terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

CRÔNICAS IMPUDICAS

PÃO e CIRCO
João Eichbaum

Você conhece Tartarugalzinho? Sabe onde fica?
Pois, fica no Amapá, que é representado, no Senado, pelo Sarney.
Você sabia que foi destinada, no orçamento, uma verba para a “compra de instrumentos musicais” para Tartarugalzinho?
A notícia não diz qual foi o parlamentar autor da emenda, mas o certo é que iniciativa partiu do Congresso.
E Arapiraca, você sabe onde fica?
Nas Alagoas, terra do Calheiros, do Collor, essa gentinha toda.
Então, sente, e leia: foi destinada, no orçamento, por emenda de algum deputado ou senador, uma verba para “apoio financeiro à Paixão de Cristo de Arapiraca”.
Para a “construção de um centro de convivência de idosos” em Goiânia também foi destinada uma verba no orçamento. Através de emenda parlamentar, é claro.
Igualmente São Paulo teve verba destinada. Não para construção de estradas, para saneamento, para educação, para segurança, mas uma verba para a “preservação do patrimônio histórico da Mitra Arquidiocesana”.
Você viu agora para onde os parlamentares querem mandar o nosso dinheiro?
Nós que trabalhamos mais de três meses por ano exclusivamente para o governo, teríamos que subvencionar instrumentos musicais para Tartarugalzinho, a Paixão de Cristo de Arapiraca, o centro de convivência dos idosos em Goiânia, e o patrimônio histórico da Mitra Diocesana de São Paulo.
Deputados ou senadores, seja lá quem for, usam, sem qualquer escrúpulo, do suor do nosso rosto, para beneficiar o interesse de grupos ou pessoas, proporcionando uma distribuição nada equânime do dinheiro que entregamos ao governo.
Que razões haverá para que patrocinemos instrumentos musicais para Tartarugalzinho? O que é que nós temos a ver com Tartarugalzinho?
Que razões haverá para que patrocinemos a Paixão de Cristo de Arapiraca?
Sobre nossos ombros há de recair a responsabilidade pelo lazer dos idosos de Goiânia?
Teremos que assumir o papel que cabe a seus familiares?
E o arcebispo de São Paulo quer construir um museu às nossas custas? E nós, contribuintes, teremos que incrementar o patrimônio da Igreja Católica naquele Estado?
Que temos nós a ver com isso? Jesus Cristo, que fazia milagres, não entra com nada?
Pois saiba você que Dilma terminou com essa farra: cortou do orçamento esses favores com destino certo, o espírito circense, dando a primeira picada no rabo da demagogia.
Ela demonstra saber que há coisas mais importantes, na ordem das necessidades, do que instrumentos musicais, paixões de Cristo, passatempo para idosos e histórias eclesiásticas.
No dia em que houver dinheiro de sobra para saúde, segurança e educação, o lazer poderá pleitear a sua parte. Por enquanto, ainda não. Que haja verba para o pão, tudo bem. Mas, para o circo, que cada um pague sua entrada.

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