbach. Lolita tem doze. Wilhelm von Gloenden, em Taormina, fotografa adolescentes nus com um realismo que Visconti jamais ousaria. Segundo as más línguas, a fama dos meninos de Von Gloenden teriam feito até mesmo Nietzsche tomar o rumo da Sicília.
Tanto os livros de Mann e Nabokov, como os filmes a partir deles gerados, marcaram a sensibilidade de gerações. Mas vá um comum mortal assumir as preferências de Aschenbach ou Humbert Humbert. Será execrado como monstro pela mesma sociedade que aplaudiu os livros e os filmes. Com restrições, é verdade. Se Mann não teve maiores problemas com a censura, Nabokov teve não poucas dificuldades para editar seu livro. Mas, apesar do moralismo contemporâneo, a obra aí está. Em 2003, com uma tiragem de um milhão e cem mil exemplares, Lolita foi distribuída pela Folha de São Paulo aos compradores e assinantes do jornal. De graça.
As prostitutas sempre foram cantadas, tanto na literatura como na pintura ou na música. Boule de Suif, de Maupassant, até hoje nos encanta, foi inclusive glosada por Chico Buarque em Geni e o zepelim. Quem não se fascina pelas prostitutas de Iama, de Kuprin? Ou pela Sonia Siemionova, de Crime e Castigo? Ou pela Alejandra Vidal Olmos, de Ernesto Sábato? Quem não se enternece com a personagem interpretada por Shirley MacLaine, em Irma, la douce, de Billy Wilder? Quem não lembra de Adriana, em La Romana, de Alberto Moravia, novela levada ao cinema por Luigi Zampa? Só quem não leu o livro ou não viu o filme.
Sem ir mais longe, uma das glórias literárias da Itália, Pietro Aretino, "figlio di cortigiana con anima di re", autor de O Diálogo das Prostitutas, era admirado por personalidades como o papa Leão X, que lhe garantia uma vida de rei, como ele mesmo gostava de dizer.
Falar em cinema italiano, Federico Fellini foi um dos grandes cantores das prostitutas. Temos a Saraghina de 8 1/2, a Volpina e a Gradisca de Amarcord, a Maddalena de La Dolce Vita. Isso sem falar na personagem de As Noites de Cabíria, na interpretação comovente de Giulleta Masina. Para Fellini, “a prostituta é o contraponto essencial da mãe italiana. Não se pode conceber uma sem a outra. Da mesma forma que nossa mãe nos alimentou e vestiu, a puta nos iniciou na vida sexual”.
Em Casanova, Fellini canta o reverso da medalha. Muito já escrevi sobre Giacomo Casanova di Seingalt (1725 - 1798), que passou sua vida correndo atrás de saias, de Veneza a Paris, de Lisboa a Moscou, naqueles dias em que o meio de transporte mais confortável era uma carruagem puxada a cavalos. O outro era apenas o cavalo. Ao longo de sua vida, teria recebido as homenagens de cerca de duas mil mulheres. Quem for procurar o verbete na Internet, vai encontrar referência a 122 ou 123 mulheres. Isso é bobagem, cifra de qualquer moleque contemporâneo.
Aos sessenta anos, Casanova começa a escritura de suas memórias. “Agora que não posso mais viver, sento e escrevo sobre o que vivi”. Sem jamais ter pretendido fazer literatura, Casanova entra na História da Literatura, em função de sua vida aventureira. Freqüentou cortes e bordéis, prisão e caserna, clero e políticos, conventos e salões literários. Quem quiser se debruçar sobre o século XVIII - seja historiador, seja sociólogo, seja mero curioso - terá em Casanova um excelente guia. Em momento algum faz penitência de seu passado. “Cultivar o prazer dos sentidos foi sempre minha principal preocupação; nunca encontrei outra coisa mais importante. Sentindo-me nascido para o belo sexo, sempre o amei e por ele me fiz amar quanto pude. Apreciei também os bons manjares com transporte, e sempre me apaixonaram todos os objetos capazes de me excitar a curiosidade”.
O conquistador da Sereníssima República de Veneza não fica exatamente bem retratado no filme de Fellini, é visto como uma espécie de autômato na hora da cama, o que nada tem a ver com o homem que foi em vida. Don Giovanni, ente de imaginação, suscitava o ódio de suas conquistas, pois lhes oferecia amor e as humilhava. Casanova oferecia apenas prazer e não machucava ninguém. Seja como for, Fellini não ignorou estes dois personagens que ocorrem em todas as sociedades, as mulheres que vendem seu corpo e os homens que os compram. Não que Casanova fosse especializado em profissionais do sexo. Mas se fosse preciso pagar, pagava.
Tudo isto para comentar o insólito protesto das feministas que – logo na Itália de Aretino, Casanova, Moravia, Visconti e Fellini – pedem a demissão de Silvio Berlusconi, acusado de denegrir a imagem feminina ao se envolver em escândalo sexual com adolescentes.
Leio na Folha de São Paulo:
Centenas de milhares de mulheres italianas e apoiadores saíram às ruas em várias cidades do país e do mundo ontem para protestar contra o premiê Silvio Berlusconi, demonstrando indignação pelo escândalo sexual protagonizado pelo premiê com uma adolescente.
Segundo os organizadores da mobilização, os protestos tinham a intenção de falar contra a imagem "lesiva" que Berlusconi produz para a população feminina. O movimento foi chamado de "Se não agora, quando?" e surgiu espontaneamente na internet com o apoio de grupos feministas.
Paralelamente à concentração em Roma, foram realizadas outras com o mesmo tema, em Milão, Turim, Palermo, Nápoles, Trieste, Bolonha, entre outras 250 cidades italianas, que deram destaque para a mulher, que falaram alto e claro contra o primeiro-ministro. Anteontem, manifestações em 30 cidades italianas já tinham pedido a renúncia do premiê.
Cá entre nós, quem não gosta de adolescentes? Tanto Aschenbach como Humbert Humbert os adoravam, e não os condenamos por isso. Quando acontece na vida real, anátema seja! José também gostava. Maria tinha treze anos quando concebeu o Cristo. Imagino que as feministas nada tenham contra José. Nem contra o Paráclito, suponho.
Que se queira afastar o premiê do poder por suas falcatruas políticas, financeiras ou fiscais, entendo. Só o que faltava pedir sua demissão por suas festas, no país cujos vates cantaram em prosa e verso as profissionais do sexo.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
O RONALDÃO e O SARNEY
João Eichbaum
Saiu no twitter do Supremo Tribunal Federal: “ ouvi por aí agora que o Ronaldo se aposentou, quando será que o Sarney vai resolver pendurar as chuteiras?”
Quando o Cesar Peluso, o presidente do STF (aquele mesmo que, para satisfazer interesse personalíssimo, decorou seu gabinete com móveis do tempo do império às custas do contribuinte) tomou conhecimento da piada, virou fera. Mandou afastar a funcionária de uma empresa terceirizada, a quem teria sido atribuída a frase e pediu “encarecidas desculpas” pelos “comentários impróprios a respeito da eminente autoridade”.
Bom, em primeiro lugar, tirando o povo maranhense e mais o Cesar Peluso, o Brasil inteiro não só está aplaudindo a moça demitida, pela piada de ótimo gosto, como gostaria de incluir alguma coisa, algum adjetivo, ou advérbio mais forte na frase, para apimentá-la.
Da forma como está, não há nada de “desrespeitoso” na piada da moça.
Tanto assim é que o próprio Sarney levou na esportiva, tirou de letra e saiu como herói. Sua primeira providência foi telefonar ao Peluso, pedindo que não tomasse nenhuma providência contra a moça. Depois, agradeceu à referida funcionária por ter ela “ feito um julgamento muito bom a meu respeito”. E mais, o velho Sarney ainda agradeceu por ter sido comparado ao Ronaldão gordo.
Com que cara ficou o Peluso, hein?
Que lição de humildade o velho Sarney lhe deu!
E depois de receber uma "lição de moral" do Sarney, o lugar mais digno em que o cara pode se esconder será na vagina duma égua.
Não sei o que aconteceu com a moça. Talvez o pedido do Sarney tenha chegado tarde. Peluso, como juiz, cheio de poder, com as mãos cheias de jurisdição, certamente, não voltou atrás. Porque não é costume dos juízes voltarem atrás, reconhecerem o erro e manifestarem humildade. Pode haver exceções, e as há certamente, mas a regra é a da petulância, da imposição da autoridade, que conta com o peso da ignorância.
Do episódio sobra uma conclusão inevitável: a submissão oficial do Judiciário ao Sarney.
Agora está perfeitamente explicada a censura imposta pela justiça ao jornal Estado de São Paulo, proibindo-o de divulgar as falcatruas do Sarney e de sua família. A subserviência, a curvatura da espinha diante do Sarney é que fez o Judiciário mandar às favas a Constituição Federal, riscando dela o direito de liberdade de expressão, para que não fosse ofendida aquela “respeitável” família, dona de todo o Estado do Maranhão.
Bem, se pisotear a Constituição não custa nada para o Judiciário, será coisa de somenos o “afastamento” de uma funcionária que não pertence aos quadros do Supremo. Contra os pobres, tudo vale. Que o diga aquele estagiário que foi “demitido” sumariamente, aos berros, pelo presidente do STJ, por estar muito perto de Sua Excelência, num caixa eletrônico do Banco.
João Eichbaum
Saiu no twitter do Supremo Tribunal Federal: “ ouvi por aí agora que o Ronaldo se aposentou, quando será que o Sarney vai resolver pendurar as chuteiras?”
Quando o Cesar Peluso, o presidente do STF (aquele mesmo que, para satisfazer interesse personalíssimo, decorou seu gabinete com móveis do tempo do império às custas do contribuinte) tomou conhecimento da piada, virou fera. Mandou afastar a funcionária de uma empresa terceirizada, a quem teria sido atribuída a frase e pediu “encarecidas desculpas” pelos “comentários impróprios a respeito da eminente autoridade”.
Bom, em primeiro lugar, tirando o povo maranhense e mais o Cesar Peluso, o Brasil inteiro não só está aplaudindo a moça demitida, pela piada de ótimo gosto, como gostaria de incluir alguma coisa, algum adjetivo, ou advérbio mais forte na frase, para apimentá-la.
Da forma como está, não há nada de “desrespeitoso” na piada da moça.
Tanto assim é que o próprio Sarney levou na esportiva, tirou de letra e saiu como herói. Sua primeira providência foi telefonar ao Peluso, pedindo que não tomasse nenhuma providência contra a moça. Depois, agradeceu à referida funcionária por ter ela “ feito um julgamento muito bom a meu respeito”. E mais, o velho Sarney ainda agradeceu por ter sido comparado ao Ronaldão gordo.
Com que cara ficou o Peluso, hein?
Que lição de humildade o velho Sarney lhe deu!
E depois de receber uma "lição de moral" do Sarney, o lugar mais digno em que o cara pode se esconder será na vagina duma égua.
Não sei o que aconteceu com a moça. Talvez o pedido do Sarney tenha chegado tarde. Peluso, como juiz, cheio de poder, com as mãos cheias de jurisdição, certamente, não voltou atrás. Porque não é costume dos juízes voltarem atrás, reconhecerem o erro e manifestarem humildade. Pode haver exceções, e as há certamente, mas a regra é a da petulância, da imposição da autoridade, que conta com o peso da ignorância.
Do episódio sobra uma conclusão inevitável: a submissão oficial do Judiciário ao Sarney.
Agora está perfeitamente explicada a censura imposta pela justiça ao jornal Estado de São Paulo, proibindo-o de divulgar as falcatruas do Sarney e de sua família. A subserviência, a curvatura da espinha diante do Sarney é que fez o Judiciário mandar às favas a Constituição Federal, riscando dela o direito de liberdade de expressão, para que não fosse ofendida aquela “respeitável” família, dona de todo o Estado do Maranhão.
