NÃO ESTAVA ESCRITO
João Eichbaum
Ontem o Joaquim Barbosa
mostrou que quem manda nele é vaidade, e que, por isso mesmo, não está dotado
do requisito mínimo que se exige de um juiz: a personalidade forte, o caráter
sem dobradiça.
Depois de um voto
prolixo, convidando mais ao sono do que à reflexão, porque consistiu apenas em
leituras de interrogatórios e de depoimentos, além de relatórios do Banco
Central, ele concluiu que Ayanna Tenório, entre outros, praticou crime de
lavagem de dinheiro. Reconheceu a culpabilidade dela, cansou a plateia com a
leitura de peças que lhe debitavam irregularidades, mas a absolveu porque seus
colegas ministros a tinham absolvido da imputação do crime de “gestão
fraudulenta de instituição financeira”.
Quer dizer: votou contra
a própria convicção.
E sabem por que?
Para não ser vencido. Ou
melhor, votou contra a própria convicção porque sua vaidade não permitia que
ele fosse derrotado. Colocou o próprio ego acima de tudo, acima inclusive do
seu dever de praticar justiça. Absolveu uma pessoa culpada, por ordem do seu
ego, da sua vaidade.
Esse é o homem escolhido
pelo imprensa e pela opinião pública dominante como o herói da República, o
salvador da pátria: um cidadão que coloca próprio umbigo acima de quaisquer
outros valores.
Mas, além dessa
fraqueza, que demonstra completo despreparo para a função judicante, porque
ninguém admite que um juiz possa absolver ou condenar alguém só por vaidade,
ele deixou vazar também uma inaceitável deficiência de raciocínio.
Embora sem um mísero
argumento, ele próprio admitira que o crime de lavagem de dinheiro se havia
configurado graças à existência de três crimes antecedentes: contra a
Administração Pública, praticado por organização criminosa, e contra o sistema
financeiro nacional. Arredado que fosse o crime contra o sistema financeiro
nacional, sobrariam dois outros crimes “antecedentes”, para a configuração do
crime de lavagem de dinheiro imputado a Ayanna, portanto.
Mas sabem porque ele não viu isso e passou um atestado público de pobreza intelectual?
Porque não estava
escrito no seu sonolento voto.
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