quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

CRÔNICAS IMPUDICAS

SABE COM QUEM TÁ FALANDO?

João Eichbaum

Pleno verão, céu azul, ornamentado com núvens brancas, e o povo desfilando de carrinhos e carrões pela Estrada do Mar – aquela que o Pedro Simon construiu, para poder ir à sua praia, a Rainha do Mar, só no asfalto, a fim de descansar do nada que sempre fez. Ele lucrou, mas o povo também.
E é por isso que o povo gosta de desfilar pela Estrada do Mar, porque tem asfalto e o asfalto deixa uma praia pertinho da outra.
Só que têm os pardais e também os brigadianos. Não fosse isso, tudo seria maravilha.
Aí, enquanto o povo desfilava, em pleno domingo de verão, com aquele sol aquecedor e bronzeador, se divertindo à beça, a Polícia Militar, que a gente chama de Brigada, tava dando duro por lá: queria pegar bêbados, doidinhos do volante e inadimplentes do IPVA.
Eis senão quando, pintaram duas gatas no posto de gasolina, onde um dos brigadianos estava abastacendo a viatura. Gatíssimas. Dessas que a natureza trata bem, sobretudo quando o verão é dadivoso, com céu azul e sol pra ninguém botar defeito. Duas gatas sozinhas, sem macho, num belo Fox. Coisa de chamar a atenção: gatas bonitas, sem homem, um belo arsenal de sedução.
Nesse momento baixou no espírito do brigadiano a força da autoridade, já que ele não tinha outra chance para chegar nas moças.
-Boa tarde – fez continência e se apresentou para elas.
-Boa tarde – responderam em coro as duas.
- Os documentos do carro e a carteira de motorista, por favor – prosseguiu ele, com sua voz de autoridade, recheada de educação.
Aí, uma das moças, não a motorista, mas a que estava de carona, resolveu encarar:
- O que que é isso? Pedir documentos e carteira, aqui no posto de gasolina?
- Estou cumprindo meu dever, senhorita – respondeu o brigadiano, já engrossando a voz, com aquele tom inconfundível de autoridade.
- Mas não pra cima de nós – tornou a fofa da carona. E abrindo a bolsa, exibiu, na cara do brigadiano sua identidade: era delegada de polícia em Canoas.
Não é preciso dizer que o bate-boca funcionou a mil:
- Eu sou a autoridade
- A autoridade sou eu.
E por aí foi.
Resultado: um deu queixa do outro, produzindo cada um a sua ocorrência policial.
Isso aconteceu em Osório, domingo último. Nenhuma das “autoridades” quis se humilhar, nenhuma quis ser menor do que a outra.
E podem ter certeza: se não fossem mulheres, a coisa iria pretear, o brigadiano ia chamar reforço, o rebu ia ser bem maior.
E nós, pagando e sendo assaltados. E os assaltantes arrombando até Delegacia de Polícia, enquanto as “autoridades” ficam armando barracos, na disputa pelo poder.

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