João Eichbaum
A vaidade do ser humano
é arrasadora. Arrasa a personalidade, arrasa a sabedoria, arrasa as todas as
virtudes.
O julgamento do mensalão
mostra essa força deletéria de um sentimento de que raros humanos se descartam.
Postos na mídia, à frente das câmeras, os ministros do Supremo Tribunal Federal
perdem a postura de juiz.
Alguns fazem longos
discursos. Outros, com medo de se expor ao ridículo, perdendo em retórica para
os que o precederam ou para os que virão depois deles, se limitam as concordar
com o relator, economizando gestos e palavras: é outra forma de se entregar à
vaidade.
Em sua última edição, a
Veja transcreve trechos de votos de alguns ministros, que nada têm a ver com
sentenças. São apologias contra a corrupção e os corruptos. O palavrório é
escolhido a dedo e a dicionário, as orações são retorcidas, vestindo um estilo
Ruy Barbosa, o impacto é estudado. Não são votos, não são sentenças, são
catilinárias, arroubos, êxtases treinados para a representação na frente das
câmeras.Tudo escrito, tudo lido. Nada é espontâneo, nada brota dos debates. E,
o que é pior, nada nasce dos autos.
Os autos não fornecem
conteúdo para discursos. Os autos só fornecem dados para a sentença, para o
julgamento. Os autos desenham os pressupostos das premissas que deverão compor
o silogismo da sentença. E nesse silogismo não há lugar para arroubos porque
ele é dirigido para o raciocínio, para a lógica, e não para o sentimento.
Esquecendo-se de que
verdugo é quem executa a sentença e não quem a lavra, alguns ministros do
Supremo Tribunal Federal despedem a toga e fazem da palavra uma verdadeira
execução da sentença: o linchamento público e moral.
De todos os ministros, o
único que mostrou uma postura de juiz foi César Peluso. Seu voto foi sereno e
equilibrado, assentado no raciocínio e não nos sentimentos. Votou pelo que viu
nos autos e não com vistas às manchetes do dia seguinte.
Pena que ele deixou de
ser juiz. Mas, a Veja, esquecendo os arroubos dos outros ministros, na
penúltima página lhe fez justiça: lamentou que sua sabedoria, não afetada pela
vaidade, tenha sido banida dos tribunais pela força da lei, a aposentadoria
compulsória.
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