sexta-feira, 23 de maio de 2014

GRAÇAS A DEUS
                          João Eichbaum
                         A maioria esmagadora das pessoas aceita com incrível facilidade a ideia da existência de um “Deus”, criador de todo o universo e dos seres animais que o habitam. Para elas, esse deus administra o mundo como um todo e a vida particular de cada um, do nascimento à morte, a que se segue o céu ou o fogo do inferno. Tudo o que acontece, na visão delas, é porque “Deus quis”.
                         Então vamos admitir que tudo o que rola no mundo é por “vontade de Deus”. Afinal, se foi ele que criou essa coisa toda, devia saber o que estava fazendo. Senão, não seria deus.
                         Só que ninguém explica cientificamente ou, pelo menos, com argumentos razoáveis, por quais razões existe uma aterradora desigualdade entre as criaturas humanas. Ou, admitindo a existência de algum deus, porque esse deus não trata igualmente a todos.
                         Ninguém é igual a ninguém. Alguns sofrem demais, outros nada sofrem. Alguns têm tudo, muitos nada têm. Alguns vivem belos e felizes, com saúde e riqueza, enquanto outros nada conhecem da vida senão o sofrimento e a miséria. Umas mulheres têm a cara da Graça Forster e outras, (graças a esse deus!) a da Gisele Bündchen.
                          Nesta semana duas odiosas notícias mostram quão imensa é a maldade humana e quão imensa é a injustiça e a indiferença desse deus  a quem os crentes atribuem a administração de todo o universo.
                           No Sudão, uma mulher foi condenada à morte porque, apesar de ser filha de pai muçulmano, casou com um cristão. Foi condenada pelo “crime de apostasia”. Graças à sua gravidez de oito meses, porém, ela gozará da “graça” de morrer só depois do nascimento da criança. Mas, nem por isso escapará de cem chibatadas antes da execução fatal, como manda a sentença daqueles “sábios” juízes.
                          Na India, um milhão e seiscentas mil pessoas vivem de catar excrementos humanos. Sim, sim, vocês não leram mal. Para viverem, porque outro trabalho não têm, essas pessoas fazem a “limpeza” de latrinas, juntando os excrementos com pá e os levando embora numa cesta, que colocam na cabeça.
                          Não precisa dizer mais, porque não há estômago que aguente.
                          E vocês sabem qual o valor do “salário” desses miseráveis? Vinte rúpias, ou seja, trinta centavos, e mais um pão, por cada limpeza.
                         Tudo, como proclamam os rituais religiosos, “graças a Deus”.
                      


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