terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

UMA MODESTA PROPOSTA PARA LEVAR A CLASSE PROLETÁRIA AO PARAÍSO

A Câmara precisou de mais de doze horas para aumentar em 35 reais o salário mínimo. De 510 reais, foi para 545. O aumento foi de 6,86%. Para aumentar em 10.211 reais os salários de senadores e deputados, em dezembro passado, foram necessários apenas cinco minutos. Não houve dissidência alguma, nem foi preciso comprar partidos com sinecuras. De 16.512 reais, nossos impolutos parlamentares passaram a ganhar 26.723 reais. O aumento foi de 61,8%. Mais de dez vezes o aumento do mínimo. É bom lembrar que estes senhores não recebem doze ou treze salários por ano, como o comum dos mortais. Mas quinze.
Isso sem falar nos subsídios para contratação de assessores (60 mil por mês) mais auxílios de moradia, telefonia, passagens aéreas e escritórios nos Estados, que elevam os custos de um parlamentar para mais de cem mil reais. Por mês.
Alguém ainda lembra do mensalão, aquela compra descarada de deputados pelo PT, que agora o PT nega que tenha existido? Pois bem: para evitar que fossem concedidas mais quinze merrecas (560 reais) aos que ganham salário mínimo, o governo comprou partidos inteiros com promessas de prebendas nos ministérios, Banco do Brasil, Funasa, Furnas e Eletronorte. Em que difere esta compra de parlamentares venais da compra dos parlamentares venais do mensalão? Deveria talvez chamar-se anualão, com perdão pelo neologismo? Ou quem sabe quinqüenão?
Como se quinze reais por mês – 50 centavos por dia – fizessem diferença para quem ganha uma miséria. Em Cuba, onde o salário de um médico é de 30 reais, obviamente faria. Mas, apesar dos pesares, não estamos em Cuba.
Estranho povinho este nosso. É capaz de comover-se até as lágrimas quando um jogador balofo abandona o futebol. Não experimenta indignação alguma quando um governador por dez dias recebe uma gorda pensão perpétua. Quando deputados que ganham cem mil reais por mês discutem se darão mais 50 centavos por dia a um operário. Mais ainda: em troca de sinecuras, negam até mesmo esta mísera esmola, que não paga sequer um cafezinho.
Em um gesto de subserviência, para evitar desgastes sazonais do governo, a Câmara aprovou projeto que transfere para a Presidência da República até 2015 a prerrogativa de definir, por decreto, o salário mínimo. A meu ver, para evitar esses dissabores de cada ano, os senhores deputados poderiam muito bem aprovar projeto que vinculasse o percentual de aumento do salário mínimo ao percentual de aumento de seus próprios proventos.
A classe proletária finalmente iria ao paraíso.

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