CRÕNICA MALVADA
João Eichbaum
Na véspera da ressurreição de Jesus
Cristo, fui agraciado com alguns adjetivos nada cristãos. Eu diria adjetivos que não poderiam ser musicados em
eventuais inspirações para o Aleluia.
A missivista, que me pareceu, pela
indignação demonstrada, uma senhorita de uns noventa e três anos mais ou menos,
me atribuiu desrespeito ao mencionado senhor Jesus Cristo.
Não sei donde teria ela tirado esse
suposto desrespeito. Afinal, escrevo tanto sobre esse famoso personagem que,
sem identificação do texto ou do órgão em que foi divulgado, me fogem elementos
de defesa.
Suponho, apenas suponho, que a moça
tenha se abespinhado com a crônica intitulada “Casado ou em União Estável”,
publicada na minha coluna das quartas-feiras, no jornal A Razão, de Santa
Maria.
Se assim foi, ela não interpretou
corretamente o papel do cronista. O tema principal da crônica foi um achado
arqueológico. Um papiro datado da época em que teriam sido escritos os
evangelhos, conhecido como o “evangelho da mulher de Jesus Cristo”, mencionava
alusões do dito Cristo à sua mulher, que seria também sua “discípula”.
Para emprestar coerência ao achado, o
cronista foi aos textos dos evangelhos adotados pela Igreja, que são os de
João, Mateus, Marcos e Lucas, buscando as evidências de que Jesus Cristo era um
ser humano, como qualquer um de nós. Se ele fosse deus, não teria necessidade
de acasalamento, pelo menos na visão da teologia cristã. Se não tivesse
natureza humana, o papiro estaria desmoralizado.
Entre as manifestações e emoções desse
integrante da Santíssima Trindade, a crônica salientou o mau humor e o medo, se
limitando aos textos evangélicos que revelam tal fraqueza do dito Messias.
Nada do que o cronista escreveu foi por
ele criado, pois se limitou a citar as passagens dos evangelhos que pintam
Jesus Cristo como um homem sujeito a emoções. Nada mais.
A irada missiva, portanto, não tem razão
de ser, porque não foi o cronista que escreveu os evangelhos, nem descobriu o
papiro. O cronista não passa de um metido, que não entende a falta de
racionalidade provocada pelas religiões. Só isso. Mas isso basta para que os
energúmenos se manifestem e se ponham a defender seus deuses, como se tivessem
procuração para fazê-lo.
Seja como for, tudo isso dá assunto, nem
que seja para passar o tempo.
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