segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


E A VIDA CONTINUA

João Eichbaum

A mitologia cristã e outras religiões atribuem a uma divindade a criação do mundo e dos animais que nele habitam, entre os quais se salienta essa criaturinha difícil chamada ser humano.
O trabalho, assim impropriamente dito, porque outra coisa não seria senão puro e simples monólogo dessa deidade, sem queima de uma só caloria, (“faça-se, isso, faça-se aquilo”) teria sido concluido em seis dias. A despeito da ausência de qualquer esforço físico, o ente divino sentiu necessidade de descansar no sétimo dia.
Mas, isso é tema de Direito do Trabalho. O que eu quero mesmo é falar sobre o mundo que os homens criaram, em cima daquele mundo que, segundo os mitos religiosos, lhes teria sido entregue pela divindade.
Alçado à condição de obra prima dessa criação, o ser humano evoluiu. Da ignorância total - antes que a “serpente” lhe despertasse a curiosidade para o conhecimento – ele foi aprimorando a própria inteligência, até atingir um domínio magistral da ciência, que só o não protege, por enquanto, contra os maus humores da natureza. Ele chegou a um ponto a que divindade nenhuma chegou. Nem mesmo a cristã conseguiu tal proeza, apesar do preço de sangue, pago por um de seus rebentos.
O homem domina as próprias relações entre os da sua espécie.
Explico. A divindade criadora, irada, vingativa por ter perdido para a lábia da serpente, expulsou o homem do paraíso, entregou-o ao deus-dará: te vira, te multiplica, vai ganhar o pão com o suor do teu rosto, acabou a moleza.
Foi assim, no início. Perdido, sem rumo, entregue às feras, deserdado pelo “pai” que o criou, o homem comeu o pão que o diabo, ops, a serpente amassou. Mas a dor o ensinou a gemer. Com esforços próprios, ele se livrou do jugo da escravidão e da dependência da divindade: evoluiu.
Hoje, só se “multiplica” quem quer. Só “sua” quem não conhece informática, e para ter moleza basta ser político. Quer dizer, dominando a informática, o homem, hoje, domina o mundo, e o mundo outra coisa não representa, senão as relações humanas  que permitem a vida.
Hoje, gênios em informática – leia-se “hackers” – têm esse mundo em suas mãos. Eles podem instaurar o caos em toda a face da terra, se o quiserem, fazendo algo que nem o dilúvio da literatura bíblica conseguiu. Com a interrupção das informações, podem deixar o mundo sem energia, sem água, sem gás, sem a tecnologia da saúde, além de provocarem quedas e colisões de aviões, naufrágios de transatlânticos, choques de trens.
Dependendo de sua inteligência, o homem pode destruir o mundo, antes que o faça qualquer divindade.
Felizmente, os “hackers” não cogitaram disso no dia 21 de dezembro, os maias se desmoralizaram e o mundo continuou habitado pelo bicho homem. 


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