OLHO POR OLHO
João Eichbaum
É exatamente isso que
está acontecendo em Três Passos: olho por olho, dente por dente.
O Ministério Público e
o Poder Judiciário daquela comarca estão contaminados pelo clima de revolta e
indignação que tomou conta da opinião popular de lá e de todos os recantos
deste Brasil, com a morte do menino Bernardo Uglione Boldrini.
E a primeira coisa que
se fez foi decretar a prisão temporária, por trinta dias, das pessoas que
estariam presumidamente envolvidas no crime: o pai do menino, a madrasta que
teria aplicado na criança uma injeção letal, e uma amiga dela que a teria
auxiliado.
Segundo notícias da
imprensa, a confissão teria partido dessa última, uma assistente social,
detalhando como foi morto e enterrado o menino.
Com base nesse
depoimento, a polícia pediu e obteve o decreto de prisão temporária dos três.
Do depoimento da assistente social, porém, nada consta que comprometa o pai do
menino: tudo teria sido feito por elas duas, a madrasta e ela.
Agora, veio à lume o
depoimento da madrasta, excluindo qualquer participação do pai do menino no
crime.
Em vista disso, a
defesa pediu o relaxamento da prisão do pai, o médico Leandro Boldrini.
O juízo pediu (seria
necessário, serviria para alguma coisa?) o parecer do Ministério Público. Este,
representado por uma mulher chamada Dinamárcia, disse, entre outras coisas, que
a soltura do médico representaria uma “ingenuidade”.
É claro que o juiz
indeferiu o relaxamento. Ele não iria querer passar por ingênuo. E seu
argumento então foi outro: seria uma temeridade relaxar a prisão temporária do
pai, contra o qual, até aqui, nada foi apurado.
Resumindo, minha gente,
e repetindo: o argumento da Dinamárcia (isso é lá nome de gente ou de país?)
foi “ingenuidade” e o do juiz foi “temeridade”.
É o domínio do
sentimento sobre a racionalidade. Ou, pior do que isso, o domínio da falta de
argumentos sobre a ciência do Direito.
Justiça, hoje, é o que
faz a imprensa, a opinião pública. Os juízes deviam ser dispensados,
exonerados, por serem imprestáveis, já que quem decide é a imprensa.
Juiz nenhum tem
argumento contra esse instituto medieval e, claro, inconstitucional, chamado
prisão temporária. O povo é que gosta disso: "justiçamento", olho por
olho, dente por dente. Na dúvida, para não ser tido como “ingênuo” ou
“temerário”, o juiz atropela direitos fundamentais, considera o cara culpado,
até que ele prove que é inocente. Deve ter sido isso que lhe ensinaram na
faculdade que lhe vendeu o diploma.
A vida e a liberdade
dos cidadãos, neste país, já não têm garantias: aquela, porque o Executivo não
cumpre o seu dever; essa, porque o Judiciário não conhece o Direito.
Ah, sim, e também por
falta de culhão.
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