O AVIÃO FANTASMA
João Eichbaum
O Cessna Citation, prefixo PR-AFA, que ajuntou aos
desastres cotidianos de Santos o
espetáculo insuportável da morte, enlutando a campanha eleitoral brasileira,
está envolto em mistérios. De suas cinzas renasceram os sonhos de Marina Silva,
a ex-candidata a freira que quer se tornar mais uma presidente desta República
cavada a baioneta por Deodoro da Fonseca.
O instinto caleidoscópico do testemunho popular
afirmava que o avião tinha pegado fogo no ar. Técnicos disseram que não, que as
chamas surgiram só depois do choque que o devorou: o avião entrou de bico no
solo, arrancando da terra um arroto vulcânico, provavelmente com o lendário
fedor de enxofre.
Os mesmos técnicos não arriscavam, só com base nas
aparências, qualquer diagnóstico sobre as causas do acidente que matou sem
agonia o candidato Eduardo Campos, seus assessores de comunicação, seu
coordenador de campanha e os dois pilotos do avião. A solução era esperar a
caixa preta, que forneceria os primeiros dados, a partir dos quais a
Aeronáutica montaria suas investigações.
Não foi fácil encontrar a tal de caixa preta.
Primeiro, não acharam a cabine da aeronave. Só depois de algum tempo se deram
conta de que ela havia se espatifado completamente, não deixando senão pedaços
de lata enterrados e estilhaços esparramados até por dentro das moradias.
Quando encontraram a caixa preta, ela estava meio torta, possivelmente com avarias. Mas, não estava. Só que a expectativa foi substituída pelo
assombro: a caixa não serviu para coisa nenhuma, porque as gravações nela
registradas eram as de outro voo. O invencível mistério deixou de boca aberta e
sem explicações a todos quantos estão habituados a lidar com aquele fatídico
cofre de segredos. Ele, via de regra, não é manipulável, porque está sujeito a
um mecanismo automático, que o põe em funcionamento sem operação manual.
De maneira que as investigações da
Aeronáutica, depois de todas essas, estão em estaca zero, com conclusões
tiradas só do “achômetro”. A menos que levem a sério a piada do choque num
Drone...
O enigma, que tem estorvado tudo o que se quer
saber sobre o avião, esconde até o nome de seu "dono". Todos os que
foram perguntados a respeito cairam fora. Um dos cogitados “donos” mora numa
favela, que serve de endereço fantasma para uma peixaria não menos fantasma. O
PSB, partido da Marina, diz que “não tá nem aí”, não sabe de nada.
Quem conhece a ciência do Direito sabe que o avião
tem dono, sim: é a Cessna. Tendo firmado contrato de “leasing” com uma
empresa que lida com usinas de açúcar, a Cessna é a proprietária da aeronave. A
empresa firmatária do “leasing”, AF Andrade, porém, tendo direito ao uso, é
responsável pelo avião e por tudo quanto lhe diga respeito.
Os “contratos de gaveta”, que fizeram a aeronave
passar de mão em mão, não alteram a propriedade, nem modificam as cláusulas do
“leasing”. Do pontode vista do Direito é tudo claro. E a polícia sabe disso. Só
que, a pretexto de procurar o “dono”, ela anda à caça de um bom motivo para
cancelar o voo da candidatura de Marina Silva, que tem peso e medida: nada a
ver com fantasmas.
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