Bem, se pisotear a Constituição não custa nada para o Judiciário, será coisa de somenos o “afastamento” de uma funcionária que não pertence aos quadros do Supremo. Contra os pobres, tudo vale. Que o diga aquele estagiário que foi “demitido” sumariamente, aos berros, pelo presidente do STJ, por estar muito perto de Sua Excelência, num caixa eletrônico do Banco.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
PÃO e CIRCO
João Eichbaum
Você conhece Tartarugalzinho? Sabe onde fica?
Pois, fica no Amapá, que é representado, no Senado, pelo Sarney.
Você sabia que foi destinada, no orçamento, uma verba para a “compra de instrumentos musicais” para Tartarugalzinho?
A notícia não diz qual foi o parlamentar autor da emenda, mas o certo é que iniciativa partiu do Congresso.
E Arapiraca, você sabe onde fica?
Nas Alagoas, terra do Calheiros, do Collor, essa gentinha toda.
Então, sente, e leia: foi destinada, no orçamento, por emenda de algum deputado ou senador, uma verba para “apoio financeiro à Paixão de Cristo de Arapiraca”.
Para a “construção de um centro de convivência de idosos” em Goiânia também foi destinada uma verba no orçamento. Através de emenda parlamentar, é claro.
Igualmente São Paulo teve verba destinada. Não para construção de estradas, para saneamento, para educação, para segurança, mas uma verba para a “preservação do patrimônio histórico da Mitra Arquidiocesana”.
Você viu agora para onde os parlamentares querem mandar o nosso dinheiro?
Nós que trabalhamos mais de três meses por ano exclusivamente para o governo, teríamos que subvencionar instrumentos musicais para Tartarugalzinho, a Paixão de Cristo de Arapiraca, o centro de convivência dos idosos em Goiânia, e o patrimônio histórico da Mitra Diocesana de São Paulo.
Deputados ou senadores, seja lá quem for, usam, sem qualquer escrúpulo, do suor do nosso rosto, para beneficiar o interesse de grupos ou pessoas, proporcionando uma distribuição nada equânime do dinheiro que entregamos ao governo.
Que razões haverá para que patrocinemos instrumentos musicais para Tartarugalzinho? O que é que nós temos a ver com Tartarugalzinho?
Que razões haverá para que patrocinemos a Paixão de Cristo de Arapiraca?
Sobre nossos ombros há de recair a responsabilidade pelo lazer dos idosos de Goiânia?
Teremos que assumir o papel que cabe a seus familiares?
E o arcebispo de São Paulo quer construir um museu às nossas custas? E nós, contribuintes, teremos que incrementar o patrimônio da Igreja Católica naquele Estado?
Que temos nós a ver com isso? Jesus Cristo, que fazia milagres, não entra com nada?
Pois saiba você que Dilma terminou com essa farra: cortou do orçamento esses favores com destino certo, o espírito circense, dando a primeira picada no rabo da demagogia.
Ela demonstra saber que há coisas mais importantes, na ordem das necessidades, do que instrumentos musicais, paixões de Cristo, passatempo para idosos e histórias eclesiásticas.
No dia em que houver dinheiro de sobra para saúde, segurança e educação, o lazer poderá pleitear a sua parte. Por enquanto, ainda não. Que haja verba para o pão, tudo bem. Mas, para o circo, que cada um pague sua entrada.
João Eichbaum
Você conhece Tartarugalzinho? Sabe onde fica?
Pois, fica no Amapá, que é representado, no Senado, pelo Sarney.
Você sabia que foi destinada, no orçamento, uma verba para a “compra de instrumentos musicais” para Tartarugalzinho?
A notícia não diz qual foi o parlamentar autor da emenda, mas o certo é que iniciativa partiu do Congresso.
E Arapiraca, você sabe onde fica?
Nas Alagoas, terra do Calheiros, do Collor, essa gentinha toda.
Então, sente, e leia: foi destinada, no orçamento, por emenda de algum deputado ou senador, uma verba para “apoio financeiro à Paixão de Cristo de Arapiraca”.
Para a “construção de um centro de convivência de idosos” em Goiânia também foi destinada uma verba no orçamento. Através de emenda parlamentar, é claro.
Igualmente São Paulo teve verba destinada. Não para construção de estradas, para saneamento, para educação, para segurança, mas uma verba para a “preservação do patrimônio histórico da Mitra Arquidiocesana”.
Você viu agora para onde os parlamentares querem mandar o nosso dinheiro?
Nós que trabalhamos mais de três meses por ano exclusivamente para o governo, teríamos que subvencionar instrumentos musicais para Tartarugalzinho, a Paixão de Cristo de Arapiraca, o centro de convivência dos idosos em Goiânia, e o patrimônio histórico da Mitra Diocesana de São Paulo.
Deputados ou senadores, seja lá quem for, usam, sem qualquer escrúpulo, do suor do nosso rosto, para beneficiar o interesse de grupos ou pessoas, proporcionando uma distribuição nada equânime do dinheiro que entregamos ao governo.
Que razões haverá para que patrocinemos instrumentos musicais para Tartarugalzinho? O que é que nós temos a ver com Tartarugalzinho?
Que razões haverá para que patrocinemos a Paixão de Cristo de Arapiraca?
Sobre nossos ombros há de recair a responsabilidade pelo lazer dos idosos de Goiânia?
Teremos que assumir o papel que cabe a seus familiares?
E o arcebispo de São Paulo quer construir um museu às nossas custas? E nós, contribuintes, teremos que incrementar o patrimônio da Igreja Católica naquele Estado?
Que temos nós a ver com isso? Jesus Cristo, que fazia milagres, não entra com nada?
Pois saiba você que Dilma terminou com essa farra: cortou do orçamento esses favores com destino certo, o espírito circense, dando a primeira picada no rabo da demagogia.
Ela demonstra saber que há coisas mais importantes, na ordem das necessidades, do que instrumentos musicais, paixões de Cristo, passatempo para idosos e histórias eclesiásticas.
No dia em que houver dinheiro de sobra para saúde, segurança e educação, o lazer poderá pleitear a sua parte. Por enquanto, ainda não. Que haja verba para o pão, tudo bem. Mas, para o circo, que cada um pague sua entrada.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
COM A PALAVRA, HUGO CASSEL
TURISMO NA UTI
Hugo Cassel-Abrajet SC
Um dos livros de Jorge Amado, leva o título: Tereza Batista Cansada de Guerra. É uma ficção, mas a frase vale para todos nós, na maior parte do mundo. Menos no Egito onde por incrível que seja , parte do povo, parece estar “Cansado de Paz”. Pessoa de minha família que visitou recentemente país dos Faraós, conta que existiam alimentos abundantes, serviços bastante aceitáveis como hotéis, transporte e segurança. Algumas coisas segundo os guias de turismo, como de resto em toda parte, eram restritas. As atrações turísticas como as Pirâmides, passeios de barco pelo Nilo, Vale dos Reis, Museus e bibliotecas, muito embora os milhares de pessoas, lhe pareceu bem organizados. Centenas, quem sabe milhares de pessoas a maioria jovens, que proporcionam as tradicionais fotos em camelos e cavalos no deserto, todos prestativos e atenciosos. Núcleos de pobreza é claro que foram observados, mas isso não é novidade em nenhum lugar do planeta. O único país do mundo onde se leva turista para conhecer a miséria das favelas cariocas é o Brasil. É também onde se faz filme sobre o lixo, para concorrer ao Oscar como este ano. O que está agora acontecendo no Egito é nada mais nada menos do que a tentativa de uma minoria de acabar com tudo o que tem trazido de lucro, 30 anos sem guerra, depois daquela que durou 6 dias após o assassinato do Presidente Anuar Sadat. A reposição do ódio contra Israel e a implantação da lei Islâmica, como no Iraque e Iran, onde é legal matar pessoas a pedradas, por se amarem. Nesses países, também berço da civilização, direitos humanos é “invenção” americana. Não reconhecem em absoluto que todos nós temos direito de exigir proteção e respeito para algo que também é nosso. No Egito animais sem alimento, morrem nas ruas e milhares de trabalhadores em turismo passam fome. Muitos deles, se sabe, se incluem entre os “atiradores de pedras”, sem se dar conta que a falência do turismo, será sua própria desgraça. Quem nos dias de hoje compra pacotes ou viaja por conta para visitar o Iraque? Ou o Iran? Quem vai se aventurar a visitar o Egito, depois que o regime for mudado? Mesmo que o atual governo consiga superar a crise atendendo reinvindicações da oposição o prejuízo é irreparável. Bilhões de Euros deixaram de entrar e milhões de pessoas deixaram de visitar o país, gerando desemprego. Muito tempo levará para que a maior indústria do século que é o turismo possa recuperar sua vital importância na economia do Egito, e sair da UTI onde se encontra no momento. Mesmo que o Presidente seja afastado, renuncie, ou passe os poderes para o vice, nada garante que a política religiosa radical islâmica seja implantada. É preciso o exército estar de acordo e principalmente enfrentar os Estados Unidos que consideram o Egito fator importante para o frágil equilíbrio político do Oriente Médio. Até as eleições de Setembro o tabuleiro será de intenso movimento entre suas peças.
Hugo Cassel-Abrajet SC
Um dos livros de Jorge Amado, leva o título: Tereza Batista Cansada de Guerra. É uma ficção, mas a frase vale para todos nós, na maior parte do mundo. Menos no Egito onde por incrível que seja , parte do povo, parece estar “Cansado de Paz”. Pessoa de minha família que visitou recentemente país dos Faraós, conta que existiam alimentos abundantes, serviços bastante aceitáveis como hotéis, transporte e segurança. Algumas coisas segundo os guias de turismo, como de resto em toda parte, eram restritas. As atrações turísticas como as Pirâmides, passeios de barco pelo Nilo, Vale dos Reis, Museus e bibliotecas, muito embora os milhares de pessoas, lhe pareceu bem organizados. Centenas, quem sabe milhares de pessoas a maioria jovens, que proporcionam as tradicionais fotos em camelos e cavalos no deserto, todos prestativos e atenciosos. Núcleos de pobreza é claro que foram observados, mas isso não é novidade em nenhum lugar do planeta. O único país do mundo onde se leva turista para conhecer a miséria das favelas cariocas é o Brasil. É também onde se faz filme sobre o lixo, para concorrer ao Oscar como este ano. O que está agora acontecendo no Egito é nada mais nada menos do que a tentativa de uma minoria de acabar com tudo o que tem trazido de lucro, 30 anos sem guerra, depois daquela que durou 6 dias após o assassinato do Presidente Anuar Sadat. A reposição do ódio contra Israel e a implantação da lei Islâmica, como no Iraque e Iran, onde é legal matar pessoas a pedradas, por se amarem. Nesses países, também berço da civilização, direitos humanos é “invenção” americana. Não reconhecem em absoluto que todos nós temos direito de exigir proteção e respeito para algo que também é nosso. No Egito animais sem alimento, morrem nas ruas e milhares de trabalhadores em turismo passam fome. Muitos deles, se sabe, se incluem entre os “atiradores de pedras”, sem se dar conta que a falência do turismo, será sua própria desgraça. Quem nos dias de hoje compra pacotes ou viaja por conta para visitar o Iraque? Ou o Iran? Quem vai se aventurar a visitar o Egito, depois que o regime for mudado? Mesmo que o atual governo consiga superar a crise atendendo reinvindicações da oposição o prejuízo é irreparável. Bilhões de Euros deixaram de entrar e milhões de pessoas deixaram de visitar o país, gerando desemprego. Muito tempo levará para que a maior indústria do século que é o turismo possa recuperar sua vital importância na economia do Egito, e sair da UTI onde se encontra no momento. Mesmo que o Presidente seja afastado, renuncie, ou passe os poderes para o vice, nada garante que a política religiosa radical islâmica seja implantada. É preciso o exército estar de acordo e principalmente enfrentar os Estados Unidos que consideram o Egito fator importante para o frágil equilíbrio político do Oriente Médio. Até as eleições de Setembro o tabuleiro será de intenso movimento entre suas peças.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
CRÔNICAS DO COTIDIANO
A ARTE DE GOVERNAR e A FANFARRONICE
João Eichbaum
Não votei na Dilma. Votei no bocaberta do Serra. Não votei na Dilma por preconceito, porque ela é comunista, porque se envolveu na guerrilha contra o governo militar e também porque fez parte da equipe do parlapatão Luiz Inácio da Silva.
