JUSTIÇA
CEGA
João Eichbaum
A justiça nunca foi tão cega como nos
dias de hoje.
Vejam só o que aconteceu no Rio de
Janeiro: uma juíza assinava as sentenças das ações de indenização em que ela
própria era autora.
Pelo visto, a juíza é uma litigante
contumaz – para não dizer useira e vezeira: tem vinte e três ações na Justiça.
Entrou na Justiça contra uma Companhia de Telecomunicações, contra lojas,
contra Construtora e, na soma total,
recebeu um bom dinheirinho.
Como se tratava de coisas corriqueiras,
de valor baixíssimo, se comparado com os subsídios dela, a meritíssima ajuizava
seus pedidos no Juizado de Pequenas Causas, do qual era a titular.
Para quem não sabe, esse arremedo de
justiça que leva o nome de Juizado Especial, ou “pequenas causas” em linguagem
comum, funciona assim: as partes comparecem perante, um “juiz leigo”,
geralmente algum advogado mal das pernas, que não tem onde cair morto, e que
recebe uns trocados para fazer o papel de “juiz”. Esse “juiz” colhe as provas,
ouve as partes, etc. e tal e depois lança um “parecer” sobre a questão
ajuizada. Esse “parecer” é levado para o juiz de direito, togado, que, em 110%
dos casos, o adota como “sentença”.
No caso da juíza, acontecia assim: ela
comparecia na audiência como parte, e não como juíza, e lá defendia o leitinho
de suas crianças, acusando a sacanagem das empresas. Depois, como juíza,
“adotava” o “parecer do juiz leigo” como sentença.
Em sua defesa, perante o Conselho
Nacional de Justiça, ela alegou que adotava os pareceres, que lhe chegavam às
mãos entre as montanhas de outros processos. Por isso não se dava conta de que
era parte interessada.
Em parte ela tem razão. A busca pelo
Judiciário virou uma loucura. Qualquer contrariedade leva o pessoal a procurar
a Justiça. Sem falar na industrialização das grandes causas, como ações de
telefonia, poupança, FGFT, etc., que para o povo sem grana são uma loteria e
que atravancam juízos e tribunais.
Em suma, o Judiciário já não dá conta
das lides e por conta disso, sem trocadilho, os juízes largaram tudo na mão dos
assessores, secretários e estagiários. Hoje quem decide é essa gente. Os juízes
só assinam as sentenças prontas. E pífias, naturalmente – para usar o adjetivo
preferido pelo Joaquim Barbosa.
Esse caos, desencadeado pela irresponsabilidade impune dos juízes, facilita
casos como o da juíza do Rio de Janeiro, descontado, claro, o alto percentual
de sacanagem.
Mas, seja como for, já se foi o tempo em
que Justiça era coisa séria e confiável.
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