quinta-feira, 24 de abril de 2014

CRÕNICA MALVADA

João Eichbaum

Na véspera da ressurreição de Jesus Cristo, fui agraciado com alguns adjetivos nada cristãos. Eu diria adjetivos que não poderiam ser musicados em eventuais inspirações para o Aleluia.
A missivista, que me pareceu, pela indignação demonstrada, uma senhorita de uns noventa e três anos mais ou menos, me atribuiu desrespeito ao mencionado senhor Jesus Cristo.
Não sei donde teria ela tirado esse suposto desrespeito. Afinal, escrevo tanto sobre esse famoso personagem que, sem identificação do texto ou do órgão em que foi divulgado, me fogem elementos de defesa.
Suponho, apenas suponho, que a moça tenha se abespinhado com a crônica intitulada “Casado ou em União Estável”, publicada na minha coluna das quartas-feiras, no jornal A Razão, de Santa Maria.
Se assim foi, ela não interpretou corretamente o papel do cronista. O tema principal da crônica foi um achado arqueológico. Um papiro datado da época em que teriam sido escritos os evangelhos, conhecido como o “evangelho da mulher de Jesus Cristo”, mencionava alusões do dito Cristo à sua mulher, que seria também sua “discípula”.
Para emprestar coerência ao achado, o cronista foi aos textos dos evangelhos adotados pela Igreja, que são os de João, Mateus, Marcos e Lucas, buscando as evidências de que Jesus Cristo era um ser humano, como qualquer um de nós. Se ele fosse deus, não teria necessidade de acasalamento, pelo menos na visão da teologia cristã. Se não tivesse natureza humana, o papiro estaria desmoralizado.
Entre as manifestações e emoções desse integrante da Santíssima Trindade, a crônica salientou o mau humor e o medo, se limitando aos textos evangélicos que revelam tal fraqueza do dito Messias.
Nada do que o cronista escreveu foi por ele criado, pois se limitou a citar as passagens dos evangelhos que pintam Jesus Cristo como um homem sujeito a emoções. Nada mais.
A irada missiva, portanto, não tem razão de ser, porque não foi o cronista que escreveu os evangelhos, nem descobriu o papiro. O cronista não passa de um metido, que não entende a falta de racionalidade provocada pelas religiões. Só isso. Mas isso basta para que os energúmenos se manifestem e se ponham a defender seus deuses, como se tivessem procuração para fazê-lo.
Seja como for, tudo isso dá assunto, nem que seja para passar o tempo.






Nenhum comentário: