João Eichbaum
O “Espaço Vital” tem publicado veementes manifestações
de advogados e professores de direito (Lênio Streck, Luiz Padilla, entre
outros) sobre o estado falimentar em que se encontra a função constitucional do
Poder Judiciário.
Digna de figurar numa antologia de humor, circula
naquele site uma charge de aguda ironia, retratando o caos: no desalinho de
uma sala, uma montanha de papéis e processos afoga no desespero um personagem
que esbraveja:
“Cadê a maldita sentença modelar que o assessor
deixou aqui”?
Assim é. Os juízes, de há muito, deixaram de
examinar os processos. Suas maiores preocupações giram em torno de seus
privilégios, de seus direitos, de seu “status” na sociedade, da dignidade de
suas funções, do seu mestrado ou doutorado, das aulas que ministram nos cursos
de direito das mais variadas espécies e nos mais variados rincões, desde a sua
Associação até a faculdade lá de São João da Cochinchina.
O trabalho jurisdicional está entregue a belas
e deslumbradas estagiárias, de duvidosa alfabetização, recém iniciadas nas
inúmeras faculdades de direito espalhadas pelo Estado afora, ou a esforçados,
mas feios e despreparados auxiliares e assessores.
As facilidades oferecidas pelo computador, para
“copiar” e “colar”, se transformaram, nas mãos de analfabetos funcionais, em
decisões com força legal. Os maiores absurdos, as mais inconcebíveis
incongruências, as mais horripilantes heresias jurídicas, em pouco tempo,
adquirem a roupagem de “coisa julgada”: o recurso, interposto no primeiro grau,
recebe o mesmo tratamento no segundo grau, onde o assessor, o estagiário ou o
auxiliar de serviços gerais, “copia” a sentença recorrida e a “cola” no
acórdão, servindo a decisão “para mantê-la por seus próprios fundamentos”. Sem
se darem conta de que não passam de personagens de uma pantomima, muitos
advogados ainda se entregam aos arroubos da “sustentação oral”.
Para os embargos declaratórios já existe o
“modelo”. E pronto. Ajuizado recurso especial ou extraordinário, o “modus
operandi” não muda e a “cópia” e a “cola” funcionam, negando seguimento.
A pergunta que nos ocorre, a nós,
contribuintes, é a seguinte: por que é que o Estado não poupa tudo o que gasta
com o Judiciário, a começar pelos polpudos subsídios dos juízes?
Ágeis
digitadores custariam bem menos e fariam a mesma coisa. Iria sobrar muita verba
para investimentos na saúde, na educação, na segurança, no transporte e, na
Justiça, nada mudaria. Quer dizer, pior do que já está não ficaria.
Um comentário:
Desta vez será que o autor não foi longe demais? Ou seja, o problema exista sem a generalização aqui feita? Ou então nos afundamnos todos na mais profunda descrença. É um bom material para reflexão e, fatos assim negativos, não poderão ser simplesmente negados. Mas não haverá algo que ainda se possa fazer para minimizar o problema?
Postar um comentário