A MADAME, O CACHORRINHO E O LADRÃO
João Eichbaum
Às vezes, muito poucas vezes, são belas
mulheres que vejo levando seus cachorrinhos a passear. Fico encantado, sorrio,
e elas retribuem gentilmente com seu sorriso branco, parelho, cheio de dentes.
E até esqueço que os cachorrinhos terão a finalidade específica de sujar os
passeios públicos.
Claro que elas pensam que o meu
encantamento é por causa dos
cachorrinhos.
Mas não, não é nada disso. O que eu aprecio
são as belas mulheres, as donas dos cachorrinhos, e o meu sorriso é a única
maneira de lhes despertar, senão simpatia por mim, pelo menos um olhar
ligeiramente cúmplice.
Minha reação não é a mesma, quando se
trata duma coroa que não foi visitada nem rapidamente bela beleza, ou quando é
uma marmanjo, levando um doguezinho desse tamanhinho pela corda.
Bem, tudo isso é introdução, para lembrar que em qualquer rua,
em qualquer cidade, e a qualquer hora a gente vê um deslumbrado dono de
cachorrinho cabresteando o bicho, levando-o a sujar as calçadas, a molhar os
postes, ou a enferrujar a roda dos automóveis.
Raros são os donos e donas de
cachorrinhos que se importam com a limpeza das ruas, ou se lembram de que há
muitas pessoas distraídas que não olham para o chão e só se dão conta daquela
merreca fedorenta quando olham para os calçados. Infelizmente são poucos os que
procedem com uma das minhas vizinhas, que leva seu cachorrinho pela soga a
passear e a fazer suas necessidades, mas tem o cuidado de levar também um
saquinho plástico e uma pazinha.
Dia desses, já ao anoitecer, levava ela seu cachorrinho peludo e branco, a cheirar
aqui e ali e a levantar a perninha onde lhe aprazia. Aí o cachorrinho parou,
para uma necessidade maior. Ela esperou pacientemente e, quando o bichinho se
aliviou, lá estava ela de pazinha na mão e um saquinho plástico, para colaborar
com a preservação do meio ambiente e a melhoria de vida da humanidade. O
cachorrinho, logo a seguir, se enroscou na corda e sua dona, para ajudá-lo
deixou o saquinho plástico cheio de bosta em cima de um desses recipientes de
lixo. Nesse ínterim, no escuro, vinha um ciclista que, certamente, já tinha
observado a dona envolvida com o cachorrinho, depois de haver deixado o
saquinho plástico em cima da lixeira. Sem parar a bicicleta, o sujeito deu de
mão no saquinho plástico e se mandou a toda a velocidade.
Pena que ninguém teve o privilégio de
ver a cara dele, quando abriu o saquinho.
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