quarta-feira, 3 de setembro de 2014

O AVIÃO FANTASMA
                    João Eichbaum
                   

O Cessna Citation, prefixo PR-AFA, que ajuntou aos desastres cotidianos  de Santos o espetáculo insuportável da morte, enlutando a campanha eleitoral brasileira, está envolto em mistérios. De suas cinzas renasceram os sonhos de Marina Silva, a ex-candidata a freira que quer se tornar mais uma presidente desta República cavada a baioneta  por Deodoro da Fonseca.
O instinto caleidoscópico do testemunho popular afirmava que o avião tinha pegado fogo no ar. Técnicos disseram que não, que as chamas surgiram só depois do choque que o devorou: o avião entrou de bico no solo, arrancando da terra um arroto vulcânico, provavelmente com o lendário fedor de enxofre.
Os mesmos técnicos não arriscavam, só com base nas aparências, qualquer diagnóstico sobre as causas do acidente que matou sem agonia o candidato Eduardo Campos, seus assessores de comunicação, seu coordenador de campanha e os dois pilotos do avião. A solução era esperar a caixa preta, que forneceria os primeiros dados, a partir dos quais a Aeronáutica montaria suas investigações.
Não foi fácil encontrar a tal de caixa preta. Primeiro, não acharam a cabine da aeronave. Só depois de algum tempo se deram conta de que ela havia se espatifado completamente, não deixando senão pedaços de lata enterrados e estilhaços esparramados até por dentro das moradias. Quando encontraram a caixa preta, ela estava meio torta, possivelmente com avarias. Mas, não estava. Só que a expectativa foi substituída pelo assombro: a caixa não serviu para coisa nenhuma, porque as gravações nela registradas eram as de outro voo. O invencível mistério deixou de boca aberta e sem explicações a todos quantos estão habituados a lidar com aquele fatídico cofre de segredos. Ele, via de regra, não é manipulável, porque está sujeito a um mecanismo automático, que o põe em funcionamento sem operação manual. De maneira que as investigações da Aeronáutica, depois de todas essas, estão em estaca zero, com conclusões tiradas só do “achômetro”. A menos que levem a sério a piada do choque num Drone...
O enigma, que tem estorvado tudo o que se quer saber sobre o avião, esconde até o nome de seu "dono". Todos os que foram perguntados a respeito cairam fora. Um dos cogitados “donos” mora numa favela, que serve de endereço fantasma para uma peixaria não menos fantasma. O PSB, partido da Marina, diz que “não tá nem aí”, não sabe de nada.
Quem conhece a ciência do Direito sabe que o avião tem dono, sim: é a Cessna. Tendo firmado contrato de “leasing” com  uma empresa que lida com usinas de açúcar, a Cessna é a proprietária da aeronave. A empresa firmatária do “leasing”, AF Andrade, porém, tendo direito ao uso, é responsável pelo avião e por tudo quanto lhe diga respeito.

Os “contratos de gaveta”, que fizeram a aeronave passar de mão em mão, não alteram a propriedade, nem modificam as cláusulas do “leasing”. Do pontode vista do Direito é tudo claro. E a polícia sabe disso. Só que, a pretexto de procurar o “dono”, ela anda à caça de um bom motivo para cancelar o voo da candidatura de Marina Silva, que tem peso e medida: nada a ver com fantasmas.

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