DOIS TABEFES NO SUPREMO
João Eichbaum
Por obra de um amigo meu de Santa Maria,
travei conhecimento com a verve de Jânio de Freitas. Como não tenho o hábito de
ler a Folha de São Paulo, não conhecia esse jornalista. Agora sei que ele é um
provecto senhor de oitenta anos, o que, por si só, o qualifica como profissional
respeitável. É daqueles que não se tornaram jornalistas pelo diploma, mas pela
aptidão pessoal. Não é por menos que ele carrega no currículo o título de
membro do conselho editorial da Folha.
Pois o meu amigo me remeteu cópia da
crônica subscrita pelo excelente jornalista, intitulada “A voz das provas”, de
que reproduzo alguns tópicos:
Tanto
na exposição em que pediu a condenação de José Dirceu como agora no caótico
arranjo de fixação das penas, o relator Joaquim Barbosa se expandiu em
imputações compostas só de palavras, sem provas.
Em
um dos muitos exemplos que fundamentaram a definição de pena, foi José Dirceu
quem "negociou com os bancos os empréstimos". Se assim foi, é preciso
reconsiderar a peça de acusação e dispensar Marcos Valério de boa parte dos 40
anos a que está condenado. A alternativa é impossível: seria apresentar alguma
comprovação de que os empréstimos bancários tiveram outro negociador -- o que
não existiu segundo a própria denúncia.
E arremata seu artigo, de forma
candente:
“Ignoro se
alguém imaginou absolvições de acusados de mensalão. Não faltam otimistas, nem
mal informados. Mas até entre os mais entusiastas de condenações crescem o
reconhecimento crítico do descritério dominante, na decisão das condenações, e
o mal-estar com o destempero do relator Joaquim Barbosa. Nada disso
"tonifica" o Supremo, como disse ontem seu presidente Ayres Britto.
Decepciona e deprecia-o -- o que é péssimo para dentro e para fora do país.
Além dessa aguçada interpretação, Jânio de Freitas
menciona a entrevista do jurista alemão Claus Roxin às jornalistas Cristina Grillo e Denise Menchen, alertando que a sua
“teoria do domínio do fato” não dispensa a prova.
Fui à procura da entrevista e ali
encontrei a pergunta fundamental que lhe fizeram as jornalistas: seria possível
utilizar a teoria do domínio do fato para fundamentar a condenação de um
acusado, presumindo-se a sua participação no crime a partir do entendimento de
que ele dominaria o fato típico por ocupar determinada posição hierárquica?
Resposta de Claus Roxin:
A pessoa que ocupa uma posição no topo de uma
organização qualquer tem que ter dirigido esses fatos e comandado os
acontecimentos, ter emitido uma ordem. Ocupar posição de destaque não
fundamenta o domínio do fato. O 'ter de saber' não é suficiente para o dolo,
que é o conhecimento real e não um conhecimento que meramente deveria existir.
Essa construção de um suposto conhecimento vem do direito anglo-saxônico. Não a
considero correta.
As citações, tanto de
Jânio de Freitas como de Claus Roxin servem para ilustrar as críticas que
partiram deste blog à falta de fundamentação, à fraqueza da hermenêutica e,
sobretudo, ao comportamento de Joaquim Barbosa individualmente e do STF como um todo.
Saibam, então, os leitores que este blogueiro não é
uma voz isolada, explicando o funcionamento do anzol para peixes mortos,
enganados pela minhoca.
Um comentário:
Boa tarde, senhor Eichbaum.
Cheguei ao seu blog via um comentário, aliás muito bom, que fez aos textos de Percival Puggina, realmente um grande jornalista.
Sobre o comentário relativo á matéria da Folha de São Paulo, em que usam partes de uma entrevista do jurista alemão Claus Roxin, um dos autores da Teoria do Domínio do Fato, aconselho, caso não tenha lido, a carta remetida da Alemanha criticando a matéria da Folha por completo.
Os jornalistas deturparam oque foi dito e o senhor Roxin jamais sugeriu advogar, por exemplo, como os petistas dirceunianos divulgaram, para Dirceu.
A Folha é um descalabro de adesismo. Sou paulista e testemunha da queda daquel jornal nas malhas do governismo.
Leia carta enviada por alunos do Roxin, em nome dele, no blog do Reinaldo Azevedo, um dos blogs de política mais importantes do Brasil.
Gostei do seu blog.
Saudações
Gutenberg J.
blog Laudaamassada
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