quinta-feira, 20 de setembro de 2012


LAMA E BOSTA DE CAVALO


João Eichbaum
               joaoeichbaum@gmail.com

Todos os anos, na semana que precede o dia 20 de setembro, o município de Porto Alegre cede um considerável espaço no parque chamado Maurício Sirotsky Sobrinho, para que os gaúchos comemorem como feito heróico, uma “ímpia e injusta guerra”.
Lá se reúnem os fanáticos, vestem bombacha, adornam o pescoço com um lenço vermelho, botam na cabeça um chapéu de abas largas, calçam botas de cano comprido, com esporas de metais nos calcanhares, exibem uma faca na cintura, procuram imitar o sotaque dos pampeanos, se entopem de chimarrão e, muitos, de cachaça, servida em guampa de bovino.
Alguns desfilam de cavalo para mostrar que são “gaúchos” e andam por lá esporeando os animais, falando grosso. Outros tocam gaita e violão, abrem a goela para arrotar as grandezas do pampa. As “prendas” desfilam com seus vestidos compridos de chita, que escondem as partes melhores das mulheres: ancas e peitos.
Invariavelmente, nessa época, São Miguel manda água para valer: é a falada enchente de São Miguel. Porto Alegre fica alagada, não há canto em que não haja água, chove a cântaros sem parar.
Nessas circunstâncias, é claro que o barro se avoluma e, pisoteado pelas botas dos gaúchos, forma uma gosma desagradável, sobre a qual os cavalos e éguas fazem as suas necessidades.
Então o quadro fica assim: lama e bosta de cavalo por tudo quanto é canto.
Nesse palco os gaúchos lembram e comemoram a “Guerra dos Farrapos”, um levante contra o Governo Federal que ficou na história. Sentindo-se escorchados por impostos, os riograndenses de então tinham resolvido instalar a própria república, se separando do Brasil. Eles trabalhavam, os impostos iam para o Governo Central, mas o Rio Grande do Sul nada recebia em troca. Essa foi a causa da estrepulia.
Os gaúchos não ganharam a guerra: se entregaram.
E de nada adiantou a dita guerra. A espoliação continua a mesma até hoje. Os impostos, recolhidos dos riograndenses que trabalham, são aproveitados pelo Sarney, pelo Collor, pelo Renan Calheiros e muitos outros que enriqueceram sem saber o que é batente. E o Tarso Genro, que é governador, bate palmas.
Mesmo assim, os gaúchos comemoram essa “ímpia e injusta guerra”, cantam, bebem, dançam, e se refestelam numa apoteose de lama e bosta de cavalo. E ainda querem que essa façanha sirva “de modelo a toda a terra”.
Pode?


PS – Para quem não conhece, segue a letra do “hino riograndense”:

Como aurora precursora
Do farol da divindade
Foi o 20 de Setembro
O precursor da liberdade
Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra
Mas não basta pra ser livre
Ser forte, aguerrido e bravo
Povo que não tem virtude
Acaba por ser escravo
Mostremos valor constância
Nesta ímpia e injusta guerra
Sirvam nossas façanhas
De modelo a toda Terra

Um comentário:

Gigi disse...

Nunca fui a esse local, o parque, mas confesso que gosto de ouvir o hino rio-grandense, principalmente quando é cantado pelo Lucas! Fico numa vibração!