sexta-feira, 15 de maio de 2015

ESCÁRNIO
João Eichbaum

A maioria absoluta dos mortais comuns deste planeta terra não entende bulhufas de arte. Muitos não seriam capazes de desenhar nem a letra “o” com um copo virado. Mas é muito difícil que, mesmo não entendendo de arte, alguém deixe de ficar embevecido diante das maravilhas eternizadas, por exemplo, na Capela Sixtina. Obras de Leonardo da Vinci, cuja aptidão está acima da de bilhões de mortais, verdadeiro deus da arte que ele é, não permitem que alguém lhe dê as costas.

Mas, o que representa a “pintura moderna” diante de trabalhos de Rembrant, Caravaggio, Michelangelo, Monet, Renoir?  Ela não passa de figuras deformadas no meio de borrões de tinta, que qualquer criança é capaz de fazer. Quadros de Picasso, por exemplo, estão sujeitos a parar no lixo, se cairem nas mãos de pessoas que sabem distinguir pinturas e borrões.

Gosto é gosto, mas pior do que admirar como arte os borrões de Pablo Picasso, é pagar 179,3 milhões de dólares pelas porcarias dele. Sim, esse é o valor pelo qual foi arrematado um quadro, onde aparecem os peitões de uma mulher maiores do que a cara dela. “Les Femmes d’Arger” (As Mulheres de Argel) é o nome daquela coisa.

Falam tanto em “direitos humanos”, como se fosse o maior dos valores que importam para a humanidade. Mas algum humano terá o direito de escarnecer da pobreza, de ignorar a fome, a doença, o desabrigo, a falta de emprego de milhões de pessoas, botando fora 179,3 milhões de dólares?

O arrematante “não foi identificado”. Tem tanta coragem esse ente puro e imponderável, que se escondeu no anonimato. Ele sabe que, se existem alguns energúmenos que o apoiam ou talvez até o invejem, há bilhões de pessoas que hão de querer o fígado dele. Malfeitor. Sim, exatamente isso: malfeitor, porque não há razão alguma para que mereça o qualificativo de benfeitor.

 Enquanto milhares de miseráveis, fugindo da desgraça, são tragados pelo mar, enquanto milhares de nepalenses dormem ao relento, passam fome, sede e dor, enquanto famintos catam lixo à procura de restos que lhes mitiguem a fome ou tiritam de frio, cobertos de jornais debaixo de marquises, um “humano” se sente no direito de ignorar toda miséria do mundo. Só a certeza de que somos todos animais pode servir de explicação para tamanho escárnio.





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