PRECONCEITO
João Eichbaum
Hoje vi cartazes
colados em postes, onde se lia: “Não voto em quem estimula o preconceito”.
A minha conclusão
foi a seguinte: o idiota que escreveu isso aí tolera o resto, principalmente a
corrupção. Quer dizer, desde que o corrupto não seja preconceituoso, ele pode
roubar, que terá o voto do imbecil que pagou para imprimir e para colar nos
postes de Porto Alegre, contribuindo para a poluição, aquela asneira.
Por preconceito,
presumo, o cara entende ressalvas a determinados comportamentos, a partir da
raça e dos gostos sexuais.
Por exemplo, se um
afrodescendente afanar a carteira de uma pobre velhinha, derrubá-la, ferindo-a,
e sair correndo, ninguém poderá gritar outra coisa senão “ataquem esse cidadão
de cor que está correndo”.
Se duas bichas
estiveram se bolinando, se beijando em via pública, o cidadão honesto que
estiver em companhia de sua filhinha de oito anos, terá que distrair a criança
com qualquer coisa e não terá o direito de manifestar sua indignação contra os
atrevidos e provocantes homossexuais. Se o fizer, será tido como preconceituoso
e não como um pai que quer criar uma filha com dignidade e respeito.
Está indo longe demais
essa estória de “preconceito”. Há questões muito mais importantes a serem
resolvidas neste país, como saúde, segurança, educação e emprego, do que os
problemas pessoais, como a frustração pela descendência e a sexualidade mal
resolvida.
Não é a cor da pele ou
a preferência sexual que subtraem os valores de uma pessoa. Se ela souber se
comportar, se ela respeitar os valores dos outros, ela também será respeitada.
O que conta é o comportamento, a conduta no contexto social. Um negro, um
pederasta ou uma lésbica não serão menos gente se souberem ser gente. A cor e a
sexualidade não são atributos que emprestem maior valor às pessoas, mas, sim, a
dignidade dessas.
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