Confesso que votei no Serra sem a mínima convicção. Porque a única coisa que ele fez na vida foi politicagem. Começou na Une e de lá, depois de algum tempo fora do país, com medo do governo militar, retomou a política. Mas nunca demonstrou competência fora da política. Nunca demonstrou porque chegou lá.
Enfim, votei nele, sem convicção, porque não tinha alternativa.
A Dilma, ao contrário do Serra, foi linha de frente na oposição aos governos militares. Foi presa, pagou pelo que fez.
Ao que eu saiba, não fugiu do país, como o Serra, o Fernando Henrique, o Brizola e outros.
Detesto o comunismo e, por detestar o comunismo, repito, não votei na Dilma, porque supus, como muita gente, que ela ia querer instalar um governo tipo Chaves ou Fidel Castro aqui.
Parece que estou me enganando. E tomara que assim seja.
Sem pedigree, sem nunca ter sido meramente política, sem nunca ter disputado uma eleição, a Dilma está revelando um lado que eu, pelo menos, não conhecia: bom senso na arte de governar.
Sua contenção de despesas arrancou meus aplausos. E agora, depois de vê-la e ouvi-la com seus propósitos de mudar os rumos da educação deste país, me levanto para aplaudi-la.
Que se danem os pedagogos. A nossa realidade não é a realidade da França ou de outros países desenvolvidos. A nossa realidade é a da pobreza e, para sairmos da pobreza, necessitamos, além de comida, de educação.
Não adianta dar comida, como fazia o Lula, sem reforço na educação.
E parece que o objetivo da Dilma é esse, sem descuidar do social, investir na educação, em todos os níveis: fundamental, médio, técnico e universitário. Diante de tais propósitos, pode-se debitar a imobilidade demonstrada na episódio das enchentes do Rio de Janeiro ao gigantismo da máquina estatal, despreparada para as surpresas do cotidiano.
Ao contrário da Dilma, o “doutor” Tarso até agora só demonstrou uma preocupação: dar emprego para a companheirada, com ótimos salários. Até empréstimo já conseguiu, com esse objetivo. Ah, sim, e mandou leis para a Assembléia, tratando de assuntos impertinentes como a pensão dos governadores futuros (a dele inclusive) mas de obras, nem sinal.
Antes que me esqueça, o “doutor” Tarso foi um dos fujões, um dos muitos que deixaram o país, se borrando de medo dos militares.
Que a Dilma continue assim. E lhe agradeceremos de todo o coração por nos livrar definitivamente de parlapatões, tipo Lula e Tarso, que só têm gogó, pra enganar a platéia, com fanfarronices políticas e nada mais.
João Eichbaum
Não votei na Dilma. Votei no bocaberta do Serra. Não votei na Dilma por preconceito, porque ela é comunista, porque se envolveu na guerrilha contra o governo militar e também porque fez parte da equipe do parlapatão Luiz Inácio da Silva.
Confesso que votei no Serra sem a mínima convicção. Porque a única coisa que ele fez na vida foi politicagem. Começou na Une e de lá, depois de algum tempo fora do país, com medo do governo militar, retomou a política. Mas nunca demonstrou competência fora da política. Nunca demonstrou porque chegou lá.
Enfim, votei nele, sem convicção, porque não tinha alternativa.
A Dilma, ao contrário do Serra, foi linha de frente na oposição aos governos militares. Foi presa, pagou pelo que fez.
Ao que eu saiba, não fugiu do país, como o Serra, o Fernando Henrique, o Brizola e outros.
Detesto o comunismo e, por detestar o comunismo, repito, não votei na Dilma, porque supus, como muita gente, que ela ia querer instalar um governo tipo Chaves ou Fidel Castro aqui.
Parece que estou me enganando. E tomara que assim seja.
Sem pedigree, sem nunca ter sido meramente política, sem nunca ter disputado uma eleição, a Dilma está revelando um lado que eu, pelo menos, não conhecia: bom senso na arte de governar.
Sua contenção de despesas arrancou meus aplausos. E agora, depois de vê-la e ouvi-la com seus propósitos de mudar os rumos da educação deste país, me levanto para aplaudi-la.
Que se danem os pedagogos. A nossa realidade não é a realidade da França ou de outros países desenvolvidos. A nossa realidade é a da pobreza e, para sairmos da pobreza, necessitamos, além de comida, de educação.
Não adianta dar comida, como fazia o Lula, sem reforço na educação.
E parece que o objetivo da Dilma é esse, sem descuidar do social, investir na educação, em todos os níveis: fundamental, médio, técnico e universitário. Diante de tais propósitos, pode-se debitar a imobilidade demonstrada na episódio das enchentes do Rio de Janeiro ao gigantismo da máquina estatal, despreparada para as surpresas do cotidiano.
Ao contrário da Dilma, o “doutor” Tarso até agora só demonstrou uma preocupação: dar emprego para a companheirada, com ótimos salários. Até empréstimo já conseguiu, com esse objetivo. Ah, sim, e mandou leis para a Assembléia, tratando de assuntos impertinentes como a pensão dos governadores futuros (a dele inclusive) mas de obras, nem sinal.
Antes que me esqueça, o “doutor” Tarso foi um dos fujões, um dos muitos que deixaram o país, se borrando de medo dos militares.
Que a Dilma continue assim. E lhe agradeceremos de todo o coração por nos livrar definitivamente de parlapatões, tipo Lula e Tarso, que só têm gogó, pra enganar a platéia, com fanfarronices políticas e nada mais.
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
KAFKA EXPLICA BRASIL
Em meus dias de Direito, em uma aula de Processo Penal, comentei:- Parece coisa do Kafka.- Kafka? – me perguntou o professor -. É aluno desta faculdade?
Isto ocorreu no Curso de Ciências Jurídicas e Sociais, da Faculdade de Direito de Santa Maria. Juro. Mas meu professor não estava exatamente longe da verdade. Kafka se formou em Direito, trabalhou algum tempo como advogado e – não por acaso – escreveu O Processo.
Para encurtar a conversa, faço minha a síntese proposta pela Bompiani. Um dia, ao despertar na pensão em que vive, o empregado de banco Josef K. descobre dois indivíduos vestidos com um extravagante uniforme que dizem ter vindo para prendê-lo, em nome de um misterioso tribunal, notificando-o que está sendo preparado um processo contra ele. Não lhe revelam o crime cometido. No entanto, não será uma verdadeira detenção: poderá seguir ocupando-se de seus negócios e somente de vez em quando receberá uma citação para apresentar-se aos interrogatórios. Mal lhe ocorre a idéia de que aquilo fosse uma piada preparada por seus colegas de escritório, precisamente naquele dia, quando completava 30 anos. De uma maneira vaga, K. sente toda a gravidade da desgraça que lhe caiu sobre os ombros.
Com certa arrogância, aceita o processo, vai às audiências, justificando para si e para os demais seu comportamento com a necessidade de rechaçar a acusação caluniosa e esclarecer, em interesse de todo cidadão pacífico, a corrupção e a imoralidade da magistratura que pretende julgá-lo. Mas os primeiros contatos com a gigantesca e misteriosa organização dão a K. um escalafrio de terror e a medida de sua impotência.
Logo não consegue pensar em outra coisa. Descuida de seu trabalho no escritório para passar longas horas perdido no exame das várias possibilidades de salvação que aparentemente lhe são oferecidas, ou corre de um lado a outro da cidade para confiar sua defesa a um advogado ou para buscar a ajuda de qualquer pessoa que conheça os juízes encarregados de seu processo.
Quando se dá conta de que não existe nenhum intermediário entre ele e seu processo, que tudo que não é ele mesmo é processo, e mais ainda, que também ele mesmo chegou a fazer parte do processo, então já não lhe resta outro remédio senão aguardar a execução de uma condenação já pronunciada.
Mutatis mutandis, isto ocorreu há pouco no Rio Grande do Sul. Transcrevo a notícia da Folha de São Paulo:No dia 30 de setembro de 2002, um caseiro gaúcho conhecido como "Garnisé" aproveitou a pouca vigilância do patrão e furtou da propriedade, em Porto Alegre, cinco galinhas e dois sacos de ração. Embora tenha devolvido as aves e a ração furtadas, nos oito anos seguintes o fato mobilizou o moroso Judiciário brasileiro."Garnisé", então com 26 anos, foi denunciado em 2006 sob a acusação de "subtrair coisa alheia móvel" (artigo 155 do Código Penal). O crime é passível de pena de um a quatro anos de prisão e multa. A ação penal contra ele somente veio a ser trancada em novembro último pelo Supremo Tribunal Federal.Contrariando parecer do Procurador-geral da República, a 2ª Turma do STF acompanhou, por unanimidade, o voto do ministro Ayres Britto do STF, que reconheceu a "inexpressividade econômica e social" do furto. E mais: ressaltou que a coisa furtada já havia sido devolvida. Ayres Britto entendeu que não era o caso de "se mobilizar a máquina custosa, delicada e ao mesmo tempo complexa" do Judiciário, para, afinal, "não ter o que substancialmente proteger ou tutelar", pois as penosas e a ração haviam sido restituídas.
Dois pontos polêmicos provocaram a longa tramitação. Inicialmente, uma juíza gaúcha recebeu a denúncia. Depois, outra magistrada, após interrogar "Garnisé", rejeitou a denúncia, com base no princípio da insignificância (ou seja, seria um crime de bagatela, fato que não constitui infração penal). O Ministério Público apelou, pois entendeu que a juíza não poderia ter antecipado a absolvição. O Tribunal de Justiça gaúcho anulou a decisão da juíza.
A Defensoria impetrou habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça. No entanto, a 5ª Turma considerou que a conduta de "Garnisé" não poderia ser considerada irrelevante para o direito penal. Os dois sacos de ração e as cinco galinhas foram avaliados em R$ 286. O STJ decidiu que, no caso de furto, "não se pode confundir bem de pequeno valor com o de valor insignificante".Ou seja, o furto cometido por "Garnisé" não poderia ser considerado bagatela.
Essa controvérsia foi dirimida pelo ministro Ayres Britto. Ele viu na conduta do caseiro "muito mais a extrema carência material do paciente do que indícios de um estilo de vida em franca aproximação da delituosidade".
Um roubo de galinhas ocupou a máquina judiciária do país durante nove anos e mobilizou inclusive os vulturinos magistrados da Suprema Corte do país. Kafka, advogado, sabia do que falava.
Comentei há pouco o caso do menino que roubava carros desde os nove anos e, aos 14, conseguiu a proeza de ter roubado não menos que 17 carros. No mesmo jornal, comentou um psicanalista:- Isso não é visto como um talento. A posição do Estado é repressiva, apreendeu 17 vezes e não adiantou nada. A Justiça falha ao não ver o talento desse menino. É mais fácil criminalizar.A sociedade, insensível, não reconhece os insuspeitos talentos da atual juventude.
Mas agora vem o melhor. Iasin Issa Ahmed, titular da maior vara da infância da América do Sul, acha que tais delinqüentes devem ir não para a cadeia, mas para escolas obrigatórias de tempo integral com saída controlada para os garotos de alto risco". Os equipamentos dessas escolas seriam mais especializados do que os da Fundação Casa e exigiriam uma restrição de direitos que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não permite. "Não pode ser só um internato. Teria de atrair os meninos de forma que eles não queiram pular o muro, ser uma espécie de colégio suíço."
