Detalhes tão pequenos de nós dois
Mildríades resfolegou diante de um corcel vermelho, ano 73, tala larga e roda de magnésio.
Era obcecada por carros, dos mais antigos aos mais modernos e resfolegar era seu exercício respiratório preferido.
E assim, resfolegando, aproximou-se do motorista e sem sequer perguntar pela família logo indagou: – Quer vender? - E o motorista: – Não.
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Acordou de manhã com a palavra na cabeça. Tomou banho e a palavra não saia de sua cabeça. Durante o café sujou os dedos com manteiga por causa da palavra que não saia de sua cabeça. Tentou ler o jornal mas a palavra não saia de sua cabeça e não conseguiu se concentrar.
Ligou o carro na garagem com a palavra martelando em sua cabeça. Deu marcha-ré e entrou na avenida, obrigando um Corsa a frear ruidosamente para evitar uma batida. O motorista do Corsa, indignado, gritou: – Olha por onde anda, imbecil! E a palavra finalmente saiu de sua cabeça quando respondeu, ultrajado: – Isto é um vilipêndio!
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Mordeu com gosto a maçã e sentiu-se desfalecer: o dente da frente quebrou. Sentiu na boca a mistura da maça com o dente enquanto tentava, quase em desespero, separar uma do outro. A plateia à sua frente ouvia com atenção as palavras elogiosas do mediador, anunciando o currículo e a importância dele, o palestrante do dia. Conseguiu engolir o pedaço de maçã depois de colocar o dente quebrado sob a língua. Disfarçando, fingiu coçar a boca e empunhou o dente, colocando-o como quem não quer nada no bolso do colete. Quando o mediador passou-lhe a palavra ergueu-se, foi até o púlpito e, diante do microfone, abriu um sorriso desdentado e disse, sibilando, a ponta da língua escorregando pelo buraco entre os outros dois dentes, que a conferência estava adiada por um defeito no teclado. A platéia ovacionou aliviada e a maioria foi para o pátio da escola jogar futebol.
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Ademir chegou cedo em casa e encontrou sua mulher na cama com Ademar, seu compadre. Sem alarde, saiu e foi para a casa de Ademar e lá chegando puxou a mulher dele, muito mais bonita do que a sua, para o quarto. Ela não resistiu e até sorriu. Enquanto tiravam a roupa Ademir concluiu, satisfeito, que naquela noite poderia assistir televisão em paz, depois do jantar.
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Laurita deixou as crianças as sete no colégio como fazia, todas as manhãs. Voltou para casa, encheu a banheira de hidro-massagem e deitou-se na água tépida, sentindo a energia dos jatos massagearem-lhe o corpo. Abriu o livro na página trinta e seis e perdeu-se na leitura. Onze horas vestiu jeans, tênis e camiseta, foi ao supermercado e, meio-dia, apanhou as crianças no colégio. Depois do almoço levou as crianças para a escolinha e suspirou, aliviada. Finalmente podia descansar.
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Carlão vendeu o último brinco de sua mãe e na esquina de sempre comprou uma dose de crack. Fumou e aliviou. Estava nervoso e preocupado com a prova de física do Vestibular, pois quase não tinha estudado. Será que ia levar pau?
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Dom Pedro I terminou de fazer cocô, lavou-se na bacia e vestiu a túnica imperial. Entrou no gabinete, chamou seu ajudante de ordens e disse, entre um pigarro e outro, que tinha resolvido criar o poder moderador. – Avisa o Benjamim Constant hoje mesmo e ele que não me venha com teorias. O ajudante de ordens anotou tudo em seu bloco de notas e respondeu: – Pois não, Meu Rei.
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Mildriades insistiu: – Quanto quer por ele? E o motorista: – Nada, minha senhora, não quero vender. Mildríades resfolegou e saiu rua afora, indignada.
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Estou a fim de um boquete hoje, disse Clinton. – É pra já, meu Presidente – respondeu Mônica. – Então tranca a porta, minha ninfa.
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- Ordenança, tire as minhas botas! – ordenou Gengis Kahn. Na mesma hora sua barraca esvaziou. Gengis Kahn passou a mão pelos pés cansados e cortou a palma na ponta da unha do dedão. – Merda! Os chineses vão pagar caro por isso. E derrubou a Grande Muralha da China em busca de uma chinesa que lhe cortasse as unhas.
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Ele sabia que, cedo ou tarde, teria que sair do banheiro. Amarrou o que pode, passou gel nos cabelos, refez a barba pela quinta-feira, tentou evacuar mas estava sem vontade, lavou novamente o rosto, escovou outra vez os dentes, ajustou o tope da gravata, alisou o colarinho, escovou o casaco, amarrou o cordão dos sapatos, tossiu e assoou o nariz. Quando novamente sua mulher gritou, lá do quarto, que estava na hora, a voz dela já irritada de tanto esperar, resignou-se. Foi lá, assumiu a presidência e acabou logo com aquilo.
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Quando finalmente expeliu uma pedra no rim e as cólicas passaram, Einstein inventou a teoria da relatividade. Há anos não sentia um alívio tão grande.
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Eu tenho horror de sair de baixo do chuveiro, no inverno.
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Categoria Contos absurdos – Para quem tem alegria no coração, humor na alma e tolerância com o autor
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