MISSA POR NOSSA CONTA
João Eichbaum
O padre José de
Anchieta, aquele que recusou virgens nuas, preferindo o deleite que lhe
prometiam no céu, tem nos custado caro. Fundou a cidade de São Paulo, esse
inferno cheio de arranha-céus, que abriga multidões, políticos corruptos, crime
organizado e desorganizado e acolhe paus-de-arara que acabam engambelando todo
mundo, a ponto de, mesmo sem saber escrever uma frase, receberem o título de
“doutor honoris causa”.
O povo lá se mata trabalhando,
sofre uma barbaridade para ir de casa para o batente e do batente para casa,
quando tem onde morar, não tem direito a uma praia tranquila, sem
engarrafamento, enfrenta greves de metrô e ônibus, se rala, enfim. Mas, paga
imposto. Paga imposto, porque o padre Anchieta fundou São Paulo. Se não tivesse
catequisado os índios, se tivesse ficado lá na Europa, se não tivesse fundado o
Colégio de Piratininga, nada disso que atormenta os paulistas hoje teria
acontecido.
Agora, mais uma do
padre Anchieta: ele inventou de ser canonizado. E aí, gente boa, sobrou pra
nós. Como não existe canonização sem missa, o papa, o torcedor do San Lorenzo, que
ganhou do Grêmio, rezou uma bela missa para festejar o espetáculo da
canonização do Anchieta.
Então, sabem o que
aconteceu? O Calheiros, isso, o Renan Calheiros, o rei do gado, junto com o
Ricardo Ferraço, ambos do PMDB, se tocaram para o Vaticano, a fim de assistir à
tal de missa, representando o Congresso Nacional.
Sim, sim, como vocês
estão imaginando: a missa não nos saiu de graça. Cada um deles, além da viagem
e da estadia pagas com o nosso dinheiro, ainda vai receber nove mil reais. Não,
não me enganei: são nove mil reais, que vamos desembolsar para eles assistirem
à missa do padre Anchieta.
Viram o quanto está nos
custando o padre Anchieta?
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