Garnisé, culpado do hediondo crime de ter roubado cinco galinhas, mereceu a atenção da Justiça brasileira por quase uma década. O menino ladrão de carros, aos 14 anos, montou um currículo invejável. Tem talento, como dizia o psicanalista, e certamente um promissor futuro pela frente. Se K. é condenado por um crime que não sabe qual seja, neste país incrível um delinqüente, responsável por crimes bem definidos, merece não a prisão, mas colégio de elite.
Kafka pretendia fazer ficção. Tivesse ocasião de conhecer o Brasil, estaria fazendo reportagem.
Em meus dias de Direito, em uma aula de Processo Penal, comentei:- Parece coisa do Kafka.- Kafka? – me perguntou o professor -. É aluno desta faculdade?
Isto ocorreu no Curso de Ciências Jurídicas e Sociais, da Faculdade de Direito de Santa Maria. Juro. Mas meu professor não estava exatamente longe da verdade. Kafka se formou em Direito, trabalhou algum tempo como advogado e – não por acaso – escreveu O Processo.
Para encurtar a conversa, faço minha a síntese proposta pela Bompiani. Um dia, ao despertar na pensão em que vive, o empregado de banco Josef K. descobre dois indivíduos vestidos com um extravagante uniforme que dizem ter vindo para prendê-lo, em nome de um misterioso tribunal, notificando-o que está sendo preparado um processo contra ele. Não lhe revelam o crime cometido. No entanto, não será uma verdadeira detenção: poderá seguir ocupando-se de seus negócios e somente de vez em quando receberá uma citação para apresentar-se aos interrogatórios. Mal lhe ocorre a idéia de que aquilo fosse uma piada preparada por seus colegas de escritório, precisamente naquele dia, quando completava 30 anos. De uma maneira vaga, K. sente toda a gravidade da desgraça que lhe caiu sobre os ombros.
Com certa arrogância, aceita o processo, vai às audiências, justificando para si e para os demais seu comportamento com a necessidade de rechaçar a acusação caluniosa e esclarecer, em interesse de todo cidadão pacífico, a corrupção e a imoralidade da magistratura que pretende julgá-lo. Mas os primeiros contatos com a gigantesca e misteriosa organização dão a K. um escalafrio de terror e a medida de sua impotência.
Logo não consegue pensar em outra coisa. Descuida de seu trabalho no escritório para passar longas horas perdido no exame das várias possibilidades de salvação que aparentemente lhe são oferecidas, ou corre de um lado a outro da cidade para confiar sua defesa a um advogado ou para buscar a ajuda de qualquer pessoa que conheça os juízes encarregados de seu processo.
Quando se dá conta de que não existe nenhum intermediário entre ele e seu processo, que tudo que não é ele mesmo é processo, e mais ainda, que também ele mesmo chegou a fazer parte do processo, então já não lhe resta outro remédio senão aguardar a execução de uma condenação já pronunciada.
Mutatis mutandis, isto ocorreu há pouco no Rio Grande do Sul. Transcrevo a notícia da Folha de São Paulo:No dia 30 de setembro de 2002, um caseiro gaúcho conhecido como "Garnisé" aproveitou a pouca vigilância do patrão e furtou da propriedade, em Porto Alegre, cinco galinhas e dois sacos de ração. Embora tenha devolvido as aves e a ração furtadas, nos oito anos seguintes o fato mobilizou o moroso Judiciário brasileiro."Garnisé", então com 26 anos, foi denunciado em 2006 sob a acusação de "subtrair coisa alheia móvel" (artigo 155 do Código Penal). O crime é passível de pena de um a quatro anos de prisão e multa. A ação penal contra ele somente veio a ser trancada em novembro último pelo Supremo Tribunal Federal.Contrariando parecer do Procurador-geral da República, a 2ª Turma do STF acompanhou, por unanimidade, o voto do ministro Ayres Britto do STF, que reconheceu a "inexpressividade econômica e social" do furto. E mais: ressaltou que a coisa furtada já havia sido devolvida. Ayres Britto entendeu que não era o caso de "se mobilizar a máquina custosa, delicada e ao mesmo tempo complexa" do Judiciário, para, afinal, "não ter o que substancialmente proteger ou tutelar", pois as penosas e a ração haviam sido restituídas.
Dois pontos polêmicos provocaram a longa tramitação. Inicialmente, uma juíza gaúcha recebeu a denúncia. Depois, outra magistrada, após interrogar "Garnisé", rejeitou a denúncia, com base no princípio da insignificância (ou seja, seria um crime de bagatela, fato que não constitui infração penal). O Ministério Público apelou, pois entendeu que a juíza não poderia ter antecipado a absolvição. O Tribunal de Justiça gaúcho anulou a decisão da juíza.
A Defensoria impetrou habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça. No entanto, a 5ª Turma considerou que a conduta de "Garnisé" não poderia ser considerada irrelevante para o direito penal. Os dois sacos de ração e as cinco galinhas foram avaliados em R$ 286. O STJ decidiu que, no caso de furto, "não se pode confundir bem de pequeno valor com o de valor insignificante".Ou seja, o furto cometido por "Garnisé" não poderia ser considerado bagatela.
Essa controvérsia foi dirimida pelo ministro Ayres Britto. Ele viu na conduta do caseiro "muito mais a extrema carência material do paciente do que indícios de um estilo de vida em franca aproximação da delituosidade".
Um roubo de galinhas ocupou a máquina judiciária do país durante nove anos e mobilizou inclusive os vulturinos magistrados da Suprema Corte do país. Kafka, advogado, sabia do que falava.
Comentei há pouco o caso do menino que roubava carros desde os nove anos e, aos 14, conseguiu a proeza de ter roubado não menos que 17 carros. No mesmo jornal, comentou um psicanalista:- Isso não é visto como um talento. A posição do Estado é repressiva, apreendeu 17 vezes e não adiantou nada. A Justiça falha ao não ver o talento desse menino. É mais fácil criminalizar.A sociedade, insensível, não reconhece os insuspeitos talentos da atual juventude.
Mas agora vem o melhor. Iasin Issa Ahmed, titular da maior vara da infância da América do Sul, acha que tais delinqüentes devem ir não para a cadeia, mas para escolas obrigatórias de tempo integral com saída controlada para os garotos de alto risco". Os equipamentos dessas escolas seriam mais especializados do que os da Fundação Casa e exigiriam uma restrição de direitos que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não permite. "Não pode ser só um internato. Teria de atrair os meninos de forma que eles não queiram pular o muro, ser uma espécie de colégio suíço."
Garnisé, culpado do hediondo crime de ter roubado cinco galinhas, mereceu a atenção da Justiça brasileira por quase uma década. O menino ladrão de carros, aos 14 anos, montou um currículo invejável. Tem talento, como dizia o psicanalista, e certamente um promissor futuro pela frente. Se K. é condenado por um crime que não sabe qual seja, neste país incrível um delinqüente, responsável por crimes bem definidos, merece não a prisão, mas colégio de elite.
Kafka pretendia fazer ficção. Tivesse ocasião de conhecer o Brasil, estaria fazendo reportagem.
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
AINDA O FUX
João Eichbaum
Você conhece o Sérgio Bermudes?
Nem eu.
Mas o Sérgio Bermudes é o dono de um dos maiores escritórios de advocacia do país. Não precisa dizer que ele tem Mercedes com motorista e tem apartamentos magníficos, entre os quais um no Morro da Viúva, no Rio, e outro na Quinta Avenida, em Nova York.
É mole, ou quer mais?
Ah, sim, tem mais. Claro que tem mais.
Por exemplo, o Sérgio Bermudes custeia viagens turísticas de ministros do Supremo, com as respectivas mulheres que, eventualmente, os acompanhem. Não precisa dizer que o mesmo Bermudes é advogado de alguns ministros do Supremo.
Mais?
Ah, sim, o Sérgio Bermudes emprega num de seus escritórios de advocacia, a atual mulher do Gilmar Mendes, uma tal de Guiomar, e lhe paga (fique aí você babando e culpando quem lhe mandou ser honesto), nada menos do que quatorze mil reais por mês. Sérgio empregava também os filhos do ex-ministro Sepúlveda Pertence, assim como emprega atualmente a filha do Luiz Fux.
Você acha que, com todo esse poder e essa grana, o Sérgio Bermudes fica contente?
Que nada, meu caro. A grana dele tem uma fonte de que não pode abrir mão: a composição dos tribunais.
Sim, a indicação de ministros passa por ele. Foi ele que levou o Lewandowski - que nem eu, nem milhões de brasileiros conheciam, - para o Supremo.
E sabe quem levou o Fux para o Supremo?
Acertou. O Sérgio Bermudes. Exatamente o Sérgio Bermudes, que é compadre do Fux, cuja filha também faz parte da folha de pagamentos do seu escritório.
Só que a coisa não é tão simples assim. Sempre tem mais gente envolvida. Não são só os interesses do Sérgio Bermudes que contam. O bolo é bem maior.
Acontece que a mulher do Sérgio, do outro Sérgio, o Cabral, governador do Rio, outra dona de escritório de advocacia, é amicíssima do Fux. O nome dela, se você quer saber, é Adriana. É claro que o Sérgio Cabral fez parte da corrente, assim como o Palocci, de quem Fux também grangeou a amizade. Tudo gente boa.
É assim, com tudo isso no currículo, que o Fux está de bom tamanho para o Supremo. Mesmo que o ego dele tenha aguentado umas cinco horas de banco, à espera do ministro da justiça, um tal de Cardozo, que o foi apresentar à Dilma Roussef.
Isso: para ser confirmado, ele teve uma entrevista com a Dilma, olho no olho, tal e coisa.
Agora, esperem para ver. Ele vai pagar sua nomeação com uma moeda chamada Battisti? Ou seu ego vai mandar todo mundo à puta que os pariu, apostando numa candidatura a qualquer Corte Internacional?
João Eichbaum
Você conhece o Sérgio Bermudes?
Nem eu.
Mas o Sérgio Bermudes é o dono de um dos maiores escritórios de advocacia do país. Não precisa dizer que ele tem Mercedes com motorista e tem apartamentos magníficos, entre os quais um no Morro da Viúva, no Rio, e outro na Quinta Avenida, em Nova York.
É mole, ou quer mais?
Ah, sim, tem mais. Claro que tem mais.
Por exemplo, o Sérgio Bermudes custeia viagens turísticas de ministros do Supremo, com as respectivas mulheres que, eventualmente, os acompanhem. Não precisa dizer que o mesmo Bermudes é advogado de alguns ministros do Supremo.
Mais?
Ah, sim, o Sérgio Bermudes emprega num de seus escritórios de advocacia, a atual mulher do Gilmar Mendes, uma tal de Guiomar, e lhe paga (fique aí você babando e culpando quem lhe mandou ser honesto), nada menos do que quatorze mil reais por mês. Sérgio empregava também os filhos do ex-ministro Sepúlveda Pertence, assim como emprega atualmente a filha do Luiz Fux.
Você acha que, com todo esse poder e essa grana, o Sérgio Bermudes fica contente?
Que nada, meu caro. A grana dele tem uma fonte de que não pode abrir mão: a composição dos tribunais.
Sim, a indicação de ministros passa por ele. Foi ele que levou o Lewandowski - que nem eu, nem milhões de brasileiros conheciam, - para o Supremo.
E sabe quem levou o Fux para o Supremo?
Acertou. O Sérgio Bermudes. Exatamente o Sérgio Bermudes, que é compadre do Fux, cuja filha também faz parte da folha de pagamentos do seu escritório.
Só que a coisa não é tão simples assim. Sempre tem mais gente envolvida. Não são só os interesses do Sérgio Bermudes que contam. O bolo é bem maior.
Acontece que a mulher do Sérgio, do outro Sérgio, o Cabral, governador do Rio, outra dona de escritório de advocacia, é amicíssima do Fux. O nome dela, se você quer saber, é Adriana. É claro que o Sérgio Cabral fez parte da corrente, assim como o Palocci, de quem Fux também grangeou a amizade. Tudo gente boa.
