ENTRE A INSEGURANÇA E O
ARRASTÃO
João
Eichbaum
Para quem
conhece o ofício de julgar, há duas coisas que chamam a atenção no julgamento
da Ação Penal 470, vulgo “mensalão”: a insegurança do Lewandowski e a
obstinação do Joaquim Barbosa. O primeiro viaja na instabilidade dos conceitos
e institutos que ele não domina. O segundo se sustenta na ideia fixa da
condenação.
Lewandowski
ainda tenta ser juiz. Procura analisar a conduta de cada réu individualmente,
de conformidade com os fatos denunciados. Não poucas vezes tropeça nessa dificuldade:
a denúncia mais se parece com um arrastão do que com uma exposição
circunstanciada de condutas penais. Então, não encontrando na denúncia a
conduta individualizada do réu, o Lewandowski o absolve.
As falhas
dele, no mais, se devem à sua pouca intimidade com a Ciência do Direito.
Ricardo Lewandowski tem uma dificuldade enorme com a hermenêutica, porque sua
formação militar, ligada a obuzes, canhões e regulamentos, atrapalha a
construção do discurso dialético.
Ele
demonstra isso ao analisar os crimes de lavagem de dinheiro. Ao invés de buscar
argumentos na Ciência do Direito Penal, se concentra nas instruções ou normas
bancárias que estabelecem paradigmas para coibir esse tipo de crime. E aí ele
se perde, é claro. Absolve alguns réus, sob o argumento de que eles ignoram a
proveniência ilícita dos valores, e condena outros porque, pelas
circunstâncias, quer dizer, pelo enredo da história de que fazem parte, eles
teriam tudo para conhecer a fonte suja.
Em outras
palavras, para condenar ele faz uso do “dolo eventual”, a que nega acolhimento
na lei específica, e absolve porque não vislumbra na prova o dolo direto.
Já o
Joaquim Barbosa não faz diferenças: segue literalmente a
denúncia, que não individualiza os comportamentos dos réus, e condena por
atacado, com a árida leitura do voto, do qual não deixa de fora nem as “aspas”.
E, desrespeitando um dos princípios básicos do ofício de julgar, que é o grau
de burrice do juiz, chamado pela lei de “livre convencimento”, ainda se arvora
no direito de exigir do revisor Lewandowski que pense como ele.
O STF
nunca tinha sido exposto aos olhos da nação, como o está sendo agora. É a sua
vez de ser julgado pelo povo esse tribunal, depois que seus componentes
passaram a ser escolhidos pela cor, pelo sexo e por indicação dos camaradas de
partido. Além isso, sem precisarem apresentar folha corrida.
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