O LULA TEM RAZÃO
João Eichbaum
A imprensa toda se alvoroçou. O "superdoutor" Lula, escorado
nos diplomas “doctor honoris causa” que recebeu mundo afora, abriu a boca em
Lisboa para declarar, impávido e descomprometido, que o julgamento do
“mensalão” foi político. E lascou percentagem: oitenta por cento político.
Ele, que escolheu, entre outros, o Joaquim Benedito Barbosa, para receber
a toga na Suprema Corte, sabe disso, tem argumentos melhores do que qualquer um
de nós.
O Lula se encontrou em Paris com o dito Barbosa, num dia qualquer.
Sorriram um para o outro, e pintou clima. O Barbosa tinha currículo. Ele
representava a cor da vez, para vestir a toga de ministro do Supremo Tribunal
Federal.
Claro que a esquizofrenia do poder arrasta muitos candidatos. Mas o nome
do Joaquim Benedito tinha ficado no bolso do casaco do Lula. E com um empurrão
do frei Betto, hoje ex-amigo do Lula, o Barbosa vestiu a toga.
Lula deve ter pensado: “ah, é assim que funciona”. E depois do Joaquim
Barbosa, chegou a vez da Carmen Lúcia. O mesmo esquema: padrinhos políticos aos
montes.
Embora desacostumado dessas coisas, o Lula se deu conta de que o Supremo
Tribunal Federal não passa de um órgão do Judiciário que vive graças aos
políticos e que, como os políticos, está sujeito a fraquezas. Que o digam os
apagões de responsabilidade que desembocam em prescrição, fazendo em pedacinhos
a esperança na Justiça.
E mais: por nunca ter folheado a Constituição, o ex-presidente ignora que
o critério para a nomeação dos ministros do Supremo é o do “notório saber
jurídico”, e não a cor da pele, nem a perereca ou o bastão reprodutor. Depois
de ter a história mostrado que a posse como ministro do Supremo Tribunal
Federal não é obra do destino, nem das luzes da ciência do Direito, ele se
convenceu de que, entre o céu e a terra, o que mais conta é a politicagem, cuja
força se enraíza nas instituições.
Então, não venham dizer que ele falou bobagem, atribuindo ao julgamento
do mensalão mais política do que Direito. A peregrinação dos candidatos a
ministro nos gabinetes dos políticos não autoriza a pensar o contrário.
Os percentuais o Lula chutou, é verdade. Mas, a partir do crasso erro de
Direito que cimentou a condenação de Henrique Pizzolato, funcionário do Banco
do Brasil, por corrupção passiva e peculato - crimes que só podem ser cometidos
por funcionários públicos - qualquer pessoa tem o direito de questionar o saber
jurídico de gente que veste toga no STF.
A afirmação do Lula faz parte do "políticamente correto". Ele
não ousaria dizer que foi um julgamento burro, que os ministros do Supremo não
souberam ler o que está escrito no § 1º do artigo 327 Código Penal:
“equipara-se a funcionário público quem exerce emprego, cargo ou função em
entidade paraestatal...)*
Suas Excelências podem erguer as mãos para o céu, por haverem sido
considerados políticos. Seria muito pior se lhes fossem atribuídas cavilações
indecorosas ou burrice.
*PS. O Banco do Brasil é empresa de economia mista e não entidade
paraestatal.
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