31 de março de 1964
João Eichbaum
Quem mandava eram os funcionários da Carris, em Porto Alegre.
Principalmente, os motorneiros. Sem eles, os bondes não andavam, os pobres não
podiam trabalhar, nem ir consultar ou se internar na Santa Casa. A cidade parava,
o comércio não vendia, as fábricas não produziam.
O pessoal da Carris não era como elefante: eles sabiam a força que
tinham.
Detalhe: eles eram funcionários públicos, pagos pela Prefeitura. E a
empresa não tinha concorrentes.
De modo que, sem concorrência, a Carris pintava e bordava, o
pessoal ganhava quanto queria. Se a Prefeitura não chegasse ao preço deles,
dava greve.
Isso, em Porto Alegre. No Estado, havia outra organização que
mandava: A Viação Férrea do Rio Grande do Sul.
Os ferroviários, não é preciso dizer, eram mais poderosos que os
funcionários da Carris: mandavam em todo o Estado. O Estado do Rio Grande do
Sul estava na mão deles. O Estado só funcionava se eles permitissem. E eles só
permitiam o funcionamento do Estado, se o Estado pagasse o que eles queriam.
Em suma, o povo era refém dos funcionários da Carris em Porto Alegre, e
dos ferroviários em todo o Estado.
Em março de 64, o país era governado (governado, uma ova) por João
Goulart um pusilânime, que nunca trabalhou na vida, de filhinho de papai passou
a político, levado pela mão de outro que também nunca trabalhou na vida, o
Getúlio Vargas. Ambos eram fazendeiros, por herança, em São Borja.
Ambos ricos, por herança, repito, não por capacidade própria: nunca
trabalharam na vida. E tinham uma grand afinidade: a ânsia pelo poder.
Para isso, seguiram o caminho mais fácil, a demagogia.
Depois que o Getúlio, felizmente, se matou, o João Goulart seguiu o único
caminho que aprendera para seguir na política, a demagogia. Com ele no poder, o
pessoal da Carris e os ferroviários se sentiam protegidos e faziam o que
queriam: greve, a qualquer hora.
E o João Goulart gostava disso, de demagogia. E movido por demagogia, ele
incitou marinheiros e arregimentou sargentos para lhe darem respaldo, menosprezando
oficiais da marinha e do Exército.
Pediu, levou. Aí é que veio a revolução de 31 de março. Então os poltrões
fugiram e deixaram para trás os energúmenos que os seguiam. Esses, começaram a
assaltar bancos, com o fim de arrumar dinheiro para uma contra-revolução.
Então, tudo começou assim: com a violência dos bandoleiros, que eram mais
machos do que o João Goulart e o Brizola, os fujões.
O troco veio, é claro. E deu mortes, e deu gente presa e torturada. Mas
também deu assaltos e sequestros patrocinados pelos seguidores dos poltrões.
Esses últimos, os energúmenos, chegaram ao poder. Conseguiram o que
queriam: além do poder, o enriquecimento à custa de negociatas que o poder
favorece e de "indenizações" com as quais lavam a burra. Quer dizer,
metem a mão no dinheiro público sem um pingo de vergonha na cara.
Mas, não contentes com isso, agora querem vingança também. E nesse ponto
têm o apoio de considerável parte da imprensa que vive da propaganda
governamental.
Por isso é que estão festejando o fim da ditadura.
Só mais uma coisa: o fim da ditadura de Getúlio Vargas eles não comemoram
e ninguém conta quantos anos se passaram desde então.