terça-feira, 16 de julho de 2013

DOMINADOS
João Eichbaum

Políticos sem escrúpulos (perdão pela redundância) aproveitaram a vulnerabilidade causada pela dor, para dominar os pais, familiares mais chegados e amigos das vítimas do incêndio da Boate Kiss de Santa Maria.
Quem não compreende essa dor? Quem não se apieda de pais que perdem seus filhos na flor da idade? É uma dor imensa, o sentimento é inominável. As pessoas se sentem perdidas, sem amparo, sem vontade de viver, se deixam dominar pelo desespero.
Aproveitando esse quadro miserável, políticos de Santa Maria, alijados dos postos do mando municipal, passaram a usar a dor dos que perderam seus entes queridos, para fazê-los instrumentos de ambições políticas: afastar o prefeito, que quebrou o domínio do PT naquela cidade.
Desde o primeiro momento, quando o governador Tarso Genro chegou na cidade ainda mergulhada em estupefação e lágrimas, se começou a jogar a culpa da tragédia da Kiss sobre os ombros do prefeito. Tarso Genro, que é do PT, e embora não tenha nascido em Santa Maria lá se criou, se formou, se casou e teve seus filhos,  nada falou sobre seus bombeiros, que são os responsáveis pela segurança contra o fogo, mas já foi dizendo que a prefeitura devia responder pela causa. Foi o estopim. Seus companheiros do PT apanharam a dica e foram em frente. Até a polícia seguiu a receita e indiciou o prefeito Cesar Schirmer por “homicídio culposo”, num inquérito feito de teias de aranha.
Claro que, ao examinar o inquérito, a Procuradoria da Justiça não poderia chegar a outra conclusão e pediu seu arquivamento.
Ontem os agentes do Ministério Público de Santa Maria deram por encerrado um inquérito para apurar “improbidade administrativa”, pedindo instauração da ação contra os bombeiros que tiveram participação direta ou indireta no fornecimento de alvarás.
Então, numa prova de que estão servindo de marionetes para os políticos, os familiares das vítimas da boate Kiss se mostraram decepcionados, vivendo mais uma “dor”, porque o prefeito César Schirmer não consta entre os réus  por “improbidade administrativa”.
Essa é a política perversa, que não escolhe meios para se adonar do poder, onde está o dinheiro. Fora do poder, não podendo se valer da corrupção, os políticos se valem da perversidade: usam os ingênuos, os incautos e os enfraquecidos pela dor para atingirem seus fins.


Um comentário:

Gigi disse...

Não recordo exatamente o que disse o governador em seguida à tragédia. Mas, a análise faz muito sentido, se bem que, em Santa Maria, é muito difícil se avançar nessa discussão, em que se radicalizam as opiniões. Não me refiro aos familiares das vítimas, cuja dor é de transtornar qualquer um, mas, nos termos da crônica, aos que exploram politicamente a tragédia.