quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

CRÔNICAS IMPUDICAS

A PROVA

João Eichbaum

Está na própria natureza a prova de que nunca existiu o deus inventado pelos judeus, chamado Javé, adotado pelos cristãos, com o nome de Deus e estilizado, a seu modo, pelos maometanos, sob a alcunha de Alá.
Por exemplo, conheci um jovem esbelto, bem falante e traquinas que resolveu ser padre. Menos pela compreensão do conceito de sacerdócio do que por influência do meio, a região colonial italiana, onde três coisas eram fundamentais, a uva para o vinho, uma filha para ser freira e um filho para ser padre.
Não sei se vocês sabem, mas, tempos houve em que os italianos não viviam sem padre, e o padre, para eles, era uma figura muito importante, mais importante do que a própria família.
Bem, por essa razão, muitos jovens, crianças ainda, iam para o seminário, com o fito de se tornarem padres. O meu amigo aquele, bonitão e charmoso, não caiu fora dessa onda. E se tornou padre.
Só que não durou muito tempo. Com aquele charme todo, era para as mulheres o que o açúcar é para as moscas. Não adiantou rezar, pedir ao seus deus que o preservasse. A natureza, como sempre, foi quem mandou: ele deixou a batina e se casou, nos Estados Unidos, onde servia como sacerdote.
Tive notícias dele não há muito tempo. Ele havia adquirido uma área de terras em Faxinal do Soturno e lá mandou erguer às expensas próprias uma capela, que chamam de ermida, dedicada a um tal de padre Pio que, salvo engano, foi tornado “santo”. A voz do povo lhe atribuía muitos milagres, sobretudo curas.
Agora, recentemente, soube que esse amigo, antigo padre, tem a saúde abalada por um câncer em recidiva e sofre muito.
Então tudo me clareou. Ao descobrir o câncer, certamente o meu amigo tinha apelado para o seu santo Pio. Tendo desaparecido o mal, lhe atribuiu o milagre e, por gratidão, ou por promessa, lhe ergueu a ermida.
Agora o câncer voltou.
Lamentavelmente, o meu amigo foi enganado pela sua fé. O padre Pio que “curou” tanta gente não o tratou com a gratidão que ele merecia.
É assim. Força quem tem mesmo é a natureza, no sistema solar, na botânica, na mineralogia, na zoologia.
Deus nenhum, que fosse “bom, justo e misericordioso” faria o que a natureza faz com os seres humanos, submetendo-os ao sofrimento, matando-os de fome, de sede, de asfixia, através de terremotos, tsunamis, avalanches, raios, doenças, enfim por vários meios cruéis. Deus nenhum, que tivesse as virtudes e o poder, que a maioria dos homens lhe atribui, seria tão mau, tão sádico, tão desequilibrado, dando muito para poucos e quase nada para muitos, e estragando sua obra com o ódio, que se transforma em guerra, e a ganância, que se transforma em rapina. Deus nenhum daria vida às suas criaturas para depois decompô-las, transformando-as num montinho de ossos que viram pó.
Enfim, deus nenhum, que fosse perfeito, criaria seres tão imperfeitos, como os humanos, fazendo do homem o predador do próprio homem.

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