quarta-feira, 29 de outubro de 2014

ESTOU DE LUTO
João Eichbaum

Há uns quarenta anos atrás, enquanto ia de ônibus para o trabalho em Porto Alegre, minha distração era ler a Folha da Manhã. E meus olhos já corriam para a página certa da primeira leitura: a coluna de Janer Cristaldo.

Dele me tornei fã, desde a primeira vez que o li. Não só pela perfeição do texto, como pela segurança com que o autor focalizava qualquer assunto, destemido, direto, sem meias palavras.

Não foi preciso ir muito longe para me dar conta de que éramos gêmeos nas ideias. Outro motivo pelo qual seus textos me seduziram, naturalmente.

Em razão desse vínculo intelectual sempre tive vontade de conhecer o Janer. Mas, infelizmente, o perdi de vista, porque a Folha da Manhã desapareceu da face da terra.

Várias décadas depois, quando ele já estava em São Paulo, tive oportunidade de conhecê-lo.. E, desde então, nunca mais deixamos de nos comunicar. Não com muita frequência, é verdade. Mas as vezes  que nos encontramos foram inesquecíveis, com todos os temas regados a chope ou  vinho.

Janer sempre me incentivou, foi meu leitor, divulgou no seu blog e em outros veículos de comunicação algumas crônicas por mim assinadas.

Meus últimos chopes na companhia dele foram - estranha coincidência - num bar em frente ao Cemitério da Consolação, em São Paulo. Infelizmente ele tentou me acompanhar, mas não conseguiu. E do seu último e-mail tenho suas palavras de despedida: “João, só estou esperando o fim.”

Anteontem despediu-se da vida o meu grande irmão intelectual.

Um comentário:

Nelson dos Santos disse...

Fiquei muito triste com o passamento deste também meu amigo oculto.

Janer esperou ver suas queridas azaléias florirem neste ano e encerrou sua missão na terra.

Fez o que tinha que fazer: amou, escreveu, criticou, bebeu e viajou.
/n