terça-feira, 26 de maio de 2015

RICHARD DAWKINS, O MESTRE

João Eichbaum

Esteve em São Paulo, proferindo palestra na semana passada e ontem em Porto Alegre, o renomado biólogo e escritor Richard Dawkins. Autor de várias obras científicas e do famoso ensaio “Deus, um delírio”, ele é chamado, comumente, o papa do ateísmo e tem cacife para isso: é um cientista e não um filósofo, conversador fiado.

A revista Veja publica, nas páginas amarelas, uma brilhante entrevista de Dawkins, salientando, entre outros, um tópico em que ele diz: “o universo e a vida têm complexidade suficiente. Não precisamos importar a complexidade inventada da teologia”.

Falou um conhecedor de causa, uma pessoa que conhece os caprichos, os segredos e as leis da natureza, ingredientes de um sistema que não foi inventado, mas apenas descoberto pelo homem. E o cientista, que trabalha esses dados, tem autoridade para dizer que a teologia é entretecida por uma complexidade  artificial, gerada na cabeça de primatas humanos.

Infalibilidade papal, céu, inferno, purgatório, pecado, santíssima trindade, trabalho puerperal de virgem foram coisas inventadas por homens que nada entendiam de ciência e que por isso enxertaram nelas uma complexidade agasalhada no irracional. A fé não passa de um fenômeno absurdo, um fruto da superstição, destituído de força para desembocar na lógica.

Por ser um cientista, Richard Dawkins tem autoridade para afirmar que não existe “Deus” e que a teologia não passa de uma invenção sem conteúdo. E assim é. Uma olhada pela história revela que a teologia, até hoje, em nada contribuiu para melhorar o mundo ou aperfeiçoar o homem. Ela até inventou Jesus Cristo, atribuindo-lhe a missão de “salvar a humanidade”, mas esse salvador até hoje não teve sucesso: o homem continua mau, como sempre foi.

Quando se observa na Basílica de São Pedro aqueles cerimoniais, aquela pompa, aquele luxo formal a que se entregam o papa, bispos, arcebispos, cardeais e todo o corpo eclesiástico, um mínimo de realismo nos leva a perguntar: para que serve tudo isso? Alguma vez a suposta divindade adorada naqueles ritos deu resposta a tudo o que se pediu a ela?


Já a obstinação no estudo, na pesquisa, no labirinto das florestas, no fundo do mar, no silêncio das bibliotecas ou na solidão dos laboratórios tem encontrado a resposta da ciência para a saúde, para o prazer de viver, e para o conforto dos homens. Pena que ainda se use a ciência para matar, como já o fez e ainda o faz a teologia.

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