GRAÇAS A DEUS
João Eichbaum
A maioria esmagadora das pessoas aceita com
incrível facilidade a ideia da existência de um “Deus”, criador de todo o
universo e dos seres animais que o habitam. Para elas, esse deus administra o
mundo como um todo e a vida particular de cada um, do nascimento à morte, a que
se segue o céu ou o fogo do inferno. Tudo o que acontece, na visão delas, é
porque “Deus quis”.
Então vamos admitir
que tudo o que rola no mundo é por “vontade de Deus”. Afinal, se foi ele que
criou essa coisa toda, devia saber o que estava fazendo. Senão, não seria deus.
Só que ninguém explica
cientificamente ou, pelo menos, com argumentos razoáveis, por quais razões
existe uma aterradora desigualdade entre as criaturas humanas. Ou, admitindo a
existência de algum deus, porque esse deus não trata igualmente a todos.
Ninguém é igual a
ninguém. Alguns sofrem demais, outros nada sofrem. Alguns têm tudo, muitos nada
têm. Alguns vivem belos e felizes, com saúde e riqueza, enquanto outros nada
conhecem da vida senão o sofrimento e a miséria. Umas mulheres têm a cara da
Graça Forster e outras, (graças a esse deus!) a da Gisele Bündchen.
Nesta semana duas
odiosas notícias mostram quão imensa é a maldade humana e quão imensa é a
injustiça e a indiferença desse deus a
quem os crentes atribuem a administração de todo o universo.
No Sudão, uma mulher
foi condenada à morte porque, apesar de ser filha de pai muçulmano, casou com
um cristão. Foi condenada pelo “crime de apostasia”. Graças à sua gravidez de
oito meses, porém, ela gozará da “graça” de morrer só depois do nascimento da
criança. Mas, nem por isso escapará de cem chibatadas antes da execução fatal,
como manda a sentença daqueles “sábios” juízes.
Na India, um milhão e
seiscentas mil pessoas vivem de catar excrementos humanos. Sim, sim, vocês não
leram mal. Para viverem, porque outro trabalho não têm, essas pessoas fazem a
“limpeza” de latrinas, juntando os excrementos com pá e os levando embora numa
cesta, que colocam na cabeça.
Não precisa dizer
mais, porque não há estômago que aguente.
E vocês sabem qual o
valor do “salário” desses miseráveis? Vinte rúpias, ou seja, trinta centavos, e
mais um pão, por cada limpeza.
Tudo, como proclamam os rituais
religiosos, “graças a Deus”.
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