É assim, com tudo isso no currículo, que o Fux está de bom tamanho para o Supremo. Mesmo que o ego dele tenha aguentado umas cinco horas de banco, à espera do ministro da justiça, um tal de Cardozo, que o foi apresentar à Dilma Roussef.
Isso: para ser confirmado, ele teve uma entrevista com a Dilma, olho no olho, tal e coisa.
Agora, esperem para ver. Ele vai pagar sua nomeação com uma moeda chamada Battisti? Ou seu ego vai mandar todo mundo à puta que os pariu, apostando numa candidatura a qualquer Corte Internacional?
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
COM A PALAVRA, HUGO CASSEL
JORNALISMO POLITICO
Uma dos mais fascinantes aspectos do jornalismo é, sem dúvida o “jornalismo político”. Nessa área não basta vontade, não basta, apoio, e não basta coragem. É preciso antes de tudo ter conhecimentos profundos de ciência política e suas, as vezes, surpreendentes nuances, além de experiência. Não é área para “focas”. Para escrever sobre isso é melhor ainda que tenha o profissional o cuidado de não se deixar levar pela emoção, em detrimento da razão. O preço pode ser muito caro. Vivemos atualmente um momento político dos mais delicados, com a revolução do mundo muçulmano, na África e Oriente Médio. A convulsão no Egito, país chave no xadrez político da região, preocupa o mundo.
A chamada oposição que representa os radicais islâmicos, luta para derrubar o Presidente Hosni Mubarak e impor suas leis. É preciso porém registrar que os 30 anos desse governo, queiram ou não, manteve a paz no Egito depois da guerra dos seis dias contra Israel e do assassinato de Presidente Anuar Sadat. Apoiado pelos Estados Unidos, o Egito se tornou o termômetro no Oriente médio, dando tranqüilidade a Israel que sempre temeu inimigo às suas costas.
Divulga-se agora que jornalistas brasileiros foram obrigados a deixar o país, eis que segundo o governo suas matérias torciam a verdade dos fatos, representando apoio indireto aos manifestantes. Já foi dito por alguém que “ No hay verdad , ni tampoco mentira.Todo está de acuerdo con El cristal con que se mira.” O jornalista pode ter sua ótica dos fatos, mas o jornal jamais deve acompanhar e tomar partido. Seu compromisso é com os leitores e no mínimo deve permitir o contraditório. A classe política é a mais “volúvel “ que existe e nenhum veículo deve se tornar refém de qualquer político, seja Prefeito, Governador, Presidente, ou ditador. O prejuízo pode afetar, toda uma equipe de trabalho, pela qual a diretoria é responsável, além de perder a credibilidade. Grandes órgãos e redes, até podem fazer abertamente campanha para “A” ou “B” como fez a Record , pois em caso de fracasso, tem “gordura” suficiente para sobreviver , o que não acontece com órgãos provincianos.
Aqui no Sul temos alguns exemplos. A ZH apesar de ser uma empresa de família israelita, e tendo colunistas que foram até terroristas, tem também um Paulo Brossard, ex-Ministro da Justiça, que todos conhecem como homem de direita. Outro jornal de Porto alegre “O SUL” tem vários colunistas com óticas políticas diferentes mas seus editoriais são neutros. Registro que a ZH que deveria na minha opinião defender a solução democrática no Egito, para preservar o status de Israel, chama o Presidente Mubarak de Ditador e faz manchetes como essa: ‘EGITO FORA DE CONTROLE”.
Portanto não é de estranhar que os enviados da RBS ao Egito tenham sido obrigados a voltar. Submeteu seus profissionais a um risco e um vexame. Não adianta protestar agora pois nenhum organismo internacional tem força para obrigar o governo do Egito a pedir desculpas. Quem os mandou para lá não tem pelo visto nenhuma das qualidades citadas no começo desta matéria
Uma dos mais fascinantes aspectos do jornalismo é, sem dúvida o “jornalismo político”. Nessa área não basta vontade, não basta, apoio, e não basta coragem. É preciso antes de tudo ter conhecimentos profundos de ciência política e suas, as vezes, surpreendentes nuances, além de experiência. Não é área para “focas”. Para escrever sobre isso é melhor ainda que tenha o profissional o cuidado de não se deixar levar pela emoção, em detrimento da razão. O preço pode ser muito caro. Vivemos atualmente um momento político dos mais delicados, com a revolução do mundo muçulmano, na África e Oriente Médio. A convulsão no Egito, país chave no xadrez político da região, preocupa o mundo.
A chamada oposição que representa os radicais islâmicos, luta para derrubar o Presidente Hosni Mubarak e impor suas leis. É preciso porém registrar que os 30 anos desse governo, queiram ou não, manteve a paz no Egito depois da guerra dos seis dias contra Israel e do assassinato de Presidente Anuar Sadat. Apoiado pelos Estados Unidos, o Egito se tornou o termômetro no Oriente médio, dando tranqüilidade a Israel que sempre temeu inimigo às suas costas.
Divulga-se agora que jornalistas brasileiros foram obrigados a deixar o país, eis que segundo o governo suas matérias torciam a verdade dos fatos, representando apoio indireto aos manifestantes. Já foi dito por alguém que “ No hay verdad , ni tampoco mentira.Todo está de acuerdo con El cristal con que se mira.” O jornalista pode ter sua ótica dos fatos, mas o jornal jamais deve acompanhar e tomar partido. Seu compromisso é com os leitores e no mínimo deve permitir o contraditório. A classe política é a mais “volúvel “ que existe e nenhum veículo deve se tornar refém de qualquer político, seja Prefeito, Governador, Presidente, ou ditador. O prejuízo pode afetar, toda uma equipe de trabalho, pela qual a diretoria é responsável, além de perder a credibilidade. Grandes órgãos e redes, até podem fazer abertamente campanha para “A” ou “B” como fez a Record , pois em caso de fracasso, tem “gordura” suficiente para sobreviver , o que não acontece com órgãos provincianos.
Aqui no Sul temos alguns exemplos. A ZH apesar de ser uma empresa de família israelita, e tendo colunistas que foram até terroristas, tem também um Paulo Brossard, ex-Ministro da Justiça, que todos conhecem como homem de direita. Outro jornal de Porto alegre “O SUL” tem vários colunistas com óticas políticas diferentes mas seus editoriais são neutros. Registro que a ZH que deveria na minha opinião defender a solução democrática no Egito, para preservar o status de Israel, chama o Presidente Mubarak de Ditador e faz manchetes como essa: ‘EGITO FORA DE CONTROLE”.
Portanto não é de estranhar que os enviados da RBS ao Egito tenham sido obrigados a voltar. Submeteu seus profissionais a um risco e um vexame. Não adianta protestar agora pois nenhum organismo internacional tem força para obrigar o governo do Egito a pedir desculpas. Quem os mandou para lá não tem pelo visto nenhuma das qualidades citadas no começo desta matéria
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
O ROMÁRIO, O FUX E OUTROS MUITO MAIS VOTADOS
João Eichbaum
O Jornal Zero Hora, na sua edição de sábado último, gastou o verbo, se ocupando, na página editorial, do Romário. Sim, do Romário, aquele baixinho, goleador, sempre fixado na área, que fez das suas, andou com belas mulheres, ganhou milhões, teve bens leiloados por conta de pensões alimentícias e outras dívidas, mas faturou muitos golos e encheu de alegria o povão.
O editorial não falava de futebol, propriamente, nem elogiava os feitos esportivos do Romário, senão que achincalhava o ex-craque por ter sido ele flagrado, jogando futevôlei, na Praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, quinta-feira última.
É que, para a Zero Hora, o Romário “deveria passar a ser visto, agora na condição de político, como referência de conduta, em respeito aos que o elegeram e ao próprio Congresso”.
Bom, das duas, uma: ou os editorialistas não conhecem o Romário, ou não conhecem o Congresso. Resta uma alternativa: não conhecem nem o Romário, nem o Congresso.
Em primeiro lugar, nem quando jogava futebol o Romário corria atrás da bola. O negócio dele era ficar parado, esperando por ela, e aí, com ela no pé, fazia misérias.
Queriam o quê os editorialistas: que o Romário mudasse de tática, da noite para o dia, que vestisse outra personalidade, que o cargo de deputado o dotasse de uma dignidade plena, por obra de prestidigitação desse mesmo cargo?
Segundo: desde quando o político brasileiro pode ser tido como “referência de conduta”?
De má conduta, sim. De aproveitamento do cargo para mordomias, como passaportes, aumento dos próprios subsídios, só para ficar nas últimas notícias...
O que a Zero Hora queria era que o Romário estivesse lá na Câmara, teso, de gravata, mostrando respeito pelos eleitores e pelo Congresso, se mostrando, exemplarmente, como o único deputado assíduo de toda a história do dito Congresso.
Bem, acredito que os editorialistas do jornal ZH não conheçam a biografia do Fux, o Luiz Fux, carioca, como o Romário, que agora foi escolhido para ministro do Supremo Tribunal Federal. Tido como “jurista brilhante”, magistrado de carreira, professor, o Fux “seguiu dando aulas na Uerj após ser nomeado para o STJ em Brasília”, noticiam jornais de São Paulo.
Entenderam? O brilhante jurista saía de Brasília para dar aulas no Rio de Janeiro.
Esse, sim, serve de “referência de conduta”. Quantas horas de viagem entre Brasília e Rio? Quantas horas de aula? E quem proferia os acórdãos dele no STJ?
E enquanto os editorialistas gastavam verbo, adjetivo e advérbio para desancar o Romário, o torneiro mecânico Marco Maia, presidente da Câmara, que devia estar em Brasília, estava em Porto Alegre, almoçando no Tirol, visitando Canoas, dando entrevistas, defendendo o aumento dos subsídios dos deputados, o uso dos passaportes diplomáticos.
Respeito pelos eleitores do Romário? Ora, os eleitores do Romário têm a cara dele, só querem saber de gozar a vida, tão se lixando para o respeito. Respeito pelo Congresso? O Congresso presidido pelo Sarney?
Ora, convenhamos. Respeito não se impõe, mas se conquista. E o cargo não dignifica a pessoa. Essa, sim, é que empresta dignidade ao cargo, se a tiver.
João Eichbaum
O Jornal Zero Hora, na sua edição de sábado último, gastou o verbo, se ocupando, na página editorial, do Romário. Sim, do Romário, aquele baixinho, goleador, sempre fixado na área, que fez das suas, andou com belas mulheres, ganhou milhões, teve bens leiloados por conta de pensões alimentícias e outras dívidas, mas faturou muitos golos e encheu de alegria o povão.
O editorial não falava de futebol, propriamente, nem elogiava os feitos esportivos do Romário, senão que achincalhava o ex-craque por ter sido ele flagrado, jogando futevôlei, na Praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, quinta-feira última.
É que, para a Zero Hora, o Romário “deveria passar a ser visto, agora na condição de político, como referência de conduta, em respeito aos que o elegeram e ao próprio Congresso”.
Bom, das duas, uma: ou os editorialistas não conhecem o Romário, ou não conhecem o Congresso. Resta uma alternativa: não conhecem nem o Romário, nem o Congresso.
Em primeiro lugar, nem quando jogava futebol o Romário corria atrás da bola. O negócio dele era ficar parado, esperando por ela, e aí, com ela no pé, fazia misérias.
Queriam o quê os editorialistas: que o Romário mudasse de tática, da noite para o dia, que vestisse outra personalidade, que o cargo de deputado o dotasse de uma dignidade plena, por obra de prestidigitação desse mesmo cargo?
Segundo: desde quando o político brasileiro pode ser tido como “referência de conduta”?
De má conduta, sim. De aproveitamento do cargo para mordomias, como passaportes, aumento dos próprios subsídios, só para ficar nas últimas notícias...
O que a Zero Hora queria era que o Romário estivesse lá na Câmara, teso, de gravata, mostrando respeito pelos eleitores e pelo Congresso, se mostrando, exemplarmente, como o único deputado assíduo de toda a história do dito Congresso.
