BOLSAS E COTAS
João Eichbaum
A mãe do Badanha era uma dessas por aí. Depois de umas que outras, certa
noite deitou com um afrodescendente - vamos dizer assim, porque o adjetivo
“negro” foi banido do vernáculo por lei.
Aí, tal como vocês estão pensando, nove meses depois, o Badanha veio ao
mundo, patrocinado pelo SUS.
Do pai, nunca se soube quem era. A bem dizer, nem ela mesma, a mãe do
Badanha, poderia dizer com certeza quem seria mesmo o progenitor. Aí o Badanha
foi crescendo e, à medida que foi crescendo, foram surgindo irmãozinhos e
irmãzinhas engrossando a família, que só tinha mãe.
Até que o Lula apareceu. Sabe o Lula? É, isso mesmo, o patrão da
Rosemary.
Então, o Lula apareceu e instituiu uma esmola oficial, conhecida como
“bolsa-família”. A mãe do Badanha se inteirou do assunto, pedindo informações
aqui e ali, e correu para botar as crianças na escola. Escola pública, é claro.
Aí começou a receber, mensalmente, o “bolsa-família”, que era a verba
complementar dos seus programas. Se tivesse carteira assinada, trabalho formal,
seria diferente, não teria direito à esmola oficial. Então, o negócio era
continuar a exercer a antiga profissão da Madalena, aquela que lavou os pés de
Jesus Cristo.
O Badanha era burro e preguiçoso pra xuxu, vivia matando aula, mas foi
passando de ano em ano, porque a Secretaria de Educação proibia a reprovação
dos alunos. Só começou a ler no terceiro ano, exatamente como prevê o projeto
do Ministério da Educação.
Assim foi: concluiu o primeiro e o segundo grau numa escola pública, onde
os professores faltavam, faziam greve, se aposentavam e não eram substituídos.
Mas o Badanha chegou lá. Nunca soube o que era batente porque os michês da mãe
eram incrementados com o bolsa-família. Nunca soube o que era estudar, porque o
governo garantia a sua aprovação.
Então, assim, ó: filho de negro, ops, de afrodescendente, aluno de escola
pública, e carente, o Badanha tinha tudo para ser aprovado no vestibular da
UFRGS. Levou de barbada, amparado no direito das cotas.
Quando a coisa começou a apertar e ele sentiu que teria de procurar
emprego, veio uma salvação de Brasília: a ajuda de custo para universitário
carente, leia-se cotista. Quatrocentos pilas por mês! Para que trabalhar?
Daqui a algum tempo o Badanha estará disputando o mercado de trabalho.
Disputando? Vocês é que pensam. Ele está plenamente confiante de que o
governo do PT providenciará: cota de emprego para desqualificados.
Mas, se a lei não vier até lá, de qualquer maneira ele já estará
garantido: será deputado. Pelo PT, é claro.
3 comentários:
Maravilhosa crônica, mas, lamento, presumo impublicável nos jornais.
Melhor ler isso do que ser cego
LAMENTÁVEL, deve ser muito triste ser um ser preconceituoso feito você, mas triste do que isso deve ser ter seus pensamentos mesquinhos e pequenos. Então quer dizer que se a mulher é Negra, e eu não tenho problemas com o uso da palavra, ela não sabe de quem é o pai e sua profissão é Prostituta? Se é pobre e negro, é burro? NOSSA coitado de você mais um filho dessa sociedade nojenta e cheias de pré-conceitos, que se mete a escritor mas não passa de mais um que fala sem conteúdo!
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