O BAIXO ASTRAL DA JUSTIÇA
João Eichbaum
A Justiça não é mais
aquela. Ponto, e sem rima. Gradativamente, ela vem perdendo aquela majestade
que provinha do farfalho da toga. De uns tempos para cá, já não se pronuncia
com respeito a palavra juiz. Depois que alguns magistrados foram parar atrás
das grades por conta de malfeitos, outrora impensáveis debaixo da toga, a
expressão "juiz ladrão" perdeu o caráter da exclusividade nos campos
de futebol.
Nas últimas semanas, então,
as notícias sobre o Judiciário não são de banhar de lisonja a instituição, que
deveria ser o sustentáculo de todas as esperanças do povo.
Os maus fluídos vieram de
cima para baixo. Começaram no Supremo Tribunal Federal, dividindo os algozes da
Justiça entre os que vituperam os maus humores, a intransigência e a
intolerância de Joaquim Barbosa, e os que não engolem a dialética dos ministros
favoráveis aos mensaleiros.
Desse modo, o Supremo
Tribunal Federal, como um todo, instância última para todas as esperanças, se
transformou num alvo fácil de censura e desconfiança. Enquanto juízo único, a
despeito das correntes diversas que o atravessam, baixou sua cotação popular,
chegando ao pior ponto a que pode chegar um juiz de futebol, com seu ego
massacrado: conseguiu desagradar a todas as torcidas.
Na esteira dessa má fase,
temos notícias pouco alvissareiras para a segurança do povo gaúcho: uma juíza,
que atualmente responde pela Vara do Júri da capital do Estado, cobre com o
manto de sua indulgência os presos submetidos à jurisdição daquele Juizado,
libertando-os. A magistrada, com perfil de mulher atraente, elegante, bem tratada
pela natureza (benza Deus!) a que ela agrega piercings e tatuagens, já foi tema
de jornal, quando exercia suas atividades em Caxias do Sul. Liberado por ela,
um preso matou o irmão do bispo daquela cidade, num assalto. Mas, a lição não
serviu, nem para ela, nem para o Judiciário do Rio Grande do Sul
Para o promotor de Justiça
Eugênio Amorim, "ela faz um trabalho danoso, em nome de uma ideologia de
esquerda, marxista, que prega que todo mundo é vítima da sociedade".
Segundo notícias da
imprensa da capital, os presos libertados por Sonáli Zluhan - esse o nome da
meritíssima - estão fora de qualquer processo de canonização: são acusados de
homicídio, formação de quadrilha, tráfico de drogas, receptação. Com eles
soltos, aumenta-se o descrédito na Justiça, porque a formação da culpa se
pulveriza, empobrecendo a prova condenatória.
E para fechar o ciclo do
baixo astral do Judiciário, a notícia vem do Rio de Janeiro: lá se descobriu
que uma juíza ingressava na Justiça, pedindo indenização por ofensas ao seu
direito de consumidora, e ela própria se dava ganho de causa. Culpa do
estagiário, claro, que fazia as sentenças, e a magistrada se limitava a passar
sobre elas o seu jurisdicional jamegão.
Metido no arcabouço de
antanho, o Judiciário não se deu conta de que a humanidade já não é mais a
mesma do início do século XX. Resultado: descurou de qualificar sua mão de
obra. Noves fora as exceções, que confirmam a regra, claro.
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