Bem, acredito que os editorialistas do jornal ZH não conheçam a biografia do Fux, o Luiz Fux, carioca, como o Romário, que agora foi escolhido para ministro do Supremo Tribunal Federal. Tido como “jurista brilhante”, magistrado de carreira, professor, o Fux “seguiu dando aulas na Uerj após ser nomeado para o STJ em Brasília”, noticiam jornais de São Paulo.
Entenderam? O brilhante jurista saía de Brasília para dar aulas no Rio de Janeiro.
Esse, sim, serve de “referência de conduta”. Quantas horas de viagem entre Brasília e Rio? Quantas horas de aula? E quem proferia os acórdãos dele no STJ?
E enquanto os editorialistas gastavam verbo, adjetivo e advérbio para desancar o Romário, o torneiro mecânico Marco Maia, presidente da Câmara, que devia estar em Brasília, estava em Porto Alegre, almoçando no Tirol, visitando Canoas, dando entrevistas, defendendo o aumento dos subsídios dos deputados, o uso dos passaportes diplomáticos.
Respeito pelos eleitores do Romário? Ora, os eleitores do Romário têm a cara dele, só querem saber de gozar a vida, tão se lixando para o respeito. Respeito pelo Congresso? O Congresso presidido pelo Sarney?
Ora, convenhamos. Respeito não se impõe, mas se conquista. E o cargo não dignifica a pessoa. Essa, sim, é que empresta dignidade ao cargo, se a tiver.
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
PAULO WAINBERG - CONTOS ABSURDOS
Detalhes tão pequenos de nós dois
Mildríades resfolegou diante de um corcel vermelho, ano 73, tala larga e roda de magnésio.
Era obcecada por carros, dos mais antigos aos mais modernos e resfolegar era seu exercício respiratório preferido.
E assim, resfolegando, aproximou-se do motorista e sem sequer perguntar pela família logo indagou: – Quer vender? - E o motorista: – Não.
–
Acordou de manhã com a palavra na cabeça. Tomou banho e a palavra não saia de sua cabeça. Durante o café sujou os dedos com manteiga por causa da palavra que não saia de sua cabeça. Tentou ler o jornal mas a palavra não saia de sua cabeça e não conseguiu se concentrar.
Ligou o carro na garagem com a palavra martelando em sua cabeça. Deu marcha-ré e entrou na avenida, obrigando um Corsa a frear ruidosamente para evitar uma batida. O motorista do Corsa, indignado, gritou: – Olha por onde anda, imbecil! E a palavra finalmente saiu de sua cabeça quando respondeu, ultrajado: – Isto é um vilipêndio!
–
Mordeu com gosto a maçã e sentiu-se desfalecer: o dente da frente quebrou. Sentiu na boca a mistura da maça com o dente enquanto tentava, quase em desespero, separar uma do outro. A plateia à sua frente ouvia com atenção as palavras elogiosas do mediador, anunciando o currículo e a importância dele, o palestrante do dia. Conseguiu engolir o pedaço de maçã depois de colocar o dente quebrado sob a língua. Disfarçando, fingiu coçar a boca e empunhou o dente, colocando-o como quem não quer nada no bolso do colete. Quando o mediador passou-lhe a palavra ergueu-se, foi até o púlpito e, diante do microfone, abriu um sorriso desdentado e disse, sibilando, a ponta da língua escorregando pelo buraco entre os outros dois dentes, que a conferência estava adiada por um defeito no teclado. A platéia ovacionou aliviada e a maioria foi para o pátio da escola jogar futebol.
–
Ademir chegou cedo em casa e encontrou sua mulher na cama com Ademar, seu compadre. Sem alarde, saiu e foi para a casa de Ademar e lá chegando puxou a mulher dele, muito mais bonita do que a sua, para o quarto. Ela não resistiu e até sorriu. Enquanto tiravam a roupa Ademir concluiu, satisfeito, que naquela noite poderia assistir televisão em paz, depois do jantar.
–
Laurita deixou as crianças as sete no colégio como fazia, todas as manhãs. Voltou para casa, encheu a banheira de hidro-massagem e deitou-se na água tépida, sentindo a energia dos jatos massagearem-lhe o corpo. Abriu o livro na página trinta e seis e perdeu-se na leitura. Onze horas vestiu jeans, tênis e camiseta, foi ao supermercado e, meio-dia, apanhou as crianças no colégio. Depois do almoço levou as crianças para a escolinha e suspirou, aliviada. Finalmente podia descansar.
–
Carlão vendeu o último brinco de sua mãe e na esquina de sempre comprou uma dose de crack. Fumou e aliviou. Estava nervoso e preocupado com a prova de física do Vestibular, pois quase não tinha estudado. Será que ia levar pau?
–
Dom Pedro I terminou de fazer cocô, lavou-se na bacia e vestiu a túnica imperial. Entrou no gabinete, chamou seu ajudante de ordens e disse, entre um pigarro e outro, que tinha resolvido criar o poder moderador. – Avisa o Benjamim Constant hoje mesmo e ele que não me venha com teorias. O ajudante de ordens anotou tudo em seu bloco de notas e respondeu: – Pois não, Meu Rei.
–
Mildriades insistiu: – Quanto quer por ele? E o motorista: – Nada, minha senhora, não quero vender. Mildríades resfolegou e saiu rua afora, indignada.
–
Estou a fim de um boquete hoje, disse Clinton. – É pra já, meu Presidente – respondeu Mônica. – Então tranca a porta, minha ninfa.
–
- Ordenança, tire as minhas botas! – ordenou Gengis Kahn. Na mesma hora sua barraca esvaziou. Gengis Kahn passou a mão pelos pés cansados e cortou a palma na ponta da unha do dedão. – Merda! Os chineses vão pagar caro por isso. E derrubou a Grande Muralha da China em busca de uma chinesa que lhe cortasse as unhas.
–
Ele sabia que, cedo ou tarde, teria que sair do banheiro. Amarrou o que pode, passou gel nos cabelos, refez a barba pela quinta-feira, tentou evacuar mas estava sem vontade, lavou novamente o rosto, escovou outra vez os dentes, ajustou o tope da gravata, alisou o colarinho, escovou o casaco, amarrou o cordão dos sapatos, tossiu e assoou o nariz. Quando novamente sua mulher gritou, lá do quarto, que estava na hora, a voz dela já irritada de tanto esperar, resignou-se. Foi lá, assumiu a presidência e acabou logo com aquilo.
–
Quando finalmente expeliu uma pedra no rim e as cólicas passaram, Einstein inventou a teoria da relatividade. Há anos não sentia um alívio tão grande.
–
Eu tenho horror de sair de baixo do chuveiro, no inverno.
————————-
Categoria Contos absurdos – Para quem tem alegria no coração, humor na alma e tolerância com o autor
Mildríades resfolegou diante de um corcel vermelho, ano 73, tala larga e roda de magnésio.
Era obcecada por carros, dos mais antigos aos mais modernos e resfolegar era seu exercício respiratório preferido.
E assim, resfolegando, aproximou-se do motorista e sem sequer perguntar pela família logo indagou: – Quer vender? - E o motorista: – Não.
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Acordou de manhã com a palavra na cabeça. Tomou banho e a palavra não saia de sua cabeça. Durante o café sujou os dedos com manteiga por causa da palavra que não saia de sua cabeça. Tentou ler o jornal mas a palavra não saia de sua cabeça e não conseguiu se concentrar.
Ligou o carro na garagem com a palavra martelando em sua cabeça. Deu marcha-ré e entrou na avenida, obrigando um Corsa a frear ruidosamente para evitar uma batida. O motorista do Corsa, indignado, gritou: – Olha por onde anda, imbecil! E a palavra finalmente saiu de sua cabeça quando respondeu, ultrajado: – Isto é um vilipêndio!
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Mordeu com gosto a maçã e sentiu-se desfalecer: o dente da frente quebrou. Sentiu na boca a mistura da maça com o dente enquanto tentava, quase em desespero, separar uma do outro. A plateia à sua frente ouvia com atenção as palavras elogiosas do mediador, anunciando o currículo e a importância dele, o palestrante do dia. Conseguiu engolir o pedaço de maçã depois de colocar o dente quebrado sob a língua. Disfarçando, fingiu coçar a boca e empunhou o dente, colocando-o como quem não quer nada no bolso do colete. Quando o mediador passou-lhe a palavra ergueu-se, foi até o púlpito e, diante do microfone, abriu um sorriso desdentado e disse, sibilando, a ponta da língua escorregando pelo buraco entre os outros dois dentes, que a conferência estava adiada por um defeito no teclado. A platéia ovacionou aliviada e a maioria foi para o pátio da escola jogar futebol.
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Ademir chegou cedo em casa e encontrou sua mulher na cama com Ademar, seu compadre. Sem alarde, saiu e foi para a casa de Ademar e lá chegando puxou a mulher dele, muito mais bonita do que a sua, para o quarto. Ela não resistiu e até sorriu. Enquanto tiravam a roupa Ademir concluiu, satisfeito, que naquela noite poderia assistir televisão em paz, depois do jantar.
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Laurita deixou as crianças as sete no colégio como fazia, todas as manhãs. Voltou para casa, encheu a banheira de hidro-massagem e deitou-se na água tépida, sentindo a energia dos jatos massagearem-lhe o corpo. Abriu o livro na página trinta e seis e perdeu-se na leitura. Onze horas vestiu jeans, tênis e camiseta, foi ao supermercado e, meio-dia, apanhou as crianças no colégio. Depois do almoço levou as crianças para a escolinha e suspirou, aliviada. Finalmente podia descansar.
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Carlão vendeu o último brinco de sua mãe e na esquina de sempre comprou uma dose de crack. Fumou e aliviou. Estava nervoso e preocupado com a prova de física do Vestibular, pois quase não tinha estudado. Será que ia levar pau?
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Dom Pedro I terminou de fazer cocô, lavou-se na bacia e vestiu a túnica imperial. Entrou no gabinete, chamou seu ajudante de ordens e disse, entre um pigarro e outro, que tinha resolvido criar o poder moderador. – Avisa o Benjamim Constant hoje mesmo e ele que não me venha com teorias. O ajudante de ordens anotou tudo em seu bloco de notas e respondeu: – Pois não, Meu Rei.
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Mildriades insistiu: – Quanto quer por ele? E o motorista: – Nada, minha senhora, não quero vender. Mildríades resfolegou e saiu rua afora, indignada.
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Estou a fim de um boquete hoje, disse Clinton. – É pra já, meu Presidente – respondeu Mônica. – Então tranca a porta, minha ninfa.
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- Ordenança, tire as minhas botas! – ordenou Gengis Kahn. Na mesma hora sua barraca esvaziou. Gengis Kahn passou a mão pelos pés cansados e cortou a palma na ponta da unha do dedão. – Merda! Os chineses vão pagar caro por isso. E derrubou a Grande Muralha da China em busca de uma chinesa que lhe cortasse as unhas.
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Ele sabia que, cedo ou tarde, teria que sair do banheiro. Amarrou o que pode, passou gel nos cabelos, refez a barba pela quinta-feira, tentou evacuar mas estava sem vontade, lavou novamente o rosto, escovou outra vez os dentes, ajustou o tope da gravata, alisou o colarinho, escovou o casaco, amarrou o cordão dos sapatos, tossiu e assoou o nariz. Quando novamente sua mulher gritou, lá do quarto, que estava na hora, a voz dela já irritada de tanto esperar, resignou-se. Foi lá, assumiu a presidência e acabou logo com aquilo.
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Quando finalmente expeliu uma pedra no rim e as cólicas passaram, Einstein inventou a teoria da relatividade. Há anos não sentia um alívio tão grande.
–
Eu tenho horror de sair de baixo do chuveiro, no inverno.
