segunda-feira, 8 de julho de 2013

A  HISTÓRIA PEGOU FOGO

João Eichbaum

O mercado público de Porto Alegre é uma jóia arquitetônica, plantada no centro da cidade, testemunhando fisicamente a história. Foi erguido na época em que predominava o conceito português de arquitetura,  nessa cidade colonizada por açorianos.
Banhada pelo Guaíba, como Lisboa é banhada pelo Tejo, Porto Alegre lembra muito a capital portuguesa, principalmente pelo majestoso prédio do mercado público, que, durante muito tempo, teve, ao seu redor, várias casas e sobrados construídos ao estilo português. O conjunto, naquela área central do Porto Alegre, se parece bastante com o Rocio.
Não há quem não goste do mercado público. Principalmente as pessoas que gostam de comprar, respirando o ar natural, sem se sentirem presas, como se sentem nas construções modernas dos “shoppings”, onde tudo é artificial.
Tomar chope no mercado, bem arejado, sem ar condicionado, não é a mesma coisa que tomar chope no “shopping”, onde a temperatura nunca combina com a deliciosa bebida inventada pelos monges.
Levei um choque ao saber do incêndio no mercado. A primeira preocupação que tive foi com o Gambrinus, o bar dos poetas, dos jornalistas, dos escritores, dos músicos e, naturalmente, dos boêmios. Senti um talo na garganta, aquela mesma sensação que todo mundo tem, quando recebe uma notícia fúnebre.
Não consigo me imaginar sem o Gambrinus. É para lá que me dirijo quando não quero ficar sóbrio, seja em tempos sombrios de crise, seja em tempos de tresloucada alegria. É lá que contemplo a paisagem humana, composta por gente de todos os tipos e idades, que é levada ou trazida pelos motivos mais diferentes, mas sejam que motivos forem, as fazem passar por dentro do mercado, ou pelas calçadas que o cercam. Foi lá que me inspirei, para escrever várias páginas de meus romances, sempre com uma pilha de bolachas de chope na frente.

Tenho certeza de que, como eu, milhares de pessoas estão chocadas com o incêndio que destruiu parte do mercado. O golpe foi forte demais para quem ama Porto Alegre e me parece que desse golpe nem os políticos escaparam. Acredito, por isso, que a reconstrução da parte atingida será encetada imediatamente. Por dois motivos: porque não se pode permitir que a história seja destruída pelo fogo, e porque Porto Alegre não pode apresentar como cartão postal uma ruína. Deixemos isso para Roma.

Um comentário:

Gigi disse...

Admirável, cronista. Embora morando longe de Porto Alegre, hoje, graças a convites amigos, desfruto da mesma admiração ao Mercado Público, suas lojas, bares e que tais. Gambrinus, principalmente. Que tudo continue como dantes!