terça-feira, 11 de setembro de 2012


NÃO ESTAVA ESCRITO

João Eichbaum

Ontem o Joaquim Barbosa mostrou que quem manda nele é vaidade, e que, por isso mesmo, não está dotado do requisito mínimo que se exige de um juiz: a personalidade forte, o caráter sem dobradiça.
Depois de um voto prolixo, convidando mais ao sono do que à reflexão, porque consistiu apenas em leituras de interrogatórios e de depoimentos, além de relatórios do Banco Central, ele concluiu que Ayanna Tenório, entre outros, praticou crime de lavagem de dinheiro. Reconheceu a culpabilidade dela, cansou a plateia com a leitura de peças que lhe debitavam irregularidades, mas a absolveu porque seus colegas ministros a tinham absolvido da imputação do crime de “gestão fraudulenta de instituição financeira”.
Quer dizer: votou contra a própria convicção.
E sabem por que?
Para não ser vencido. Ou melhor, votou contra a própria convicção porque sua vaidade não permitia que ele fosse derrotado. Colocou o próprio ego acima de tudo, acima inclusive do seu dever de praticar justiça. Absolveu uma pessoa culpada, por ordem do seu ego, da sua vaidade.
Esse é o homem escolhido pelo imprensa e pela opinião pública dominante como o herói da República, o salvador da pátria: um cidadão que coloca próprio umbigo acima de quaisquer outros valores.
Mas, além dessa fraqueza, que demonstra completo despreparo para a função judicante, porque ninguém admite que um juiz possa absolver ou condenar alguém só por vaidade, ele deixou vazar também uma inaceitável deficiência de raciocínio.
Embora sem um mísero argumento, ele próprio admitira que o crime de lavagem de dinheiro se havia configurado graças à existência de três crimes antecedentes: contra a Administração Pública, praticado por organização criminosa, e contra o sistema financeiro nacional. Arredado que fosse o crime contra o sistema financeiro nacional, sobrariam dois outros crimes “antecedentes”, para a configuração do crime de lavagem de dinheiro imputado a Ayanna, portanto.
 Mas sabem porque ele não viu isso e passou um atestado público de pobreza intelectual?
Porque não estava escrito no seu sonolento voto.

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