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Categoria Contos absurdos – Para quem tem alegria no coração, humor na alma e tolerância com o autor
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
CRÔNICAS IMPUDICAS
A PROVA
João Eichbaum
Está na própria natureza a prova de que nunca existiu o deus inventado pelos judeus, chamado Javé, adotado pelos cristãos, com o nome de Deus e estilizado, a seu modo, pelos maometanos, sob a alcunha de Alá.
Por exemplo, conheci um jovem esbelto, bem falante e traquinas que resolveu ser padre. Menos pela compreensão do conceito de sacerdócio do que por influência do meio, a região colonial italiana, onde três coisas eram fundamentais, a uva para o vinho, uma filha para ser freira e um filho para ser padre.
Não sei se vocês sabem, mas, tempos houve em que os italianos não viviam sem padre, e o padre, para eles, era uma figura muito importante, mais importante do que a própria família.
Bem, por essa razão, muitos jovens, crianças ainda, iam para o seminário, com o fito de se tornarem padres. O meu amigo aquele, bonitão e charmoso, não caiu fora dessa onda. E se tornou padre.
Só que não durou muito tempo. Com aquele charme todo, era para as mulheres o que o açúcar é para as moscas. Não adiantou rezar, pedir ao seus deus que o preservasse. A natureza, como sempre, foi quem mandou: ele deixou a batina e se casou, nos Estados Unidos, onde servia como sacerdote.
Tive notícias dele não há muito tempo. Ele havia adquirido uma área de terras em Faxinal do Soturno e lá mandou erguer às expensas próprias uma capela, que chamam de ermida, dedicada a um tal de padre Pio que, salvo engano, foi tornado “santo”. A voz do povo lhe atribuía muitos milagres, sobretudo curas.
Agora, recentemente, soube que esse amigo, antigo padre, tem a saúde abalada por um câncer em recidiva e sofre muito.
Então tudo me clareou. Ao descobrir o câncer, certamente o meu amigo tinha apelado para o seu santo Pio. Tendo desaparecido o mal, lhe atribuiu o milagre e, por gratidão, ou por promessa, lhe ergueu a ermida.
Agora o câncer voltou.
Lamentavelmente, o meu amigo foi enganado pela sua fé. O padre Pio que “curou” tanta gente não o tratou com a gratidão que ele merecia.
É assim. Força quem tem mesmo é a natureza, no sistema solar, na botânica, na mineralogia, na zoologia.
Deus nenhum, que fosse “bom, justo e misericordioso” faria o que a natureza faz com os seres humanos, submetendo-os ao sofrimento, matando-os de fome, de sede, de asfixia, através de terremotos, tsunamis, avalanches, raios, doenças, enfim por vários meios cruéis. Deus nenhum, que tivesse as virtudes e o poder, que a maioria dos homens lhe atribui, seria tão mau, tão sádico, tão desequilibrado, dando muito para poucos e quase nada para muitos, e estragando sua obra com o ódio, que se transforma em guerra, e a ganância, que se transforma em rapina. Deus nenhum daria vida às suas criaturas para depois decompô-las, transformando-as num montinho de ossos que viram pó.
Enfim, deus nenhum, que fosse perfeito, criaria seres tão imperfeitos, como os humanos, fazendo do homem o predador do próprio homem.
João Eichbaum
Está na própria natureza a prova de que nunca existiu o deus inventado pelos judeus, chamado Javé, adotado pelos cristãos, com o nome de Deus e estilizado, a seu modo, pelos maometanos, sob a alcunha de Alá.
Por exemplo, conheci um jovem esbelto, bem falante e traquinas que resolveu ser padre. Menos pela compreensão do conceito de sacerdócio do que por influência do meio, a região colonial italiana, onde três coisas eram fundamentais, a uva para o vinho, uma filha para ser freira e um filho para ser padre.
Não sei se vocês sabem, mas, tempos houve em que os italianos não viviam sem padre, e o padre, para eles, era uma figura muito importante, mais importante do que a própria família.
Bem, por essa razão, muitos jovens, crianças ainda, iam para o seminário, com o fito de se tornarem padres. O meu amigo aquele, bonitão e charmoso, não caiu fora dessa onda. E se tornou padre.
Só que não durou muito tempo. Com aquele charme todo, era para as mulheres o que o açúcar é para as moscas. Não adiantou rezar, pedir ao seus deus que o preservasse. A natureza, como sempre, foi quem mandou: ele deixou a batina e se casou, nos Estados Unidos, onde servia como sacerdote.
Tive notícias dele não há muito tempo. Ele havia adquirido uma área de terras em Faxinal do Soturno e lá mandou erguer às expensas próprias uma capela, que chamam de ermida, dedicada a um tal de padre Pio que, salvo engano, foi tornado “santo”. A voz do povo lhe atribuía muitos milagres, sobretudo curas.
Agora, recentemente, soube que esse amigo, antigo padre, tem a saúde abalada por um câncer em recidiva e sofre muito.
Então tudo me clareou. Ao descobrir o câncer, certamente o meu amigo tinha apelado para o seu santo Pio. Tendo desaparecido o mal, lhe atribuiu o milagre e, por gratidão, ou por promessa, lhe ergueu a ermida.
Agora o câncer voltou.
Lamentavelmente, o meu amigo foi enganado pela sua fé. O padre Pio que “curou” tanta gente não o tratou com a gratidão que ele merecia.
É assim. Força quem tem mesmo é a natureza, no sistema solar, na botânica, na mineralogia, na zoologia.
Deus nenhum, que fosse “bom, justo e misericordioso” faria o que a natureza faz com os seres humanos, submetendo-os ao sofrimento, matando-os de fome, de sede, de asfixia, através de terremotos, tsunamis, avalanches, raios, doenças, enfim por vários meios cruéis. Deus nenhum, que tivesse as virtudes e o poder, que a maioria dos homens lhe atribui, seria tão mau, tão sádico, tão desequilibrado, dando muito para poucos e quase nada para muitos, e estragando sua obra com o ódio, que se transforma em guerra, e a ganância, que se transforma em rapina. Deus nenhum daria vida às suas criaturas para depois decompô-las, transformando-as num montinho de ossos que viram pó.
Enfim, deus nenhum, que fosse perfeito, criaria seres tão imperfeitos, como os humanos, fazendo do homem o predador do próprio homem.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
COM A PALAVRA, HUGO CASSEL
A VENEZA BRASILEIRA
Os profissionais de turismo, em todo Brasil, conhecem perfeitamente a palavra “Capixaba” como referente ao Estado do Espírito Santo. A maioria não sabe porém o seu significado na língua Tupi-Guarani.
Tive a resposta na recente visita à linda cidade de Vitoria. “Capixaba” significa terreno pronto para plantar. Roça, roçado. Assim era chamado o local onde os índios plantavam milho. Com o tempo, todos que habitavam aquelas terras foram chamados capixabas, apesar de que o nome real da grande capitania era em Tupi-Guarani , Guana-mira, que significa Ilha do mel. Passou depois a Ilha de Santo Antonio, e afinal comemorando a vitoria e expulsão dos índios, em 1551, Nossa Senhora da Vitoria.
A capital de Pernambuco Recife é conhecida como a Veneza brasileira, por seus rios e pontes, mas Vitoria , uma das três capitais brasileiras situadas em uma ilha, pode perfeitamente ser chamada de “Veneza Capixaba” pois é formada por varias ilhas e inúmeras pontes, alem de lindas praias, como essa de Camburi recém revitalizada. e ainda padecendo de estrutura para atendimento de turistas. Faltam quiosques, banheiros e chuveiros, pouca sombra e nenhum abrigo. Os quiosques que existiam, foram retirados e a disputa na justiça impede a reconstrução.
Outro sério problema se chama Aeroporto. Local acanhado que vira uma confusão quando chegam três aviões. A construção do novo Aeroporto foi interrompida por corrupção e ainda continua parada. Comentam que o Secretario de Turismo é um político sem intimidade com o assunto e que isso prejudica a solução. De qualquer forma é um enorme prejuízo, pois deixam de ganhar dinheiro e proporcionar centenas de empregos.
No entanto a cada ano em Gramado, acontece a “Noite Capixaba”, onde é servido o “Carro Chefe” da gastronomia do Espírito Santo, que é a famosa “Moqueca Capixaba”. Comi em Vitoria, por duas vezes e não gostei, pois em ambas havia um excesso de gordura. Em Gramado sempre foi melhor. Vale registrar que , nos hotéis existem folders com 8 roteiros e programas, e não existe divulgação de operadoras.
O Espírito Santo e particularmente a Capital estão voltados na maior parte para o turismo de eventos e negócios, principalmente petróleo. Com isso a hospedagem é em media a mais cara do Brasil, e alimentação idem. Existem pratos de frutos do mar que chegam a 180 reais para uma pessoa, o que é absurdo numa cidade com uma costa das mais piscosas do país. Nos hotéis os preços são mais honestos. É possível montar, como permite o competente “cheff” Wallace no Confort Hotel onde estive. O seu filé de Tilápia com arroz, farofa, fritas e berinjela agridoce é de comer de joelhos, cantando Aleluia. Vitoria compensa tudo, eis que é uma cidade limpa, organizada e com gente amável. Nas avenidas não existem pardais, nem quebra-molas. Todo mundo anda a 100 por hora e nas faixas de segurança existem botões que interrompem o transito para cruza de pedestres. Vale a pena conhecer
Os profissionais de turismo, em todo Brasil, conhecem perfeitamente a palavra “Capixaba” como referente ao Estado do Espírito Santo. A maioria não sabe porém o seu significado na língua Tupi-Guarani.
Tive a resposta na recente visita à linda cidade de Vitoria. “Capixaba” significa terreno pronto para plantar. Roça, roçado. Assim era chamado o local onde os índios plantavam milho. Com o tempo, todos que habitavam aquelas terras foram chamados capixabas, apesar de que o nome real da grande capitania era em Tupi-Guarani , Guana-mira, que significa Ilha do mel. Passou depois a Ilha de Santo Antonio, e afinal comemorando a vitoria e expulsão dos índios, em 1551, Nossa Senhora da Vitoria.
A capital de Pernambuco Recife é conhecida como a Veneza brasileira, por seus rios e pontes, mas Vitoria , uma das três capitais brasileiras situadas em uma ilha, pode perfeitamente ser chamada de “Veneza Capixaba” pois é formada por varias ilhas e inúmeras pontes, alem de lindas praias, como essa de Camburi recém revitalizada. e ainda padecendo de estrutura para atendimento de turistas. Faltam quiosques, banheiros e chuveiros, pouca sombra e nenhum abrigo. Os quiosques que existiam, foram retirados e a disputa na justiça impede a reconstrução.
Outro sério problema se chama Aeroporto. Local acanhado que vira uma confusão quando chegam três aviões. A construção do novo Aeroporto foi interrompida por corrupção e ainda continua parada. Comentam que o Secretario de Turismo é um político sem intimidade com o assunto e que isso prejudica a solução. De qualquer forma é um enorme prejuízo, pois deixam de ganhar dinheiro e proporcionar centenas de empregos.
No entanto a cada ano em Gramado, acontece a “Noite Capixaba”, onde é servido o “Carro Chefe” da gastronomia do Espírito Santo, que é a famosa “Moqueca Capixaba”. Comi em Vitoria, por duas vezes e não gostei, pois em ambas havia um excesso de gordura. Em Gramado sempre foi melhor. Vale registrar que , nos hotéis existem folders com 8 roteiros e programas, e não existe divulgação de operadoras.
O Espírito Santo e particularmente a Capital estão voltados na maior parte para o turismo de eventos e negócios, principalmente petróleo. Com isso a hospedagem é em media a mais cara do Brasil, e alimentação idem. Existem pratos de frutos do mar que chegam a 180 reais para uma pessoa, o que é absurdo numa cidade com uma costa das mais piscosas do país. Nos hotéis os preços são mais honestos. É possível montar, como permite o competente “cheff” Wallace no Confort Hotel onde estive. O seu filé de Tilápia com arroz, farofa, fritas e berinjela agridoce é de comer de joelhos, cantando Aleluia. Vitoria compensa tudo, eis que é uma cidade limpa, organizada e com gente amável. Nas avenidas não existem pardais, nem quebra-molas. Todo mundo anda a 100 por hora e nas faixas de segurança existem botões que interrompem o transito para cruza de pedestres. Vale a pena conhecer
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
VELHO COMUNISTA JUDEU SE SENTE EM CASA NO CONTINENTE PUÑETERO
Escrevia há pouco que o marxismo – se é que estou bem informado – já estava morto. Leitores me enviaram programas de cursos de universidades brasileiras que, em vez de dissecar o cadáver, celebravam a múmia. Pior ainda, universidades privadas. O capital celebrando a filosofia inimiga.
Vanderlei Vazelesk me envia notícias de outro evento universitário, realizado em 2008, pela Fundação Padre Albino (Catanduva-SP) , o Congresso Brasileiro de Marxismo e Direito. Em 30 de agosto de 2008, nas dependências do Curso de Direito das Faculdades Integradas Padre Albino, “campus” I, Catanduva-SP, deu-se o Congresso Brasileiro de Marxismo e Direito. Com organização dos professores Alysson Leandro Barbate Mascaro, Coordenador do Curso de Direito, e Camilo Onoda Luiz Caldas, Coordenador de Trabalho de Curso e de Pesquisa do Curso de Direito, o congresso contou, ainda, com a presença do professor Márcio Bilharinho Naves, professor da UNICAMP, e um dos mais ilustres juristas marxistas do Brasil.
O Curso de Direito das Faculdades Integradas Padre Albino tem se destacado no cenário pedagógico nacional por conta da veiculação de debates relevantes à questão cidadã e democrática brasileira. Mas não somente: atividades de extensão, com benefícios para a comunidade catanduvense, pesquisas científicas de relevante interesse local, debates semanais com grupos de alunos têm feito da faculdade de direito um centro de referência do pensamento crítico e progressista no Estado de São Paulo. Iniciando-se os trabalhos, deram-se duas Conferências Magnas. A primeira, logo às 9 horas da manhã de sábado, contou com as contagiantes palavras do professor Alysson Mascaro, discorrendo sobre o panorama no marxismo jurídico e suas perspectivas para o século XXI. O professor Alysson é graduado em Direito, Doutor e Livre-Docente em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo. Trata-se, inclusive, de um dos mais jovens doutores e livre-docentes por aquela prestigiada universidade. Atualmente é Professor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Coordenador de Graduação do Curso de Direito das Faculdades Integradas Padre Albino. Em seguida, a segunda Conferência Magna fora promovida pelo professor Márcio Naves. Explanando sobre o direito no pensamento de Karl Marx, o público calou-se diante de figura tão modesta nos gestos, todavia dotada de um profundo domínio do marxismo e sua perspectiva jurídica. Pesquisador do marxismo jurídico desde a década de 70, o professor Márcio Naves possui graduação em Direito pela Universidade de São Paulo, mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutorado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas. No momento, é docente do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP.
Após as conferências magnas, o professor Camilo Onoda Luis Caldas, teceu suas considerações sobre democracia, cidadania e revolução na perspectiva do marxismo jurídico. Alunos, convidados e comunidade catanduvense entusiasmaram-se com as contradições sociais apontadas pelo jovem professor. O professor Camilo também graduado e mestre em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, e em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), lecionando no Curso de Direito das Faculdades Integradas da Fundação Padre Albino e na Universidade São Judas Tadeu, é também editor da Revista Direito e Sociedade e colunista político.Ainda pelo período matutino, adentrou-se no marxismo jurídico soviético.
Etc, etc, etc. Por aí vai. Não vou me alongar na transcrição do catecismo. Ainda há pouco, eu dizia que a universidade brasileira é a vanguarda do obscurantismo. Não é de hoje. O marxismo foi introduzido no Brasil pela universidade mais antiga do país e que se pretende a melhor entre as demais, a USP. Se a melhor entre as demais começa sua existência, lá nos anos 30, propalando as virtudes de uma filosofia totalitária, podemos ter uma pálida idéia do que oferecem as demais universidades.
Estou falando, é claro, das ditas Ciências Humanas. Pois não é fácil vender marxismo em cursos de medicina, engenharia ou matemática. Não por acaso, a doutrina morta no século passado viceja ainda com gosto nos cursos de direito, filosofia, sociologia, letras, jornalismo.
Os países que sofreram o comunismo já enterraram Marx com gosto. Restam alguns saudosistas de Stalin na Rússia, é verdade. Mas os monumentos ao Paizinho dos Povos foram demolidos onde existiam. As homenagens a Lênin, também. A Europa de cá, que não sofreu a opressão do marxismo, reagiu com lerdeza ao desmoronamento da URSS. Até Fidel Castro e Che Guevara já foram jogados na famosa lata de lixo da História.Restou a América Latina. Este “continente puñetero”, como dizia Alejo Carpentier (ou talvez Roa Bastos, agora não lembro).
Le fonds de l'air est rouge - diziam os bobalhões de 68 em Paris. Chez nous, mais de quatro décadas depois, o fundo do ar continua vermelho. Não por acaso, uma velha cortesã européia, Eric Hobsbawm, declarou recentemente ao The Guardian, que “ideologicamente, hoje me sinto mais em casa na América Latina. É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem - a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo”. Em pleno século XXI, após a queda do muro, o desmoronamento da União Soviética e a derrocada do comunismo, o historiador judeu gaba-se de uma filosofia totalitária do século XIX. Desprestigiado na Europa, usa a mesma estratégia dos grupos de rock, que não conseguem mais faturar no Velho Continente e buscam grana no continente puñetero.
Árvore que nasce torta, não tem jeito, morre torta. O grande problema da universidade brasileira é essa velharada comunista que ainda não morreu e não consegue admitir que seus livros, teses e ensaios viraram lixo. É muito difícil, para um velho, admitir que sua vida sempre se pautou pelo erro. Melhor manter a bicicleta andando e transmitir o erro às gerações futuras.
Normal que um velho comunista, cuja filosofia demonstrou ser um fracasso, se sinta bem neste continente
Escrevia há pouco que o marxismo – se é que estou bem informado – já estava morto. Leitores me enviaram programas de cursos de universidades brasileiras que, em vez de dissecar o cadáver, celebravam a múmia. Pior ainda, universidades privadas. O capital celebrando a filosofia inimiga.
Vanderlei Vazelesk me envia notícias de outro evento universitário, realizado em 2008, pela Fundação Padre Albino (Catanduva-SP) , o Congresso Brasileiro de Marxismo e Direito. Em 30 de agosto de 2008, nas dependências do Curso de Direito das Faculdades Integradas Padre Albino, “campus” I, Catanduva-SP, deu-se o Congresso Brasileiro de Marxismo e Direito. Com organização dos professores Alysson Leandro Barbate Mascaro, Coordenador do Curso de Direito, e Camilo Onoda Luiz Caldas, Coordenador de Trabalho de Curso e de Pesquisa do Curso de Direito, o congresso contou, ainda, com a presença do professor Márcio Bilharinho Naves, professor da UNICAMP, e um dos mais ilustres juristas marxistas do Brasil.
O Curso de Direito das Faculdades Integradas Padre Albino tem se destacado no cenário pedagógico nacional por conta da veiculação de debates relevantes à questão cidadã e democrática brasileira. Mas não somente: atividades de extensão, com benefícios para a comunidade catanduvense, pesquisas científicas de relevante interesse local, debates semanais com grupos de alunos têm feito da faculdade de direito um centro de referência do pensamento crítico e progressista no Estado de São Paulo. Iniciando-se os trabalhos, deram-se duas Conferências Magnas. A primeira, logo às 9 horas da manhã de sábado, contou com as contagiantes palavras do professor Alysson Mascaro, discorrendo sobre o panorama no marxismo jurídico e suas perspectivas para o século XXI. O professor Alysson é graduado em Direito, Doutor e Livre-Docente em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo. Trata-se, inclusive, de um dos mais jovens doutores e livre-docentes por aquela prestigiada universidade. Atualmente é Professor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco (USP), Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e Coordenador de Graduação do Curso de Direito das Faculdades Integradas Padre Albino. Em seguida, a segunda Conferência Magna fora promovida pelo professor Márcio Naves. Explanando sobre o direito no pensamento de Karl Marx, o público calou-se diante de figura tão modesta nos gestos, todavia dotada de um profundo domínio do marxismo e sua perspectiva jurídica. Pesquisador do marxismo jurídico desde a década de 70, o professor Márcio Naves possui graduação em Direito pela Universidade de São Paulo, mestrado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutorado em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas. No momento, é docente do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP.
Após as conferências magnas, o professor Camilo Onoda Luis Caldas, teceu suas considerações sobre democracia, cidadania e revolução na perspectiva do marxismo jurídico. Alunos, convidados e comunidade catanduvense entusiasmaram-se com as contradições sociais apontadas pelo jovem professor. O professor Camilo também graduado e mestre em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, e em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), lecionando no Curso de Direito das Faculdades Integradas da Fundação Padre Albino e na Universidade São Judas Tadeu, é também editor da Revista Direito e Sociedade e colunista político.Ainda pelo período matutino, adentrou-se no marxismo jurídico soviético.
Etc, etc, etc. Por aí vai. Não vou me alongar na transcrição do catecismo. Ainda há pouco, eu dizia que a universidade brasileira é a vanguarda do obscurantismo. Não é de hoje. O marxismo foi introduzido no Brasil pela universidade mais antiga do país e que se pretende a melhor entre as demais, a USP. Se a melhor entre as demais começa sua existência, lá nos anos 30, propalando as virtudes de uma filosofia totalitária, podemos ter uma pálida idéia do que oferecem as demais universidades.
Estou falando, é claro, das ditas Ciências Humanas. Pois não é fácil vender marxismo em cursos de medicina, engenharia ou matemática. Não por acaso, a doutrina morta no século passado viceja ainda com gosto nos cursos de direito, filosofia, sociologia, letras, jornalismo.
Os países que sofreram o comunismo já enterraram Marx com gosto. Restam alguns saudosistas de Stalin na Rússia, é verdade. Mas os monumentos ao Paizinho dos Povos foram demolidos onde existiam. As homenagens a Lênin, também. A Europa de cá, que não sofreu a opressão do marxismo, reagiu com lerdeza ao desmoronamento da URSS. Até Fidel Castro e Che Guevara já foram jogados na famosa lata de lixo da História.Restou a América Latina. Este “continente puñetero”, como dizia Alejo Carpentier (ou talvez Roa Bastos, agora não lembro).
Le fonds de l'air est rouge - diziam os bobalhões de 68 em Paris. Chez nous, mais de quatro décadas depois, o fundo do ar continua vermelho. Não por acaso, uma velha cortesã européia, Eric Hobsbawm, declarou recentemente ao The Guardian, que “ideologicamente, hoje me sinto mais em casa na América Latina. É o único lugar no mundo em que as pessoas fazem política e falam dela na velha linguagem - a dos séculos 19 e 20, de socialismo, comunismo e marxismo”. Em pleno século XXI, após a queda do muro, o desmoronamento da União Soviética e a derrocada do comunismo, o historiador judeu gaba-se de uma filosofia totalitária do século XIX. Desprestigiado na Europa, usa a mesma estratégia dos grupos de rock, que não conseguem mais faturar no Velho Continente e buscam grana no continente puñetero.
Árvore que nasce torta, não tem jeito, morre torta. O grande problema da universidade brasileira é essa velharada comunista que ainda não morreu e não consegue admitir que seus livros, teses e ensaios viraram lixo. É muito difícil, para um velho, admitir que sua vida sempre se pautou pelo erro. Melhor manter a bicicleta andando e transmitir o erro às gerações futuras.
Normal que um velho comunista, cuja filosofia demonstrou ser um fracasso, se sinta bem neste continente
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